Em crise, LBR deve gerar baixa contábil no balanço do BNDES

Leia em 4min 40s

O plano do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de criar uma gigante do leite enfrenta sérios problemas. O Valor apurou que o banco estatal deve fazer uma baixa contábil da ordem de R$ 700 milhões relativa à operação da LBR - Lácteos Brasil em seu próximo balanço, a ser divulgado até março. Na prática, o BNDES assume que o investimento feito em 2011 para criar a LBR dificilmente será recuperado. Procurada, a instituição não comentou a informação.

Quando sua criação foi anunciada, em 22 de dezembro de 2010, a LBR tinha planos audaciosos de liderar e consolidar o pulverizado mercado brasileiro de lácteos. A empresa surgiu da fusão entre o laticínio Bom Gosto, do empresário gaúcho Wilson Zanatta, e a Leitbom, controlada pela Monticiano Participações - empresa que tem como acionistas a GP Investimentos e a Laep, dona da Parmalat no Brasil.

Como um dos principais acionistas da Bom Gosto, o BNDES patrocinou a criação da LBR com um aporte de R$ 700 milhões em 27 de janeiro de 2011. Do montante investido pelo banco, R$ 450 milhões entraram no caixa da LBR via aumento de capital e outros R$ 250 milhões com a subscrição de debêntures conversíveis. O banco estatal detém uma fatia de 30,28% no capital da empresa por meio de seu braço de participações, o BNDESPar.

Com a fusão entre a Bom Gosto e Leitbom, a Lácteos Brasil surgiu como uma gigante com faturamento bruto de R$ 3 bilhões, 31 fábricas, 56 mil fornecedores de leite e uma captação de cerca de 2 bilhões de litros de matéria-prima por ano - uma das três maiores do país, junto com DPA (joint venture entre Nestlé e Fonterra) e BRF - Brasil Foods.

Com dificuldades, a empresa decidiu suspender pelo menos cinco marcas e fechar 11 fábricas até 2012

À época de sua criação, os executivos da empresa tinham perspectivas bastante otimistas. Em entrevista concedida ao Valor em dezembro de 2010, o então presidente da LBR, Fernando Falco, disse que a companhia projetava atingir faturamento de R$ 4,5 bilhões em 2012, o que seria "possível de ser alcançado só utilizando a capacidade ociosa", disse o executivo. Naquele momento, a LBR detinha uma capacidade ociosa de 30% em suas fábricas.

Mas os planos da LBR fizeram água em pouco tempo. Com dificuldades para capturar as sinergias esperadas com a fusão e um emaranhado de 16 marcas, sendo 12 delas apenas de leite longa vida (UHT), a companhia pôs em curso uma estratégia que já levou à suspensão de pelo menos cinco marcas e ao fechamento de 11 fábricas até dezembro, segundo fontes familiarizadas com a empresa.

O Valor apurou que a LBR pretende fechar outras cinco fábricas, deixando só 15 unidades em operação. No meio desse caminho, a empresa chegou a negociar outra fusão, desta vez com a Parmalat italiana, empresa que foi adquirida pouco tempo depois pelo grupo francês Lactalis.

Em 2011, ano de sua criação, a LBR registrou um resultado desastroso. Conforme balanço publicado no Diário Oficial do Estado de Goiás em 20 de abril do ano passado, a empresa amargou um prejuízo líquido (atribuído aos acionistas) de R$ 305,5 milhões. No período, a receita líquida da LBR atingiu R$ 2,2 bilhões.

O mau resultado da LBR respingou no BNDES. Em 31 de dezembro de 2011, a empresa de lácteos apresentou um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) negativo e quebrou uma cláusula restritiva do contrato referente aos R$ 250 milhões adquiridos em debêntures conversíveis pelo BNDES, conforme atesta o último balanço trimestral divulgado pela Monticiano, controladora da LBR.

Pelos termos da emissão feita pela LBR, as debêntures adquiridas pelo BNDES têm seu saldo corrigido pelo IPCA e pagam juros anuais de 7,5%, acrescidos da taxa de inflação. A partir de 2016, a empresa deve pagar 20% do montante principal por ano. Os papéis vencem em 2020.

Mas o contrato de debêntures previa um "gatilho" para o pagamento antecipado dessas debêntures. Se o índice de alavancagem (a relação entre a dívida líquida e o Ebitda) da LBR ficasse acima de quatro vezes, a empresa teria de quitar antecipadamente o saldo das debêntures com o BNDES, além da multa de 10% e juros. Foi o que ocorreu no fim de 2011.

Para evitar o pagamento antecipado justamente no momento em que enfrenta problemas financeiros, a LBR fez um pedido de "waiver" - uma espécie de perdão por ter rompido o contrato - ao BNDES. A expectativa da Monticiano era que o "waiver" fosse concedido pelo banco até 31 de janeiro de 2012.

Mas o BNDES ainda não analisou o pedido. Procurado pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, o banco informou que ainda analisa o pedido de "waiver" e que não definiu um prazo para dar sua resposta à empresa.

Se os resultados de 2011 foram ruins e dispararam o "gatilho" das debêntures, os dados disponíveis sobre o ano passado trazem indícios ainda piores. Em 12 de novembro de 2012, a BNDESPar publicou seu balanço trimestral, no qual reportou que a Lácteos Brasil obteve um prejuízo de R$ 301 milhões entre janeiro e julho. Trata-se de uma perda similar à registrada em todo o ano de 2011. No documento, o BNDES já provisionava uma perda de R$ 14,7 milhões com a LBR.

Procurada diversas vezes, a LBR não quis se pronunciar. A empresa sequer informa quantas unidades possui e as que estão em operação. Também procurados, GP Investimentos, Laep e o empresário Wilson Zanatta, da Bom Gosto, não comentaram.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Alta de combustível elevará o frete rodoviário em 2,5%

Na avaliação de especialistas, aumento de5%no preço do diesel, se confirmado, será 100% repa...

Veja mais
Vigor vai investir R$ 180 milhões no Rio de Janeiro nos próximos cinco anos

Recursos serão usados na construção de centro de distribuição e de fábrica de ...

Veja mais
Plantio do algodão baiano já alcança 90%

A expectativa de área plantada divulgada pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (A...

Veja mais
Conab eleva preço mínimo de uva com maior qualidade

O produtor de uva que valorizar qualidade terá mais vantagens na safra atual e na de 2014, segundo a nova modalid...

Veja mais
Pague Menos doa ambulância

As Farmácias Pague Menos realizam hoje a quinta apuração do concurso cultural "Doação...

Veja mais
Negócios com trigo mantêm-se escassos

O mercado de trigo está parado. Tanto no Rio Grande do Sul quanto no Paraná, negócios ocorrem apena...

Veja mais
Consumidor mantém um olho na dívida, outro na liquidação

Pesquisa mostra queda de 2% na disposição para o consumo e shoppings contra-atacam abrindo a temporada de ...

Veja mais
Em novo indicador de comércio, EUA são o maior parceiro do País

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organiza&cced...

Veja mais
Auxílio-acidente não pode ser inferior ao salário mínimo

Uma notícia boa para quem recebe auxílio-acidente. Em decisão inédita, o Tribunal de Justi&c...

Veja mais