Fraude na soja dá prejuízo de R$ 2,8 bi

Leia em 3min 50s

Operação conjunta da polícia civil, Ministério Público e Fazenda estaduais prendeu quatro empresários, um advogado e três fiscais de rendas

SÃO PAULO - Quatro empresários, um advogado e três agentes fiscais de rendas da Secretaria da Fazenda de São Paulo foram presos nesta terça feira, 21, pela Operação Yellow, que desarticulou esquema de fraude fiscal no processamento de soja, na região de Bauru (SP).

Segundo o Ministério Público, executivos do Grupo Sina teriam lesado em R$ 2,76 bilhões os cofres públicos pela criação de créditos frios de ICMS e sonegação. Outros dois suspeitos estão foragidos. Foram cumpridos 20 mandados de buscas.

A Yellow é resultado de uma investigação iniciada há 1 ano e 8 meses, envolvendo força-tarefa composta por promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual e a área de Inteligência da Fazenda.

Munidos de ordem judicial, saíram às ruas 27 promotores, 25 delegados e 100 investigadores da Polícia Civil, policiais militares e agentes da fiscalização da Fazenda.

A fraude, descoberta por fiscais da Delegacia Regional Tributária de Bauru, consistia na simulação de operações intermediárias com soja e derivados visando a geração de créditos irregulares de ICMS para os destinatários. O grupo, há pelo menos 9 anos, fazia compra e venda fictícia e remessa para indústrias do setor - expediente que gerava créditos de ICMS para abater dívidas com o Fisco.

Além da simulação de operações, houve uso de empresas de fachada, cujos quadros societários eram integrados por offshores registradas em Montevidéu, Uruguai, e sócios laranja. Essas empresas absorviam todos os débitos fiscais - que eram sonegados -, produzindo uma blindagem comercial e financeira para as empresas do setor de soja que engendraram as fraudes.

Os promotores estimam que R$ 100 milhões eram sonegados dos cofres públicos por ano. Calculam que, do total da fraude, R$ 1,6 bilhão se refere a débitos estaduais e R$ 1,1 bilhão a dívidas com a União. Os empresários e os fiscais foram indiciados por lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva e quadrilha. Eles estão em prisão temporária por cinco dias. A Justiça decretou o bloqueio de todos os ativos do grupo - parques industriais, imóveis, iates, aviões e contas bancárias.

As equipes de buscas vasculharam 30 salas do edifício que abriga a sede do Grupo Sina, na Alameda Santos, 455, nos Jardins. Foram apreendidos computadores, documentos e 4 cofres. Na casa de um empresário foram recolhidos US$ 204,9 mil. Tudo será transportado em dois caminhões para a Justiça de Bauru.

Segundo o Ministério Público, cada fiscal embolsava R$ 500 mil por operação forjada. O inspetor fiscal Walter José Guedes Júnior foi preso em seu apartamento no 17.º andar de um condomínio de luxo no Alto de Pinheiros - paga R$ 3 mil de condomínio. Ele trabalhou no Tribunal de Impostos e Taxas da Secretaria da Fazenda há cerca de 15 anos e possui patrimônio "nitidamente incompatível" com seus vencimentos - R$ 18 mil mensais. Em nome de uma empresa sua, Etérea Empreendimentos e Participações, estão dez imóveis de alto padrão.

Com Guedes, policiais civis encontraram R$ 320,8 mil em dinheiro, além de US$ 10,8 mil, 7,3 mil euros e sete barras de ouro. Na pasta de trabalho do fiscal havia R$ 17 mil em dinheiro vivo.

A Operação Yellow mobilizou rapidamente alguns dos principais e mais prestigiados criminalistas do País. O advogado Alberto Zacharias Toron, que defende os empresários do Grupo Sina, disse que ainda não tem conhecimento do teor dos autos da investigação nem das acusações imputadas a seus clientes. Anotou que advogados de seu escritório irão a Bauru para acessar a documentação. Só aí poderá se manifestar.

Roberto Podval, que defende o inspetor fiscal Walter Guedes, da Secretaria da Fazenda, também informou que não conhece o conteúdo do inquérito conduzido pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado, braço do Ministério Público. Ao ser preso em sua residência, Guedes disse, inicialmente, que o dinheiro encontrado pela força tarefa era "fruto" da locação de imóveis. Indagado por policiais se o dinheiro era de propina, ele silenciou.

O criminalista Adriano Salles Vanni, que defende outro agente fiscal de rendas, vai se pronunciar sobre o caso tão logo tenha acesso na Justiça à integra do procedimento do Ministério Público em parceria com a Secretaria da Fazenda. "Ainda não temos noção do que há de fato", ponderou Vanni.

Promotores do Gaeco destacaram a "importância extrema da operação porque mostra a necessidade de o Estado se articular para evitar que fraudes milionárias se perpetuem".



Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Marcas da BRF apoiam as Olimpíadas

A Sadia e a Batavo, anunciaram ontem, juntamente como Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraol&iacut...

Veja mais
Alta no preço dos remédios pesou no IPCA-15 de maio

O item remédios foi destacado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como o que lider...

Veja mais
Alta no campo chegará à cidade

Indústria concorda em elevar preço do litro pago ao produtor em 6,21% e Agas projeta alta de 10% no varejo...

Veja mais
Conab realiza hoje mais um leilão de venda de milho

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realiza hoje mais um leilão para a compra de 28.000 t de milho em g...

Veja mais
Leite longa vida cada dia mais raro de achar nos supermercados

Os consumidores que costumam comprar o leite em caixa, conhecido também como longa vida, estão sentindo di...

Veja mais
Abaixo-assinado quer garantir trajeto original

Proposta da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí tem apoio de 12 das 21 associa&...

Veja mais
Dia dos Namorados injetará R$ 75 mi no Grande ABC

Faltam pouco mais de 20 dias para o Dia dos Namorados e, daqui a algumas semanas, o comércio irá intensifi...

Veja mais
Emprego com carteira assinada ganha fôlego

O mercado de trabalho do Grande ABC ampliou o estoque de vagas em 8.363 empregos formais entre janeiro e abril. Esta &ea...

Veja mais
Souza Cruz aposta em novos destinos para crescer

Ao completar 110 anos de atividade em 2013, a Souza Cruz amplia o papel das exportações como uma das princ...

Veja mais