Liquidação em tempo real

Leia em 3min 40s

De olho no relógio: loja da cidade de São Paulo anuncia corte nos preços de peças de vestuário como agasalhos ainda no período do inverno. - Luludi/LUZ
O comércio está preocupado e se ressente da queda de rentabilidade que a antecipação, cada vez mais acentuada, das coleções de roupas, sapatos e acessórios provoca nas suas operações, pela necessidade de liquidações também antecipadas, para girar estoque e honrar pagamentos.
 
A dinâmica, apontam alguns lojistas, também dificulta a apresentação continuada, ao longo de cada temporada, de novidades para atrair a clientela. Não se pode dizer que haverá uma rápida solução ao problema, mas alguns lojistas e fabricantes já conversam abertamente sobre o assunto.
 
O varejo e a indústria de calçados, por exemplo, se organizam para estabelecer um calendário de encontros, a partir dos quais possam chegar a um consenso sobre a melhor forma de integrar seus cronogramas. No cenário atual, o varejo do ramo, especialmente o de pequeno porte, se sente pressionado pela dinâmica dos fornecedores e suas coleções cada vez mais antecipadas. Entre as consequências, ratificam, estão a perda de rentabilidade e as liquidações antecipadas – como as que já estão anunciadas neste início de inverno.
 
Exportações – A dinâmica se tornou mais acentuado há cerca de um ano e meio pelo efeito que o câmbio e a crise internacional provocaram nas exportações brasileiras, empurrando o setor produtivo para o mercado interno, analisa Marconi Leonel Matias dos Santos, diretor superintendente da Calçados Itapuã, marca com indústria no Espírito e rede própria de 112 lojas. "A diminuição da exportação adiciona uma competição maior. E uma das variáveis que define a competição é a agilidade", afirmou o diretor.
 
Na manhã de ontem, o executivo mediou debate sobre o tema, durante seminário com fabricantes e lojistas do ramo, aberto com palestra do consultor especialista em varejo, Marcos Gouvêa de Souza (GS&MD) – "Repensando a cadeia de valor do calçado, da indústria ao consumidor". O evento aconteceu no âmbito da 44ª Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal), que termina hoje na Capital paulista, por iniciativa da Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac) e da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados).
 
Rentabilidade – A despeito das posições aparentemente antagônicas entre fabricantes e lojistas do setor, Santos interpreta que não há um conflito direto entre as partes e que é preciso aprofundar a discussão, para se trabalhar em conjunto. "A rentabilidade depende de ambos", afirmou.
 
De acordo com as entidades envolvidas na discussão, o seminário de ontem foi o primeiro encontro aberto para tratar do assunto. Francisco Santos, presidente da Couromoda, patrocinadora do seminário, em parceria com a Francal, prometeu uma segunda edição do encontro para janeiro de 2013, durante a feira que ele preside.
 
Agenda – A Abicalçados também anunciou que dará continuidade às discussões, por meio dos sindicatos, em encontros nos polos calçadistas do País. A proposta é estabelecer uma agenda comum à indústria e aos lojistas, afirmou o diretor executivo da entidade, Heitor Klein.
 
Segundo os especialistas, a discussão tem que ser segmentada, conforme o porte do varejo e também para contemplar a dimensão continental do Brasil, com suas demandas regionais. "Não dá para se ter uma posição padrão", disse o mediador Marconi.
 
O presidente da Ablac, Carlos Ajita, compartilha da análise e acrescenta que o problema da antecipação das coleções e das liquidações se acentua nas vendas do período de inverno, com menor tempo para comercialização, na comparação com o verão.
 
No círculo vicioso que se estabeleceu, o lojista se vê obrigado, até pela pressão de grandes concorrentes, a antecipar a exposição dos produtos da temporada seguinte.
 
Na platéia do seminário, a lojista paulistana Adriana Galvão, da Estúdio Ag Shoes, contou que no final de julho de 2011 – em plena comercialização da coleção de inverno – recebeu as encomendas da primavera-verão, compradas entre abril e maio daquele ano. "Se eu guardo para lançar entre setembro e outubro, os grandes varejistas já terão lançado", disse. Na mão inversa, o consumidor deixa de ir à loja se, ao longo da temporada, não encontrar novidades. Além disso, acrescenta Adriana, há a necessidade de se fazer girar o estoque, para pagar o fornecedor. Protelar as compras também é temerário, explica Adriana, por causa da logística de entrega.



Veículo: Diário do Comércio - SP


Veja também

Venda de remédios provoca divergência

A audiência pública que debateu ontem a volta da venda de remédios que não exigem receita m&e...

Veja mais
País terá 15 mi de empregos verdes

Segmento tem um leque de oportunidades que demanda diferentes formações.Preservação ambienta...

Veja mais
Dori terá planta para produtos de amendoins

Empresa transformou armazém cerealista em fábrica com capacidade para 3 mil toneladas/mês.A Dori Ali...

Veja mais
Obras em BH geram prejuízos para o varejo

O comércio varejista de Belo Horizonte amargou e continua contabilizando prejuízos com as obras em diferen...

Veja mais
Alimento é destaque na indústria

Os incentivos ao consumo doméstico e o aumento do preço das commodities no mercado externo em 2010 ajudara...

Veja mais
Ferrovias necessitam recuperação

O ex-diretor-geral da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, defendeu ontem a de...

Veja mais
Atacadistas de Minas perdem colocação em ranking nacional

Os atacadistas de Minas Gerais, que ocupavam a liderança absoluta no mercado nacional, estão perdendo espa...

Veja mais
Cigarros com sabor

Um projeto de decreto legislativo de 2010 que suspende a proibição de cigarros com sabores no Brasil est&a...

Veja mais
Aumenta o interesse em investir em pequenos e médios municípios

Não está muito longe o dia em que o número de shopping centers nas cidades do interior ultrapassar&...

Veja mais