Brasileiros são destaque dos dois lados do balcão

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País chama atenção pelo poder de compra dos turistas e pelo tamanho da comitiva empresarial em convenção varejista


Os brasileiros são destaque nas duas pontas do varejo mundial: como consumidores e como vendedores. Eles não só invadiram as ruas de Nova York, carregando sacolas de compras na badalada Quinta Avenida, como também foram neste ano a maior delegação de empresários estrangeiros na mais importante convenção mundial do setor varejista, a Retail Big Show, promovida há 102 anos pela federação nacional do comércio varejista dos Estados Unidos (NRF, na sigla em inglês).

Na convenção realizada semana passada em Nova York, que reuniu 25,5 mil pessoas, mais de 1,4 mil eram brasileiros, entre os quais estavam dirigentes de companhias varejistas, de tecnologia e do setor financeiro, além de professores universitários e consultores. Eles interromperam por quase uma semana as suas rotinas no País e viraram estudantes em Nova York.

De crachá no pescoço e tablet na mão, Luiza Helena Trajano, a presidente do Magazine Luiza, uma das maiores redes de eletroeletrônicos e móveis do País, na terça-feira passada puxava a fila de entrada no primeiro ônibus fretado que partia às 7h30 do luxuoso hotel Waldorf Astoria, em Manhattan, rumo ao Jacob K. Javits Convention Center, onde ocorria o evento.

"Sou 'Caxias' sim", brincou Luiza. Ela contou que vai logo cedo para o evento e não perde nada: assiste a todas as principais palestras para identificar as novas tendências do varejo, anota tudo que lhe interessa e percorre os estandes para conhecer as tecnologias mais avançadas, que, segundo ela, não chegam tão rapidamente ao Brasil. Volta para o hotel só no fim do dia, e de ônibus, junto com o seus pares.

"Este é um bom momento para fazer networking", observou Luiza, ponderando que no evento não são fechados negócios. Mas, segundo ela, cada um "fora do seu quintal" tem mais tempo para se atualizar e pensar o varejo como setor. Há dez anos participando da convenção, Luiza contou que a ideia de criar o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), entidade representativa do setor, nasceu exatamente em Nova York, durante a feira. Foi partir de conversas de Luiza com Arthur Grynbaum, presidente do O Boticário, José Galló, presidente da Lojas Renner, e de Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, que se identificou a necessidade de ampliar a representatividade do varejo na economia brasileira.

Aliás, Rocha, atualmente presidente do IDV, é outro executivo assíduo do evento. Para ele, o grande desafio do varejo brasileiro é seguir a trajetória do setor nos EUA. "Na década de 1970, o varejo americano era coadjuvante e hoje responde por 30% do PIB (Produto Interno Bruto). O Brasil pode chegar lá", previu.

Ele observou que a fatia do setor varejista no PIB brasileiro é de 14% e cai pela metade, se for expurgado o comércio informal. No ano passado, o bom momento do varejo, que de certa forma apareceu na convenção americana, está estampado nos números. Enquanto o País teve um "pibinho", o comércio varejista deve ter crescido 8,5% sobre o ano anterior, observou Rocha.

Mas as atividades dos varejistas brasileiros em Nova York vão além do recinto da convenção. Eles fazem visitas guiadas por consultores às lojas mais inovadoras e até vão à universidade.

Neste ano, por exemplo, um grupo de 200 executivos ligados ao Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), entre os quais nomes de peso como, German Quiroga, presidente da Novapontocom, e Manoel Correa, diretor da Telhanorte, participaram de um seminário fechado no clube de Harvard. Eles foram ouvir Paco Underhill, guru do varejo, que analisa o comportamento do consumidor a partir das influências ambientais.

Brancaleone. Atrás do bom desempenho do varejo brasileiro, que desde 2009 cresce a uma taxa de cerca de 8% ao ano, consultores especializados em varejo disputam o mercado de viagens guiadas de empresários à convenção americana.

São vários grupos ligados a entidades que visitam a exposição, entre os quais estão o da Associação Comercial de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, da Associação Brasileira de Franchising, do Clube de Dirigentes Lojistas, da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos para Varejo, da Associação de Lojistas de Shoppings, etc. O pioneiro nesse segmento foi o consultor Marcos Gouvêa, sócio da GS&MD.

"Eu sou o louco que começou a fazer esse negócio", disse ele. Há 21 anos, Gouvêa contou que levava para a convenção entre 10 e 15 empresários e os obstáculos eram muitos: a língua e a logística, por exemplo. "Começamos a fazer o evento à base do Exército de Brancaleone", comparou. Naquela época, era um congresso de americanos voltado para os americanos: todas as palestras em inglês e sem tradução para o português. O Brasil nem aparecia nas estatísticas, muito menos fazia parte do grupo de palestrantes.

Diante da mudança do cenário econômico e da importância que os países emergentes ganharam, o quadro mudou. Por causa do grande número de brasileiros na feira, a piada que corria no evento era que a tradução deveria ser para o inglês. Neste ano, pela primeira vez, todas as palestras tiveram tradução simultânea para o português. Faz oito anos que sempre há uma seção dedicada ao varejo brasileiro e o tema não poderia ser outro: o consumidor emergente.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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