Dona da Havaianas comprou 30% da grife carioca, com opção de compra de mais 30%, em acordo que pode chegar a R$ 130 milhões
A Osklen, criada há 23 anos pelo médico e estilista Oskar Metsavaht, é a nova aposta da Alpargatas para aumentar sua presença no mercado internacional, após o sucesso da experiência com a Havaianas. O grupo brasileiro de moda aposta na grife carioca como uma "porta de entrada" para o mercado de luxo mundial, hoje dominado por marcas de conglomerados como os franceses PPR e LVMH.
Ontem, a Alpargatas - controlada pelo grupo Camargo Corrêa - oficializou a compra de 30% de participação na Osklen. O preço pago pela empresa considerou um múltiplo de 13 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). A Alpargatas divulgou que o desembolso inicial na transação será de R$ 67,5 milhões. No entanto, o contrato firmado entre as partes garante à proprietária da Havaianas a opção de elevar sua fatia para 60% em 12 meses, o que deve fazer com que o negócio chegue ao dobro do valor.
De acordo com Márcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas, as conversas com a Osklen começaram há cerca de um ano e meio e fazem parte de uma estratégia definida pelo grupo há oito anos: a formação de um portfólio de marcas com potencial para virar "objeto de desejo". Foi com esse intuito que, além de internacionalizar a Havaianas, a Alpargatas comprou o direito de explorar as grifes esportivas Mizuno e Timberland no País.
A Osklen, porém, tem um posicionamento diferente porque, apesar de investir em um portfólio de moda casual, traz características geralmente associadas ao mercado de altíssima renda. Segundo o professor Silvio Passarelli, diretor do MBA em Gestão do Luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), a Osklen mostra uma "constância de propósitos e valores" condizente com as marcas mais desejadas do mundo. "Desde a fundação, o desenvolvimento da Osklen tem sido sólido, apesar de um tanto lento", diz Passarelli.
Expansão. Apesar de ter levado a empresa do zero a uma receita anual de quase R$ 250 milhões, Metsavaht não esconde que, sozinho, sua capacidade de expansão era limitada. Por isso, nos últimos dois anos, negociou a Osklen com grupos de moda - como o brasileiro InBrands e os franceses LVMH e PPR - e com fundos de investimento como o Gávea. As conversas não foram adiante, explica o estilista, porque o criador não estava pronto para abandonar sua "criatura".
O empresário diz que a maioria dos investidores apresentou propostas que poderiam deteriorar a imagem da marca. Segundo Metsavaht, a maior parte das empresas de moda adquiridas por fundos de investimento são grifes que "nunca decolaram" ou que se encontram em "trajetória descendente". "Não estava interessado em sair neste momento. Eu ainda acho que estou no meio do caminho da história da Osklen. Precisava de alguém com visão de médio e longo prazo."
Mesmo a partir do ano que vem, quando Metsavaht passará a ser um sócio minoritário da gigante Alpargatas, ele continuará a ter voz ativa nos rumos da Osklen. Isso porque, segundo Utsch, a fábrica da marca continuará no Rio de Janeiro, sob a batuta do fundador. Agora, as partes começam a negociar como expandir a Osklen no Brasil e lá fora sem perder a "aura" construída ao longo de duas décadas.
Utsch e Metsavaht não quiseram arriscar uma previsão sobre o potencial de crescimento da Osklen. Hoje, a empresa tem 71 lojas no País e tem presença no Japão, nos Estados Unidos, na Itália, no Uruguai e na Argentina. "Estamos nos principais polos de moda do mundo, ao lado das marcas mais conhecidas", assinala o criador da Osklen.
O ajuste de um produto segmentado a um gigante nacional deverá envolver, provavelmente, a criação de linhas secundárias para ampliar a oferta da Osklen. O "pacote" de aquisição inclui um segundo negócio de Metsavaht, a linha de bolsas e calçados New Order, que tem um posicionamento mais popular do que o da "marca-mãe".
Veículo: O Estado de S.Paulo