Tecnologia, globalização, aumento do poder de compra das classes C e D ditam novo perfil
O comportamento do varejo mudou muito nos últimos anos. Tecnologia, globalização, aumento do poder de compra das classes C e D e constantes quedas na taxa de desemprego impactaram diretamente os hábitos de consumo da população brasileira. Minas Gerais acompanha essa evolução. O varejo no Estado cresce e tende a crescer mais a cada dia apoiado nestas mudanças que, na maioria das vezes, são benéficas para o setor.
Para a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos, diversos fatores são responsáveis pelo crescimento constante do varejo nos últimos anos. As taxas de desemprego se mantêm baixas, o poder de compra da população aumentou e o crédito está facilitado, fatores que contribuem para o crescimento do varejo, um cenário bem diverso daquele que se apresentava há 10, 30 anos", ressalta. Segundo Ana Paula Bastos, o grande gargalo do varejo hoje é a questão da mobilidade urbana. "Cada dia está mais difícil para o consumidor se deslocar dentro das grandes cidades e ele pode deixar de ir às lojas por causa do trânsito", afirma.
Segundo a economista, a globalização permite o acesso a produtos que, há alguns anos, a população não tinha. "Esse é um ponto positivo nas mudanças do varejo. As pessoas podem adquirir produtos de diferentes marcas e de diversos países, situação diferente da que ocorria outrora", aponta.
De acordo com Ana Paula Bastos, a tecnologia é outro elemento benéfico para o varejo nos dias de hoje. "A tecnologia, assim como a globalização, beneficia o varejo. Os lojistas estão informatizando os estoques, os pedidos e a nota fiscal. Exceção apenas para os microempresários, que nem sempre podem bancar todo esse aparato tecnológico", destaca a economista, que acrescenta: "Mas a cada dia diminui consideravelmente essa diferença entre os empresários que podem arcar com a tecnologia e aqueles que não podem pagar por ela."
Criado nos últimos dez anos, o conceito de "neoconsumidor" diz respeito às alterações nos hábitos de consumo e às mudanças na relação entre varejo e consumidor. Sobretudo, o termo neoconsumidor aplica-se a um consumidor digital, multicanal e global. "O consumidor hoje lida mais e melhor com a tecnologia, e o varejo já está se adaptando a essa nova modalidade de consumo", justifica Ana Paula Bastos. "Isso fica claro quando vemos a grande quantidade de lojas do varejo atuando também no mercado virtual, o e-commerce", garante.
Entretanto, Ana Paula Bastos não acredita que o brasileiro vá migrar de vez para o comércio virtual. "O brasileiro ainda precisa experimentar, ver e pegar o produto para comprar", esclarece. "Ele pode fazer pesquisa de preços e comprar pela internet, mas a loja física ainda é muito importante", considera. Portanto, ela acredita que a transição para um varejo exclusivamente virtual "vai demorar muito tempo ainda", finaliza.
Supermercados - Para o presidente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), José Nogueira, o varejo no Estado vive um bom momento. "O varejo em Minas Gerais cresceu muito, e no interior o setor está evoluindo bastante. Existem muitas mudanças em relação há alguns anos, mudanças positivas", afirma. "A interação das empresas nacionais com as multinacionais é uma experiência muito rica para as empresas daqui", acrescenta.
Segundo Nogueira, os jovens de hoje estão mais atentos às tecnologias e a utilizam cada vez mais para fazer compras. "Hoje, muitos jovens já fazem suas compras pela internet", observa. Porém, Nogueira ressalta que a inserção da tecnologia no varejo acontece de forma lenta. "Essa mudança é impressionante e se dá de maneira gradativa", afirma. "Mas sempre teremos aquele perfil de cliente que gosta de ir ao supermercado", complementa. "Inclusive, tem clientes que preferem ir fazer as compras no supermercado e pedem que elas sejam entregues em casa", exemplifica.
De acordo com Nogueira, o comércio varejista tem que se preparar para não sofrer impactos negativos com a competitividade do e-commerce. " importante ter um mix de produtos abrangente, investir em atendimento, iluminação e na melhoria da loja para não sofrer com a concorrência do mercado virtual", considera.
De acordo com Nogueira, há muitos anos o consumidor vem aprendendo a gerenciar suas próprias finanças. "O Plano Real deu estabilidade ao consumidor brasileiro. O grande beneficiado com a nova moeda não foi o empresário, foi o trabalhador, que aprendeu a administrar seu dinheiro", explica. A conseqüência disso, para Nogueira, é o aumento do poder de compra das classes C e D. Se a população consegue gerir melhor o seu salário, ganha capacidade maior de adquirir produtos", afirma.
Para o presidente da Amis, a questão das sacolas plásticas nos supermercados em Belo Horizonte demonstra como o belo-horizontino está consciente e preocupado com o meio ambiente e as questões de sustentabilidade. "O problema das sacolas plásticas, em Belo Horizonte, já está normalizado, a população já está informada e carrega sua sacola quando vai às compras", assegura. "Neste caso das sacolas plásticas, a capital mineira é um exemplo de como mudar os hábitos do consumidor e não afetar os negócios", comenta. "Além disso, a cidade serve como amostra de que os consumidores entendem a importância de se preservar o meio ambiente.".
Veículo: Diário do Comércio - MG