Alta do dólar estimula Arno a reativar 4 linhas de produção

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A Arno, marca do grupo francês SEB, que tem três fábricas no Brasil, reativou duas linhas produtivas em São Paulo (SP) e duas no Recife (PE), aumentando em 15% a 20% a mão de obra nessas fábricas. "Eram linhas que perdemos para os chineses, que não utilizávamos havia dois anos, mas a atual condição do dólar permitiu a reativação", diz o gerente-comercial Francisco Casseres.

A recente desvalorização cambial favorece empresas de eletroportáteis que fabricam a maior parte de seus produtos no Brasil e podem compensar a redução de importações com incremento da manufatura nacional. Assim como a Arno, fabricantes como Mallory e Mondial se beneficiarão do enfraquecimento de importadores, mas mostram preocupação com o aumento do custo de insumos, o que pode resultar em alta de preços ao consumidor.

Na Arno, as linhas de liquidificadores, batedeiras, ventiladores e ferros de passar roupas serão os segmentos que empregarão mais mão de obra. Com isso, Casseres calcula que a empresa atinja no fim do ano 85% de produção nacional, ante 75% no primeiro trimestre. A fábrica de panelas da empresa, em São Bernardo do Campo (SP), também deve ter aumento de funcionários, por conta do novo patamar de câmbio.

Como o ambiente é desfavorável às importadoras, a empresa dobrou sua projeção de crescimento para o ano, de 5% para 10%. A companhia terá 45 lançamentos, que se somam aos 300 produtos atuais.

O grupo SEB faturou em 2011 cerca de 4 bilhões de euros (R$ 10 bilhões). A América do Sul gerou 13% da receita e o Brasil é a origem de mais da metade do negócio sul-americano. No País, a companhia emprega atualmente 1,6 mil pessoas.

O presidente do grupo espanhol Taurus, fabricante da Mallory, Àngel Riudalbàs, ressalta o aumento do custo de produção nacional, que hoje representa 65% do portfólio da empresa. "Dos componentes que utilizamos, 20% são importados e 30%, dolarizados, como o polipropileno."

Além de reduzir rentabilidade, a alta do dólar também pode resultar em menor oferta de produtos de baixo valor pela empresa. "Há produtos que, no médio e longo prazo, não será mais interessante importar", diz.

O executivo afirma que a Mallory está preparada para aumentar até 50% sua produção local. A empresa possui duas fábricas no Ceará, que empregam de 800 a mil funcionários, e em 2011 já ampliou em 65% seu parque fabril. "Fabricar localmente não é problema, mas precisamos de estabilidade cambial para planejar", afirma o executivo.

A Mallory projeta crescimento entre 20% e 25% em 2012, com 45 lançamentos. A empresa também lançou no fim de 2011 a marca Taurus, de produtos de maior valor, ainda totalmente importados. A empresa conclui na metade de 2013 plano de investimento de três anos no valor de US$ 30 milhões, que inclui aportes nas fábricas, em logística e no lançamento de novos produtos.

Para o diretor-técnico da Mondial, marca fabricada pela baiana MK Eletrodomésticos, Jacques Krause, o aumento de custos não deve se refletir imediatamente no ponto de venda. "Há uma pressão dos lojistas em segurar os preços", diz. A empresa tem 70% de produção local e nela utiliza 90% de componentes nacionais, segundo o executivo.

Ele afirma que a valorização do dólar não deve resultar em maior produção local para a Mondial. "O que importamos não tem similar nacional, então a mudança para produção local não tem como ser feita em curto espaço de tempo, pois exige grandes investimentos", diz. Mas como parte do seu plano normal de ampliação, a empresa aumentou em 16% sua área fabril em 2011, para 70 mil m², contratando 200 funcionários, num total de 1,7 mil.

A companhia entrou há dois anos nos segmentos de ferramentas e áudio e vídeo, hoje importados. "Existe uma perspectiva de produção nacional, a partir de 2013, 2014, mas não temos nada fechado", diz.

Setor

No primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2011, batedeiras tiveram um crescimento de 10%, de 700 mil para 800 mil unidades vendidas. Cafeteiras registraram alta de 15%, de 860 mil para 990 mil. Espremedores de laranja obtiveram alta de 60%, de 135 mil para 215 mil. E minifornos cresceram 30%, de 36 mil para 48 mil unidades.

Porém, a expectativa de expansão das vendas para o segmento como um todo no ano é de 5%, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros). No ano passado, foram vendidos 12 milhões de unidades de eletroportáteis.

A contribuição dos importados é de 50% do setor, segundo o presidente da Eletros, Lourival Kiçula. "Com a variação do dólar, isso pode caminhar para 60% nacional e 40% de importados", diz. Mas ele explica que a participação de estrangeiros pode ser ainda maior do que o mensurado pela entidade. "Talvez estejamos medindo um número antigo, porque entre os importados têm surgido produtos muito diferentes, que não estão entre aqueles que avaliamos", afirma.


Veículo: DCI


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