Elite não sabe vender à classe média

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A classe média deverá gastar com moda, neste ano, R$ 55,7 bilhões, mas a elite não sabe vender para essas pessoas, afirmou o sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, Renato Meirelles, na palestra de abertura da 40ª edição do Senac Moda Informação, realizada ontem na Capital paulista. "É um público que tem dinheiro. Em 2011, essa classe social movimentou R$ 1,03 trilhão. Se ela fosse um país, seria o 17º mais rico do mundo e estaria no G-20", disse o especialista. 
 
Meirelles apresentou algumas das diferenças na forma de consumo de moda pelas classes A/B e C – como também é designada a chamada nova classe média brasileira. A elite, segundo sua análise, busca uma marca por querer exclusividade; é fiel a ela e gosta de consumir o intangível. Já o novo consumidor, da classe C, quer ser incluído. "A marca, para ele, é mais um aval de selo de garantia, porque ele não pode errar na escolha", contrapôs o especialista. Por isso mesmo, esse público é mais fiel. E em vez de buscar o intangível, precisa, segundo Meirelles, de razões complementares para comprar.
 
Ao longo dos últimos dez anos, destacou o palestrante, o gasto dessas pessoas com moda registrou crescimento de 153,2%, já descontada a inflação. Elas respondem por 46% dos gastos dos brasileiros com moda, seguidos pelo público A/B (37,6%) e D/E (16,4%).
 
Relevâncias – Meirelles ilustrou, com entrevistas realizadas pelo Data Popular, a ignorância do público de alta renda sobre a realidade do consumo na classe C, com desconhecimento, por exemplo, de que eles viajam de avião e frequentam o salão de beleza. O palestrante também apresentou a análise  dos dois públicos sobre o visual de uma embalagem de pó de café, para demonstrar que a mensagem proposta pelo fabricante (visando induzir a uma associação do super-homem com a modalidade extra-forte do produto) não foi nem de longe percebida pelo consumidor da classe C. Não é diferente com a moda.
 
"O desafio para se fazer uma boa venda é traduzir os conceitos de moda para algo que seja relevante às pessoas", conceituou Meirelles. Os dados apresentados por ele mostraram acentuada dissonância na forma como os dois públicos (A/B e nova classe média) enxergam a moda. "É preciso tomar cuidado com o senso comum. Ele nos induz ao erro."
 
Pesquisa do Data Popular mostra, por exemplo, que a classe C faz propaganda boca a boca. "O entendimento de algo subjetivo não é fácil para essa mulher. Ela se interessa por moda de um jeito próprio. Na hora de consumir, se informa na rua, vendo o que as pessoas estão vestindo. Apenas 19% delas dizem que se informam antes de comprar um produto de moda. Ela quer se informar, mas não abre mão da roupa justa, da saia curta", ressalvou Meirelles.
 
Os padrões de beleza são distintos, observou Meirelles. Em vez de linda, loira, alta e magra – de acordo com a comparação do Data Popular –, a mulher classe C está mais para a passista da escola de samba, com suas curvas exuberantes. Mas atenção: ela compra em lojas de rua e também nos shoppings. Em média, exemplificou o diretor do Data Popular, a mulher da nova classe média tem 25 pares de calçados.
 
O rosto dessa consumidora, acrescentou, é majoritariamente negro – 56,2% do total das mulheres da classe média. "Não é uma questão de ser politicamente correto, mas, ou os negros se enxergam na comunicação, ou não vão comprar. O sonho da mulher negra não é ser loira e ter olhos azuis", alertou Meirelles. "Será que a moda está entendendo isso?", provocou.
 
O especialista acrescentou, a propósito, que para além da classe C, homens e mulheres negros movimentam, anualmente, R$ 673 bilhões.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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