Miracema testa mecanização para arroz irrigado

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Francisco Góes, de Miracema (RJ)
 

Rosa, conhecido como "Zezinho", plantou 1,7 hectare de arroz pré-germinado na atual safra no distrito rural de Paraíso do Tobias, em Miracema. Ele deverá colher no fim de janeiro, e a expectativa é de que a lavoura produza cerca de 300 sacas de 50 quilos cada. Como plantou na terra do dono da fazenda para o qual trabalha, terá de entregar ao patrão 30% da produção. Mesmo assim está satisfeito com a perspectiva de ter renda extra com o arroz para complementar o salário de R$ 315 que recebe por mês. 


Rosa é um exemplo de produtor que sempre cultivou arroz de forma manual no noroeste fluminense e que agora está conhecendo um novo sistema produtivo, apoiado na mecanização. A lavoura de Rosa integra uma área de 85 hectares plantada com arroz em Miracema nesta safra que foi preparada seguindo os mesmos critérios técnicos, o que os especialistas chamam de "sistematização". A técnica consiste em usar tratores e outros equipamentos para adequar a área e deixar o solo com declividade zero. A adequação do terreno é feita só uma vez com manutenção nos anos seguintes. O plantio é feito sempre na mesma área. 


A previsão da Secretaria da Agricultura de Miracema é de que a produtividade média na área de arroz sistematizada seja de 6,5 mil quilos por hectare, o que resultará em produção de 552 mil quilos nesta safra. Ainda há muitas áreas cultivadas pelo sistema convencional, o que deverá fazer com que a produção total de arroz em Miracema supere um milhão de quilos na safra 2008/09, que não foi afetada pelas recentes chuvas na região. "É o retorno do arroz ao município", diz o prefeito Carlos Roberto de Freitas Medeiros (PV), ele próprio um arrozeiro. 


Medeiros, que deixa o cargo em 1º de janeiro, diz que o município teve grandes safras de arroz cerca de quatro décadas atrás, mas os volumes caíram para níveis muito baixos há quatro anos, apesar das condições favoráveis ao cultivo do grão na região. Em Miracema há fontes perenes de água que inundam as várzeas por gravidade, sol e solos indicados para o plantio do arroz pré-germinado, sistema muito usado em Santa Catarina, de onde a técnica foi "importada". 


O sistema exige colocar a semente em água por período entre 24 e 36 horas. Após um descanso equivalente à sombra, a semente é lançada na terra sobre uma lámina d'água. O processo difere do cultivo com plantadeira, muito usado no Rio Grande do Sul, em que a área é plantada sem água e só depois se faz a inundação do terreno. 


José Alberto Noldin, coordenador da área de arroz irrigado da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), diz que o sistema pré-germinado oferece vantagens, entre as quais uma menor necessidade de máquinas. Eventualmente pode se fazer dois plantios por ano. O modelo também reduz o uso de água, mas é indicado para regiões com solos mais argilosos. 


A produtividade média nos arrozais catarinenses é de 7,5 mil quilos por hectare (150 sacas). Mas há municípios como Agronômica, no Alto Vale do Itajaí, em que a produtividade já atingiu até o dobro disso. Medeiros, o prefeito de Miracema, esteve lá e após análises o município comprou 15 mil quilos de sementes da variedade Epagri 109. Na safra 2006/07 foram plantados 13 hectares de arroz em área sistematizada em Miracema, número que subiu para 35 hectares na safra seguinte e atingiu 85 hectares na atual. 


Medeiros diz que com disponibilidade de maquinário a produção de arroz em Miracema poderia chegar a 600 mil sacas na safra 2014-15. Considerando-se o preço atual no Vale do Paraíba, de cerca R$ 35 por saca de arroz, a produçãono município daqui a cinco, seis anos somaria R$ 21 milhões, valor próximo ao do orçamento de Miracema hoje, de R$ 28 milhões, compara o prefeito. 


Cálculos da prefeitura indicam que para chegar a esse número Miracema precisaria dispor de mais equipamentos para preparação do solo. Nos últimos anos, a prefeitura comprou tratores, duas colheitadeiras de pequeno porte, ideais para a geografia de morros e vales da região, além de plainas a laser, para fazer o nivelamento do solo, entre outros implementos. 


Projeto de lei enviado à Câmara de Vereadores local permitiu que o produtor pague o trabalho de preparação das várzeas em duas safras em dinheiro ou produto. O secretário da Agricultura de Miracema, Mozar Carneiro, disse que 65 produtores já foram atendidos e há outros 87 aguardando. "Mostramos ao produtor que ele conseguiria produzir arroz de forma mais rentável", diz o prefeito-arrozeiro. 

 

Veículo: Valor Econômico


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