O supermercado do século XXI

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Lembra quando era preciso ficar na fila do caixa esperando o funcionário digitar, item por item, o preço dos produtos na registradora? Não faz tanto tempo assim que as etiquetas de preços deram lugar ao código de barras. O sistema agilizou não só a passagem do consumidor pelo caixa, como também influenciou toda a logística da reposição nas prateleiras.

 

O layout das lojas ganhou novos ares. Iluminação, disposição de produtos com corredores mais amplos, facilidade de acesso e boa comunicação nas gôndolas são alguns dos avanços ao longo do tempo. O carrinho de compras, considerado o cartão de visitas do setor de auto-serviço, também se modernizou. Há 20 anos, não havia a diversidade de modelos disponíveis hoje. A única diferença, naquela época, era o banquinho adaptado para crianças, sem qualquer tipo de conforto ou entretenimento se comparados aos modelos atuais. Agora, o público infantil pode virar piloto dos automóveis que acompanham o carrinho, uma maneira de oferecer uma compra tranqüila aos adultos.

 

Isso levando-se em conta apenas a parte que está visível ao cliente. Há uma diversidade de tecnologias que não são notadas dentro das lojas, mas que fazem toda a diferença para o consumidor. É o caso da velocidade de transmissão de dados, que faz parte do cotidiano das lojas, assim como a rádio freqüência, que começa a ganhar espaço nos depósitos e permite a identificação rápida dos produtos, o que ajuda a avançar, e muito, na área da logística. Juntas, essas medidas ajudam a aumentar a produtividade do setor. "Tudo isso se reverte em benefícios para o consumidor com a redução de custos e a conseqüente repercussão nos preços", destaca o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda.

 

De acordo com a entidade, basta uma conferida no item "Melhores por Índice de Eficiência" do ranking da Abras para verificar a melhoria na qualidade das empresas. O acompanhamento revela avanços significativos em todos os critérios de avaliação. Em média, as 300 maiores empresas que participaram do estudo faturaram, por funcionário, R$ 223,5 milhões em 2007, contra R$ 205,3 milhões no ano anterior; crescimento de quase 9%, percentual que salta para 17,2% quando a eficiência é medida pela relação entre faturamento e check out (caixa registradora). O faturamento das 300 maiores em 2006 chegou à média de R$ 1,5 bilhão, valor que atingiu R$ 1,8 bilhão no ano passado.

 

No quesito eficiência, que relaciona a metragem quadrada com o faturamento, houve crescimento de quase 10% na comparação de 2007 com 2006: passou de uma receita média por metro quadrado de R$ 12,3 milhões ao ano, em 2006, para R$ 13,5 milhões no ano passado. Segundo Honda, são números que refletem os investimentos dos supermercadistas para a frente de caixa. "É preciso em função da grande concorrência", afirma. Os empresários do auto-serviço investiram mais de R$ 2,6 bilhões para ampliar, reformar, construir, adquirir e melhorar os pontos-de-venda (PDV) em 2007, contra R$ 1,85 bilhão em 2006. "É preciso, cada vez mais, um modelo de gestão com foco na rapidez nas operações e uma gestão eficiente em toda a cadeia", defende Honda.

 

Para 2008, a estimativa é de encerrar o ano com um incremento de 10% nas vendas em comparação ao ano anterior. A expectativa para 2009 é positiva, mesmo com os possíveis reflexos da crise financeira internacional. O presidente da Abras acredita que o fato de ter um mercado interno forte e robusto fará o Brasil superar os pontos vulneráveis. Além disso, Honda lembra que o empresariado já enfrentou muitas crises, de hiperinflação a congelamento de preços, passando por pacotes econômicos e troca de moedas. "O mundo está globalizado e vamos sofrer as conseqüências, mas não devemos ter queda brusca nas vendas", acredita, ao estimar um crescimento próximo ao do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano que vem, algo entre 2,5% e 3%.

 

Wal-Mart reforça presença em todos os formatos de loja

 

Em tempos de supermercados modernos, as empresas investem para chegar a todos os tipos de consumidor, mesmo que para isso seja preciso abrir diferentes formatos de lojas. Dos hipermercados, com mais de 60 mil distribuídos por lojas gigantescas, a mercados de vizinhança, com pontos-de-venda menores, o Wal-Mart também aposta na presença virtual dos consumidores que preferem fazer compras a distância.

 

Por isso, a primeira colocada no ranking da Abras 2007 investe em ferramentas, como o Nacional Online, site da bandeira de supermercados com que a multinacional atua em território gaúcho. "Além da loja física completa, o cliente pode optar por escolher os produtos de casa, consultando a internet", destaca Luiz Pedro Albornoz, diretor de Reabastecimento do Wal Mart, executivo com larga experiência no ramo supermercadista.

 

O ponto-de-venda, segundo Albornoz, é justamente um dos três segmentos que mais evoluiu nos últimos anos. A iluminação e o telhado, por exemplo, passaram por adequações de forma a oferecer a melhor iluminação possível. "Se pararmos para pensar como eram as lojas há um tempo, vamos lembrar de locais mais escuros e com equipamentos antigos", assinala. Hoje, até mesmo as gôndolas são mais práticas e modernas, de forma a permitir uma melhor exposição dos produtos à venda.

 

A gestão é outro item que passou por avanços importantes. Leis entraram em vigor mudando características como a venda a granel, que foi permitida até a regulamentação alimentar entrar em vigor. "Agora é impossível vender grãos a granel, como acontecia", recorda ele. Os depósitos, cada vez mais enxutos e com estoques menores, fez com que os produtos frescos ganhassem mais espaço nas lojas, assim como o aumento da variedade de itens disponíveis. O terceiro ponto diz respeito à parceira firmada com fornecedores, que também têm interesse em manter o ponto de venda atrativo aos olhos de quem compra.

 

Eficiência no ponto-de-venda ajuda a preparar melhor o mix

 

A quantidade de produtos ao alcance da mão nas prateleiras deu um salto nos últimos anos. Mais de 60 mil itens ganham as gôndolas dos hipermercados, formato de loja que conquistou espaço dos anos 1990 para cá. O crescimento do setor veio acompanhado pelo uso mais intenso de tecnologia, em função da necessidade de lidar com dados de forma eficiente e barata. "A conseqüência foi o melhor conhecimento das transações no ponto de venda e, com isso, uma melhor preparação do mix", destaca Nuno Fouto, coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo.

 

Com o aproveitamento mais eficaz da área de venda, veio também a possibilidade de segmentar ainda mais os produtos na loja. Houve maior investimento em linhas de produtos, caso dos saudáveis, orgânicos, light, diet e outros nichos. "Essa caracterização ajuda a trabalhar melhor os diferentes grupos de clientes", explica Fouto. Além disso, a forte competição no auto-serviço acabou exigindo um esforço grande na redução de custos, de forma a baratear o preço final ao consumidor. "A maior sensibilidade do cliente hoje é pelo valor que ele paga pelo produto", argumenta o especialista, ao destacar também a importância da prestação de serviço e da qualidade dos produtos na hora de o cliente escolher em qual loja fará suas compras.

 

Características regionais precisam ser levadas em conta

 

Os gaúchos têm à disposição supermercados equipados com o que há de melhor em termos de tecnologia e equipamentos. As barreiras deixam de existir com a globalização, o que agiliza a implantação das novidades. No entanto, as ferramentas precisam levar em conta os aspectos regionais e respeitar as características do público. A advertência é do presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Longo.

 

Segundo o empresário, nem todas as novidades são bem aceitas pelo cliente. É o caso do novo carrinho de compras, cuja tecnologia foi desenvolvida nos Estados Unidos e dispensa que o consumidor passe pelo caixa pra registrar as compras. O próprio equipamento computa as compras, que são pagas com cartão. No Brasil, o teste foi feito em lojas de São Paulo. Num primeiro momento, a idéia agrada. Mas, quando o cliente se vê acompanhado, durante toda sua permanência na loja, por um funcionário, a coisa muda de figura. "A compra tem que ser um ato de prazer, por isso é preciso ter cuidado na hora de definir as melhores estratégias", defende Longo. Segundo ele, embora a tecnologia seja uma grande aliada, o cliente valoriza o "olho no olho", o contato no balcão.

 

Justamente por isso a Agas investe pesado na qualificação de mão-de-obra para o auto-serviço. Somente em 2008 a escola móvel De Olho no Futuro, uma iniciativa da entidade, capacitou o recorde de 1.791 gestores e colaboradores durante 12 meses de cursos. Os dados mostram um crescimento de 72,4% no número de certificados emitidos na comparação com 2007, quando foram qualificados 1038 profissionais do setor. "Este número pode ser ainda maior em 2009, com a criação do curso superior de Gestão em Supermercados e a manutenção dos atuais projetos", estima o presidente da entidade, ao destacar que o trabalho para o próximo ano já está em andamento.

 

Perfil do consumidor define modelo do carrinho de compras

 

O carrinho de compras é o único equipamento do supermercado que o consumidor utiliza em toda a sua estada na loja, responsável inclusive pela imagem que as pessoas terão do estabelecimento. Carrinhos que empacam, andam de lado, travam no corredor ou precisam ser empurrados com muita força para se movimentarem viram um verdadeiro tormento para o cliente, que pode até mesmo deixar de comprar em determinadas lojas que não ofereçam as condições consideradas ideais.

 

Uma pesquisa realizada por uma grande rede de supermercados mostrou que, depois da troca de carrinhos, o índice de satisfação do consumidor subiu dois pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. Para definir a quantidade e os modelos de carrinho que a loja precisa, é fundamental conhecer o consumidor e o perfil do negócio. "Supermercados, hipermercados e atacadistas têm necessidades de modelos e quantidades de carrinhos diferentes", afirma Edson Manzano, diretor da Cromo Steel, que destaca a importância de se fazer a escolha certa.

 

De acordo com Manzano, os carrinhos dependem da metragem da loja, do espaço entre os corredores e do número de check-outs (caixas registradoras). A cada mil metros quadrados, são necessários 150 carrinhos, divididos de acordo com o tipo de consumidor. Os modelos podem ser específicos para compras do mês (cesto grande), compras de passagem (dois cestos pequenos), gestantes (cesto mais alto), carrinhos com cadeira para bebê e carrinho especial para pessoas com necessidades especiais.

 

Especializada no desenvolvimento de carrinhos, a Cromo Steel desenvolve agora um modelo que poderá ganhar o mercado em 2009. Os primeiros testes do novo conceito, desenvolvido em parceria com a Riocell, ocorreram em uma loja da rede Wal-Mart em São Bernardo do Campo (SP). Trata-se do carrinho que utiliza caixas de papelão para armazenar as mercadorias. Quando passa no caixa, os produtos são transferidos para outra caixa na mesma disposição que foram acondicionados pelo consumidor. O projeto busca eliminar um dos problemas do setor na atualidade, a quantidade de sacolas plásticas que acabam sendo descartadas pelo público e vão parar nos lixões.

 

Com as caixas de papelão, será possível amenizar o impacto ambiental e gerar renda para cooperativas de catadores, pois as caixas são recicláveis. Os fornecedores poderão participar do processo, porque é possível patrocinar a iniciativa e personalizar os recipientes com o nome da empresa. "O desafio é buscar adeptos, pois estamos falando de uma mudança de cultura", afirma Manzano.

 

Nylon reforçado é uma das novidades no mercado

 

A evolução do setor supermercadista trouxe, na esteira, a modernização dos fornecedores de máquinas e equipamentos para o auto-serviço. A concorrência acirrada traz benefícios principalmente para o consumidor, que encontra novidades a sua disposição nas lojas com uma grande freqüência. Atenta a essa tendência, a Masterplastic desenvolveu dois modelos de carrinhos feitos em nylon reforçado com fibras.

 

Entre as características da novidade, o fabricante destaca a dispensa de manutenção periódica, rodízios de poliamida que facilitam o deslize, além de serem blindados o que evita o acúmulo de sujeira ou enrosco de fios que dificultam a locomoção. Os equipamentos são 100% recicláveis e vêm equipados com uma cesta específica para alimentos frescos ou gelados, como frutas, verduras e laticínios. Um dos modelos conta com uma bandeja que facilita o transporte de garrafas PET, proporcionando um melhor aproveitamento do espaço.

 

Veículo: Jornal do Comércio - RS


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