Pesquisa amplia os horizontes do campo

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Estado é berço de instituições que têm a missão de desenvolver estudos viáveis para a agricultura e a pecuária



Os desafios e a instabilidade de se criar e plantar a céu aberto têm sido minimizados, ano após ano, a partir de iniciativas revolucionárias da pesquisa agropecuária: cultivares mais produtivas e que incrementam qualidade dos produtos finais, animais geneticamente superiores e resistentes a doenças e adversidades climáticas, máquinas que ajudam na rotação de culturas e no aumento da produtividade. Ideias não faltam e permeiam o trabalho dos cientistas de entidades como Embrapa, que no Rio Grande do Sul conta com quatro unidades dedicadas às atividades de grande destaque em terras gaúchas: pecuária, fruticultura, uva e vinho e trigo.

A Embrapa Pecuária Sul, com sede em Bagé, tem se dedicado a uma série de iniciativas voltadas à sanidade animal, melhoramento genético e incremento de pastagens para favorecer a nutrição e aumentar a produtividade. Entre as novidades, a Campo Limpo, máquina que permite utilizar herbicidas para eliminar o capim Annoni, sem afetar as pastagens boas que crescem nas mesmas áreas, proporcionando aumento de 8% a 10% em produtividade do pasto. A unidade também atua, há anos, na identificação de raças mais resistentes a parasitas e adaptadas às condições climáticas do Rio Grande do Sul, através de cruzamentos entre raças europeias e zebuínas. “Quanto melhor adaptado o animal, mais produtivo ele será. Estamos trabalhando intensamente com exemplares mais resistentes ao carrapato e também com identificadores moleculares que sinalizam bovinos com essas características, com o objetivo de reduzir perdas e aumentar a produtividade a campo”, conta o pesquisador da  Embrapa Pecuária Sul Jorge Sant’Anna.

Os pesquisadores também realizam trabalhos intensivos de conscientização dos criadores sobre as melhores formas de manter os rebanhos isentos de tristeza parasitária bovina (TPB), através de métodos de infestação mínima pelos carrapatos. “É como um trabalho de extensão rural, feito não só sobre a TPB, mas também com orientações sobre questões básicas de manejo, muitas vezes desconhecidas por famílias de pequenos produtores”, disse o pesquisador. 

O setor tritícola é fomentado com o apoio da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, cujo foco das pesquisas está no fomento do plantio direto e em outras práticas que colaboram no aumento da produtividade do cereal. “Entre essas tecnologias, destacam-se, a diversificação de sistemas produtivos, associada à diversificação de espécies na composição desses sistemas, mediante rotação, consorciação e/ou sucessão de culturas”, afirma a pesquisadora Ana Christina Sagebin. Em 2012, a unidade recebeu
R$ 10 milhões para a pesquisa.

Novas cutivares buscam maior produtividade

O lançamento de novas cultivares de uva destinadas à produção de sucos e consumo in natura, como a variedade sem semente BRS Vitória, muito demandada pelos consumidores, é o foco da Embrapa Uva e Vinho, com sede em Bento Gonçalves. “Trata-se de uma cultivar com boa produtividade, que possibilita tirar até 30 toneladas por hectare, e que também é resistente ao míldio, fungo que ataca a folha da parreira”, explica a pesquisadora Loiva Ribeiro de Mello. Entre as variedades destinadas à produção de suco, ela destaca a RS Magna, cultivar de uva tinta, com ampla adaptação climática. “Ela produz um suco com alto conteúdo de açúcares, além de garantir alta produtividade”, diz.

Ao mesmo tempo em que trabalha com novas cultivares, os pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho se dedicam a vários estudos voltados à indicação de prodecência do vinho gaúcho. Essa iniciativa foi determinante para que o Vale dos Vinhedos recebesse, no ano passado, sua Denominação de Origem. A distinção tem como objetivo fomentar os negócios das empresas da região, pois chancela as peculiaridades do vinho produzido por lá. “Em 2002, o Vale passou a contar com a Indicação de Procedência, distinção que agora foi conquistada por outras entidades, como a Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes) e a Associação dos Produtores de Vinhos de Pinto Bandeira (Asprovinho)”, afirma o coordenador dos projetos de Indicações Geográficas da unidade, Jorge Tonietto.

Na área de fruticultura, o grande destaque fica por conta da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, que desenvolveu seis novas cultivares de oliveiras, baseadas em sementes bem adaptadas ao clima e oriundas de países da região do Mediterrâneo. “Esse trabalho se deve ao crescimento exponencial do número de olivicultores do Estado. Contamos hoje com 30 deles, número que tem crescido 100% ao ano”, conta o pesquisador Enilton Coutinho. Já as frutas cítricas sem semente têm trazido aos produtores boa lucratividade, permitindo ganhos duas a três vezes maiores do que os habituais. “Os consumidores também ganham, pois pagam bem menos pelos frutos produzidos aqui, se comparados aos importados”, diz o pesquisador Roberto de Oliveira. A pesquisa de híbridos ganha atenção especial, especialmente os que reúnem, em um fruto só, laranja e tangerina. “É o caso da ortanique, com grande aceitação pela qualidade e sabor dos frutos”, disse Oliveira.

Já uma variedade de batata especial para produção de chips e batata palha também está entre os destaques da Embrapa de Pelotas. Segundo o pesquisador Arione da Silva Pereira, a BRSIPR-Bel tem como vantagens a menor absorção de gordura e maior crocância por possuir grande quantidade de matéria seca. “Ganham os produtores que terão produto superior, em qualidade e produtividade.” Em 2012, o investimento destinado à unidade de Pelotas foi de R$ 4,7 milhões. Para este ano, devem ser investidos outros R$ 4,5 milhões.

Diversificação e sanidade são foco da pesquisa estadual

O trabalho do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) tem evoluído no sentido de garantir a diversificação da matriz produtiva. A mais recente tem permitido uma maior difusão do plantio de soja em áreas de arroz, favorecendo a rotação. Para tal, foi criada uma máquina batizada de Microcamalhão, que permite o plantio de culturas de sequeiro em áreas alagadas.

A pesquisadora do Irga Cláudia Lange explica que a máquina permite que as raízes da soja fiquem mais altas quando plantadas, assim, não sofrem com o excesso hídrico. “Essa rotação é altamente favorável, pois com a soja é possível combater o arroz vermelho e reduzir os inços típicos das lavouras de arroz”, conta Cláudia.  Os recursos do instituto para pesquisa em 2012 chegaram a R$ 12,3 milhões, de um orçamento de R$ 75 milhões.

A Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) também contribui com iniciativas como a desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), que recentemente substituiu testes diagnósticos antigos e passou a aplicar métodos baseados em ferramentas de biologia molecular. “São testes de PCR, muito mais rápidos e precisos na identificação de doenças como a raiva”, diz o pesquisador Paulo Roehe.

A novidade permite fazer testes diferenciais de doenças, fazendo com que enfermidades como a febre aftosa não sejam confundidas com outras manifestações semelhantes, tais como a rinotraqueíte e a febre catarral maligna. “Esse trabalho permite que os produtores possam ter respostas rápidas, em até 24 horas, e agir para erradicar as enfermidades e evitar perdas”, disse Roehe.


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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