Empresas mineiras investem para vencer a concorrência dos produtos asiáticos

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Empresas dos polos de eletrônica do Sul do estado e de calçados, do Centro-Oeste, investem e aproveitam apoio para vencer a concorrência com produtos asiáticos


Com investimentos em tecnologia, desenho de produtos e esforço direcionado ao aumento da produtividade, as indústrias de aparelhos eletroeletrônicos de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, e os fabricantes de calçados de Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, estão driblando os concorrentes da China no mercado brasileiro. A rigor, eles ganharam capacidade de competição da porta das fábricas para dentro, mas tiveram o auxílio de medidas que oxigenaram os pulmões das plantas industriais. O chamado Vale da Eletrônica conta com diferimento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) da compra de matérias-primas à venda do produto acabado.

Na produção de calçados, está em vigência desde 2009 a taxação, hoje, de US$ 13,50 sobre cada par de calçado importado da China, como instrumento para neutralizar a prática de dumping, denunciado pela Abicalçados, instituição que representa o setor. A sobretaxa tem validade até 2014. Este é o tema da segunda reportagem do Estado de Minas que retrata a polêmica sobre a dependência do comércio de Minas da China. Outros dois segmentos da indústria mineira que poderiam entrar de vez nesse grupo que vence a investida chinesa, não fossem as desvantagens do chamado custo Brasil, são compostos das confecções de moda, roupas infantis e de uniformes profissionais, além das fábricas de tecidos de malha de Minas.

Representados na Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), são esses segmentos que se organizaram, agora, para tentar convencer o governo a agir com salvaguarda para o ramo do vestuário contra a asfixiante presença chinesa. A importação de roupas do país asiático cresceu 27 vezes nos últimos 10 anos, desde 2002, tem enfatizado o presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho, envolvido na discussão de uma proposta de regime tributário especial para a cadeia produtiva do setor. No ano passado, a indústria brasileira investiu US$ 2,2 bilhões em modernização, desenvolvimento de produtos e aumento da eficiência das fábricas, entre outras áreas, mas acabou amargando quedas de 4,6% no volume produzido de tecidos e 10,5% nas confecções, ao passo que as vendas do varejo subiram 3,4%.

“Não somos contrários à importação, mas sim contra a importação predatória, quando na China há 27 tipos de subsídios. Estamos sendo ingênuos, ao receber produtos acabados do país, enquanto exportamos a matéria-prima (algodão)”, afirma Aguinaldo Diniz. As empresas têm tentado mostrar ao governo que investem e são competitivas até o momento de emitirem a primeira nota fiscal. Resultado nefasto dessa pressão, de acordo com o presidente da Abit, foi o corte de 7.664 empregos formais no setor ano passado. “Esses empregos estão sendo sequestrados e mandados para a China”, diz.

Custos derrubam a produtividade

Ainda que a produtividade das fábricas de tecidos de malha seja superior aos indicadores dos concorrentes chineses, as empresas não conseguem vencer a diferença a mais nos custos, observa Flávio Roscoe, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas (Sindimalhas) de Minas Gerais e da Câmara do Vestuário da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Para exemplificar a desigualdade de condições na disputa de mercado, a instituição informa que estudos internacionais indicam uma despesa com a hora trabalhada dos técnicos das malharias de US$ 11,24 no Brasil e US$ 2,75 na China, portanto mais de quatro vezes.

O custo total do trabalho na fiação para malharias, no entanto, é três vezes maior na indústria nacional (US$ 0,21 por quilo) em comparação aos US$ 0,7 da empresa chinesa. No custo global de produção do fio para malharia, a disparidade persiste em 11% entre o valor de US$ 1,80 por quilo no Brasil e US$ 1,62 por quilo na China. A diferença entre os indicadores é prova da produtividade maior dos brasileiros, pressionados pela energia mais cara, defasagem cambial e os juros mais altos, conta que afeta os investimentos no setor produtivo. “O câmbio segue defasado e os outros custos de produção acabam de fazer o serviço na contramão da produção nacional”, afirma o industrial.

Escala de produção As notícias sobre o crescimento menor da China não serviram de alento para a indústria do vestuário, na medida em que o desaquecimento pode elevar a temperatura da disputa dos fabricantes chineses no Brasil buscando compensar as vendas lá com receita das exportações, lembra Michel Aburachid, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas. “Desde 2007, o consumo cresce no Brasil e as importações já respondem por 30% do total da demanda”, afirma.

De acordo com o industrial, os segmentos de produção das roupas fashion, de moda, infantins e de uniformes profissionais é que têm mantido o setor. A concorrência chinesa avança sobre a roupa clássica, com a capacidade de produzir grandes volumes, o que garante escala de produção às unidades industriais.

Diversificação

A Central Exporta Minas, braço da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, apurou 629 novos registros de produtos exportados por Minas Gerais no ano passado, conforme estatística do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Embora as alterações reflitam algumas trocas de códigos de mercadorias, elas resultam de um esforço de diversificação da pauta mineira, segundo o diretor da instituição, Ivan Barbosa Netto. Entre os itens de maior valor que passaram a ter maior participação na pauta de vendas externas mineiras estão aviões e helicópteros, máquinas eletrônicas e agronegócio. Um bom exemplo está no fato de o estado ter passado a responder por toda a exportação brasileira de gado, reprodutores de raça pura, vacas prenhas ou com cria no pé.

Opção pelo nacional

Grandes consumidoras de semicondutores de fabricação chinesa, as indústrias de eletroeletrônicos de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, ganham espaço tanto no mercado interno quanto nas exportações. No ramo de produtos de segurança eletrônica (câmeras, vídeo, alarmes, sensores e cerca elétrica), as marcas nacionais já substituíram 70% do consumo, que era movido até 2005 à base dos importados, por produtos nacionais, conforme estimativa do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicios e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel). Em radiodifusão, 95% da demanda são supridos pela produção nacional, que detêm, ainda, 65% do mercado de aparelhos de telecomunicações e informações. Nas exportações, o Vale da Eletrônica atende a 16 países, incluindo clientes nos Estados Unidos, México e Cingapura.

Há um elenco de medidas adotadas pelas empresas que explicam os bons resultados, segundo o presidente do Sindvel, Roberto Souza Pinto, mas que não poderiam desprezar o incentivo do ICMS e a consciência maior de boa parte dos consumidores brasileiros que fazem questão de um produto com assistência técnica local. Na tributação, antes do regime especial em vigência, as empresas pagavam 18% do imposto da entrada das matérias-primas, aquisição de fretes e peças à venda do produto acabado.

“Investimos muito para que o Vale da Eletrônica se transforme num polo exportador e de referência nacional”, afirma o presidente do Sindvel. Souza Pinto diz que as fábricas importam componentes sem similar nacional, sendo a maior parte originária da China, que mantém preços 35% a 40% inferiores aos dos concorrentes dos Estados Unidos e da Coreia. A importação mineira alcança cerca de US$ 900 milhões por ano.

Fatores desfavoráveis Em Nova Serrana, a evolução do câmbio e da inflação de custos da produção de calçados ajudou a acirrar as contas desfavoráveis para a indústria local. O custo da produção, que girava em torno de US$ 6,50 em 2004, ante os US$ 5,50 do calçado chinês, subiu para US$ 15, enquanto o concorrente asiático gasta na casa de US$ 7,50, destaca Júnior César Silva, sócio-proprietário da Crômic Calçados e vice-presidente do Sindicato da Indústria do Calçado do município (Sindinova).

Até a chegada da sobretaxa do produto importado da China, a saída que as indústrias encontraram para enfrentar a fome do dragão associou investimentos em desenvolvimento tecnológico, contratação de estilistas e aposta na linha de calçados femininos. O polo produtor local, que batizou a cidade como a capital dos calçados esportivos, descobriu o filão de consumo das mulheres e aprendeu a se aproveitar da moda rápida, com curto tempo de prateleira. De acordo com o Sindinova, os calçados femininos já representaram no ano passado metade da produção de 95 milhões de pares.


Veículo: Estado de Minas


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