A fantástica fábrica de comida

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Americano ganhador do prêmio Pulitzer apresenta, em livro, investigação sobre a história e as táticas da indústria de alimentos a fim de conquistar o estômago do consumidor

O mundo está engordando. Mais da metade dos norte-americanos adultos pesa mais do que deveria. Na China, pela primeira vez há mais gente acima do peso do que abaixo; no México, o índice de obesidade triplicou nas últimas três décadas.

Para o jornalista norte-americano Michael Moss, ganhador do incensado Prêmio Pulitzer em 2010, a resposta para o fenômeno pode ser resumida em três palavras: sal, açúcar e gordura.

Esses ingredientes, segundo ele, são a fundação da indústria de processamento de alimentos, que a cada dia coloca nos supermercados toneladas de comidas deliciosas -e engordativas.

Aquelas três palavras foram usadas por Moss no título de seu livro, em que relata suas investigações sobre a indústria alimentícia: "Salt Sugar Fat", lançado há pouco nos Estados Unidos.

O subtítulo, "Como os gigantes da comida nos fisgaram", não deixa dúvida de que esse não é um livro de receitas. Também não é um texto didático de orientação alimentar, mas duvido que mesmo gordinhos praticantes não procurarão repensar sua dieta depois da leitura.

E é bem possível que a eventual conversão do leitor à alimentação saudável não se dê apenas pelas evidências científicas do mal provocado pela "junk food" mas também por revolta contra as práticas da indústria alimentícia.

MAQUINAÇÕES

Não que o livro seja um libelo inflamado; ao contrário, é pura reportagem investigativa, fruto de quatro anos de trabalho. Em suas páginas, todos têm voz: indústria, varejo, cientistas e representantes governamentais.

A história que emerge, porém, revela maquinações para seduzir o público que, não raro, vão além dos limites legais -ou morais ou éticos.

Algumas das maiores empresas do setor, aliás, chegaram à conclusão de que estavam exagerando e que poderiam ser consideradas responsáveis pela epidemia de obesidade no mundo.

Em 1999, o tema foi colocado em discussão em uma reunião secreta dos gigantes da indústria. Para alguns deles, era preciso pelo menos mostrar interesse em reduzir o potencial engordativo da comida processada.

A tentativa fracassou. No fim da apresentação, Stephen Sanger, então presidente da General Mills, disse que os consumidores compravam o que queriam e queriam o que fosse saboroso. "Não venha me falar de nutrição", disse.

CONSUMIDOR

De fato, a indústria não só oferece o que o consumidor quer mas faz com que ele queira mais. Essa magia, diz Moss, é obtida pela manipulação das quantidades de açúcar, gordura e sal para ativar nossos centros de prazer.

Mesmo com toda sua sedução e poder, a indústria foi obrigada a se adaptar às exigências de entidades de defesa do consumidor e a agentes regulamentadores.

Esses últimos, porém, se mostraram presas fáceis do lobby corporativo, formulando regras aquém do recomendado por médicos e ativistas.

Perdido no meio desse imbróglio, resta ao consumidor, segundo Moss, procurar se informar mais sobre a comida exposta nos supermercados. "Nós temos o poder de fazer escolhas. Nós decidimos o que comprar. Nós decidimos o quanto comer", diz.

Uma proclamação que parece um tanto frágil frente a todos os ardis da indústria revelados ao longo do livro.



Veículo: Folha de S.Paulo


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