Em busca de solução para liquidar um passivo equivalente a 20% da próxima safra, a cadeia do café encaminhou na semana passada um pacote de sugestões que poderão viabilizar a amortização de uma dívida estimada em R$ 2 bilhões. A conversão do montante em produto físico corresponde a 7,5 milhões de sacas de 60 quilos de café ou 20% da próxima safra, estimada entre 35 e 40 milhões de sacas, e tomando como base o preço de R$ 265 a saca. Para resolver o problema do setor, o Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) pede que o pagamento da dívida seja convertido em produto físico. O pagamento seria feito com parcelas de 5% de cada produção anual e divididos em 20 anos. Procurada pela reportagem, a assessoria do ministério da Agricultura não respondeu às ligações por causa das comemorações de fim de ano.
"Os estoques do governo estão praticamente zerados. Esse tipo de pagamento seria uma forma de recomposição e ajudaria no controle dos preços em caso de quebra da safra ou preços muito altos", avalia Gilson Ximenes, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC). Segundo ele, os empréstimos via Cédula de Produto Rural (CPR) ficariam de fora da negociação.
A base de preço do café para negociação com o governo federal seria o mercado futuro na BM&F Bovespa ou CME Futures - antiga Bolsa de Nova York. "Ainda não fizemos um estudo para avaliar qual será o balizador dos preços, mas a Bolsa de Nova York seria uma opção", explica Ximenes. Ele diz que a exemplo de outras culturas, o setor pede a criação dos Contratos de Opções de Venda pública. "Pedimos R$ 1 bilhão com o preço da saca em R$ 320. Se na venda o mercado estiver melhor, o produtor não precisa entregar para o governo".
O deputado federal (DEM-MG) e presidente da Cooperativa de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), Carlos Melles, acrescenta que os produtores endividados pagam juros anuais que chegam a 20%, o que encarece ainda mais a produção. "Queremos dar um basta nessas dívidas do Funcafé e discutir uma política de garantia de produção compatível com a atualidade", explica. Segundo o deputado, o custo de produção da atual safra está em R$ 7 mil por hectare, resultando em R$ 15 bilhões de despesa na safra. "Essa safra deverá render R$ 12 bilhões. Isso prejudica o cafeicultor". Segundo a Conab, o custo variável em São Sebastião do Paraíso (MG) é de R$ 5,7 mil por hectare.
Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, revela que o fluxo de negócios no mercado físico voltou a crescer no último mês. Segundo a consultoria, 65%da safra já foi vendido. "Boa parte disso foi antecipado. O dólar valorizado ajudou a segurar os preços aqui". Para 2009, ele acredita que a safra menor pode ajudar na recuperação dos preços.
Veículo: Gazeta Mercantil