A cotação do café abaixo dos custos de produção e a falta de expectativa de retomada dos preços estão deixando os cafeicultores de Minas Gerais apreensivos. A situação, que é considerada crítica pelos representantes da cafeicultura, incentivou a elaboração de um documento, com as principais reivindicações do setor para ser entregue à Presidência da República. O objetivo é que sejam criadas políticas efetivas que promovam a geração de renda.
De acordo com o diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das comissões de Café da Faemg e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, nos próximos dias os representantes da cafeicultura, junto com o Conselho Nacional do Café (CNC), irão buscar apoio do governo estadual e dos ministérios para que o documento seja entregue à presidente Dilma Rousseff.
" preciso que haja vontade política para que os problemas da cafeicultura sejam efetivamente resolvidos, temos todos os mecanismos disponíveis, só falta o apoio do governo federal para colocá-los em prática. A cafeicultura evoluiu muito ao longo dos anos e precisa que sejam criadas políticas de geração de renda e não só ações paliativas. Nosso objetivo é cobrar da Presidência o apoio que foi prometido durante as campanhas eleitorais", diz Mesquita.
De acordo com Mesquita, o documento foi elaborado juntamente com os sindicatos e cooperativas de produtores de Minas Gerais durante reuniões realizadas nos últimos dias. Mais de 60 sindicatos e cooperativas colaboram com a formulação da pauta.
Revisão - A prévia, elaborada em reunião na Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), lista algumas medidas como o pedido de revisão imediata do preço mínimo do café dos atuais R$ 251,69 para R$ 340 por saca de 60 quilos; a realização de leilões de contratos de opção e o retorno do programa de estoque regulador por parte do governo federal visando volume máximo de até 9 milhões de sacas em período de três anos.
Além disso, o setor também reivindica que seja liberado Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) para volume de 8 milhões de sacas com prêmio de R$ 60 por saca para preço de gatilho R$ 380 por saca, prevendo-se o primeiro leilão em agosto de 2013.
A situação da cafeicultura é considerada crítica. Além dos preços recebidos pelos produtores estarem abaixo dos custos de produção, a aproximação da colheita da safra 2013, que começa em junho, poderá acarretar em novas quedas na cotação do grão, uma vez que a oferta será novamente ampliada e a demanda da indústria é pequena.
Para o vice-presidente da Cooparaíso, no Sul de Minas, José Fichina, todas as regiões produtoras de café no Estado estão registrando prejuízos com a comercialização do grão, principalmente nas regiões montanhosas, devido ao relevo que impede a mecanização da cultura e a redução dos custos com mão de obra.
Ainda segundo Fichina, a situação é complicada para todos os cafeicultores. O café produzido em 2012 foi financiado a R$ 360 e hoje é vendido a R$ 290, valor abaixo dos custos de produção e insuficiente para quitar o financiamento. "Com este valor, o cafeicultor acumula prejuízo de R$ 70 por cada saca de 60 quilos vendida. O cenário, caso não haja interferência do governo federal, poderá se agravar ainda mais com a aproximação da colheita da próxima safra. A cafeicultura é muito importante para o Brasil e mais ainda para Minas. Somente no sul-mineiro são gerados cerca de 10 milhões de empregos e muitos municípios têm o café como exclusiva fonte de renda", ressalta.
Insumos - Outro fator que agrava a situação é a elevação dos preços dos insumos acima dos níveis registrados nas cotações do café. De acordo com o levantamento feito pela Cooparaíso, entre 1994 e 2012, os principais insumos utilizados na cafeicultura tiveram os preços reajustados muito acima dos valores recebidos pelas negociações de café.
No período, o salário mínimo subiu 1.211%, seguido pelo óleo diesel, com alta de 638%, adubo, com reajuste de 682%, energia elétrica, 483%, calcário, 467%, tratores, 447 , enquanto os preços pagos pela saca de café aumentaram apenas 230%. "Nossa esperança é que o governo faça algo que tire a cafeicultura da crise em que a mesma se encontra. Estamos reivindicando pela sobrevivência da atividade", diz Fichina.
Veículo: Diário do Comércio - MG