Número de trabalhadores empregados na agropecuária no Estado caiu 17% de 2003 a 2012, apesar de alta nos salários de 169% em 10 anos
Para competir com as oportunidades e o conforto da vida nas cidades, o produtor rural precisou tirar mais dinheiro do bolso nos últimos anos na hora de contratar mão de obra. De 2001 a 2011, o salário médio pago a um trabalhador do setor agropecuário teve alta de 169% no Estado.
A remuneração mais atrativa, no entanto, não foi suficiente para tornar a busca por profissionais mais bem-sucedida, especialmente os mais qualificados. Os valores ainda ficam abaixo da média de setores como serviços, comércio e construção civil (veja quadro). Salário menor, aliado à falta de infraestrutura e opções de lazer nas zonas rurais, distância da família e dificuldade de acesso à comunicação e às tecnologias do meio urbano são apontados como as principais causas da falta de interesse dos profissionais pelo campo.
Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), de 2003 a 2012 a agropecuária gaúcha viu o número de empregados, entre fixos e temporários, cair de 200 mil para 170 mil, em estimativa que inclui também uma projeção de profissionais não registrados.
– Parte importante da modernidade das cidades não está no campo. Se você vai ao interior de países como Espanha e Itália, embora existam diferenças inegáveis, não são tão acentuadas como no Brasil – afirma Marcio Pochmann, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista sobre mercado de trabalho.
A diminuição da oferta de mão de obra é um movimento já registrado em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, e em grande parte da Europa. A diferença para o Rio Grande do Sul foi a ação do governo em estruturar as áreas rurais.
– Desde 1920, temos uma trajetória de perda de trabalhadores no campo. É um processo natural, que ocorre em países que aderiram à sociedade urbana, mas no Brasil esse movimento foi mais drástico – analisa Pochmann.
Previsível ou não, a escassez é motivo de alerta para empreendedores rurais, pois, apesar da modernização das rotinas, grande parte do trabalho – especialmente em pecuária e produção de frutas e hortaliças – não pode ser substituída por máquinas.
– A pecuária avança para processos modernos, mas que não podem ser totalmente mecanizados, pois envolve o manejo diário com os animais. Inicia-se um processo crítico de falta de mão de obra, principalmente na bovinocultura de corte. Temos um quadro de ausência de pessoas no campo. E os que estão não têm formação e experiência – afirma Júlio Barcellos, professor do departamento de zootecnia da UFRGS.
A dificuldade em encontrar mão de obra habilitada para o serviço preocupa o produtor Júlio Silveira, de Uruguaiana. Na propriedade de aproximadamente 1,2 mil hectares, em que cultiva arroz e cria bovinos de corte, manter profissionais qualificados para o tratamento dos animais não tem sido fácil. Essa situação de escassez de trabalhadores forçou a diminuição no número de empregados nos últimos anos, de quatro para dois.
– Fica difícil substituir. Hoje, a vida na cidade está mais ativa, e o peão quase nunca vem com a família para o campo – afirma.
Veículo: Zero Hora - RS