Exportação sobe e dá algum fôlego à Espanha

Leia em 4min

É uma grande distância, da ensolarada ilha de Mallorca até as ruas comerciais de Tóquio, Nova York e Montreal. Mas para a Pretty Ballerinas, fabricante espanhola familiar de sapatos que ainda produz todos os seus produtos na ilha, as exportações para mercados distantes têm sido o caminho para a salvação econômica.

Graças à sua crescente rede de lojas pelo mundo, a empresa tem conseguido anular a forte queda da demanda em seu mercado interno, afetado pela recessão.

Entre 2008 e o ano passado, período marcado pela brutal crise na economia da Espanha, o faturamento da empresa cresceu 20%. As exportações representam hoje 63% dos negócios da Pretty Ballerinas, contra 45% cinco anos atrás.

"O que acontece é que o mercado na Espanha está muito difícil e encolhendo. A demanda interna está paralisada", diz Quique Diaz, porta-voz da empresa. "O único caminho para o crescimento é fora do país. Não há outro modo".

Para muitíssimas empresas espanholas e para a economia nacional como um todo, as exportações têm emergido como um ponto brilhante num país marcado pelo desemprego crescente e pela queda livre da demanda dos consumidores, das empresas e também do governo. As exportações de materiais de construção, autopeças, vinho, têxteis, máquinas e complexos programas de computador estão em alta. Muitos dizem que a única esperança para a Espanha é sair da crise exportando.

Dados recentes mostram que a Espanha ganhou efetivamente terreno nos mercados mundiais desde o início da crise. As exportações espanholas estão, agora, crescendo mais do que as da Alemanha, a potência econômica europeia.

De acordo com as últimas previsões da Comissão Europeia, as exportações da Espanha crescerão 4,1% neste ano, o maior aumento entre todos os países da UE.

Para o governo, em apuros, de Mariano Rajoy, o sucesso das exportações do país proporciona um raro raio de esperança e representa munição política. O premiê e os que o apoiam argumentam que a alta das exportações mostra que a impopular mistura de austeridade governamental e reformas estruturais está dando certo.

Eles citam em especial a reforma do mercado de trabalho no ano passado, que tornou mais barato demitir funcionários e mais fácil para as empresas negociar acordos salariais em nível de fábrica. Autoridades dizem que isso ajudou a baixar salários num momento em que o crescente desemprego já exercia pressão sobre os salários.

"A Espanha conseguiu recuperar a competitividade perdida durante os anos do boom imobiliário", diz Jaime García-Legaz, secretário de Comércio no Ministério da Economia. "Estamos alcançando ganhos de competitividade enormes devido à moderação salarial."

Os executivos espanhóis relutam em falar publicamente sobre a erosão dos salários, mas, reservadamente, muitos admitem que ficou mais fácil extrair concessões de sua força de trabalho.

"Temos pessoas que trabalham vários meses por ano a 300 quilômetros de suas casas para manter nossas fábricas funcionando. Temos pessoas que aceitaram corte salarial de 25%. Não vemos essa flexibilidade na Alemanha ", diz um alto executivo espanhol.

Ignacio de la Torre, sócio no banco espanhol de investimentos Arcano e professor da escola de negócios IE, em Madri, diz que suas pesquisas corroboram essas evidências pontuais. "A Espanha tem uma força de trabalho muito atraente agora: um trabalhador espanhol atualmente ganha € 20 por hora, enquanto a média em toda a zona euro é € 27,50", diz. Os trabalhadores espanhóis, acrescenta, ainda são menos produtivos que os de outros países europeus, mas o diferencial é bem menor do que o desnível salarial poderia sugerir.

Embora muitas das mais bem administradas empresas espanholas há muito tempo venham tendo êxito no exterior, outras viam pouca necessidade de focar nas exportações, durante os anos de boom.

"As empresas estavam tão confortáveis, vendendo seus produtos e serviços no mercado interno, que não se interessavam pelo mercado externo", diz García-Legaz. "Isso mudou dramaticamente ".

Isso é especialmente verdadeiro para as construtoras, um dos setores mais atingidos pelo estouro da bolha imobiliária alimentada por endividamento. A carteira de pedidos da Acciona, por exemplo, mostra que mais de metade dos contratos de construção vem de fora de Espanha. Em 2007, o mercado interno representava 76%.

Em meio à euforia oficial sobre o boom exportador da Espanha, alguns analistas sugerem cautela. Eles ressaltam que a grande maioria das empresas espanholas, responsáveis pela grande maioria dos postos de trabalho, simplesmente não têm escala, produtos, conhecimentos e vigor financeiro para competir no exterior. Repercutindo um tema popular entre economistas, o BNP Paribas citou essa "dualidade da economia espanhola", em recente relatório. A conclusão foi: "A base exportadora espanhola ainda é muito pequena para compensar a queda na demanda".

A Pretty Ballerinas, apesar de produzir localmente, sempre foi focada na expansão internacional. Abriu sua primeira loja em Londres um ano antes da estreia em Madri. Mas replicar essa estratégia, especialmente para uma empresa de pequeno ou médio porte, pode não ser fácil.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

EUA dão apoio a açúcar para evitar calote de usinas

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) está expandindo um programa de exportação de aç...

Veja mais
Colheita argentina de grãos gera frustração

A produção argentina de grãos deste ano caminha rapidamente para se tornar uma frustraç&atil...

Veja mais
Vendas no varejo crescem 7,3% no mês de abril, indica confederação

As vendas no varejo cresceram 7,34% em abril na comparação com o mesmo mês do ano passado e subiram ...

Veja mais
Dia das Mães terá estoque menor neste ano

Apesar das lojas de shopping centers, que esperam obter crescimento entre 6% e 9% nas vendas em comparação...

Veja mais
Inflação da cesta básica em SP está em 0,29%

SÃO PAULO - O preço da cesta básica teve alta de 0,23% no período de 3 a 9 de maio, aponta p...

Veja mais
Pesquisa mostra que juros ao consumidor voltaram a subir

As taxas de juros ao consumidor voltaram a subir um pouco em abril, após quatro meses em queda. É o que mo...

Veja mais
Propaganda em relógios de rua é alvo de críticas

Publicidade rotativa objetiva reduzir poluição visual, diz concessionáriaEspecialistas em trâ...

Veja mais
50% aprovam publicidade nos pontos de ônibus de SP

Segundo Datafolha, paulistanos apoiam nova etapa da Lei Cidade LimpaAbrigos são tidos como ótimo ou bom po...

Veja mais
Grãos devem ter produção 41,3% menor neste ano

O relatório IBGE indica variação positiva na estimativa de produção de três pro...

Veja mais