Os agricultores podem voltar a encarar um novo gargalo logístico neste ano. Ao invés da dificuldade em enviar os alimentos das terras produtoras para os portos, o problema deverá estar na direção dos caminhões carregados de insumos rumo à porteira da fazenda. O alerta foi dado pelo presidente da Associação Nacional de Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Henrique Mazotini, em entrevista ao DCI. Para o distribuidor Agrocerrado, por exemplo, os pedidos até junho correspondem a apenas um terço do volume requisitado até o mesmo mês do ano passado.
Desta vez, muitos produtores têm postergado a decisão de plantio e, consequentemente, de insumos, como defensivos, fertilizantes e até sementes, por causa da queda nos preços de algumas commodities, principalmente do milho. Normalmente, os pedidos começam a ser feitos majoritariamente entre abril e maio, quando os produtores começam a planejar o tamanho da área plantada de cada cultura. Porém, até o começo de junho deste ano, os distribuidores ainda não haviam recebido pedidos significativos por parte dos produtores, segundo Mazotini.
Esse atraso, de acordo com o presidente da entidade, diminui o tempo disponível para os distribuidores comercializarem seus produtos, o que pode sobrecarregar a rede de fornecedores nos próximos meses e causar atrasos nas entrega aos agricultores.
O presidente da distribuidora mineira Agrocerrado, Luiz Antônio Moreira, também manifesta preocupação com relação aos atrasos nos pedidos.
"Nos últimos dois anos, o produtor antecipou as compras pela euforia do negócio, porque os preços das commodities estavam mais altos. No ano passado, em junho, o mercado já tinha andado 30% [do total de vendas no ano]. Neste ano, andou somente 10%", afirma o empresário.
Moreira acredita que, caso essa situação se prolongue, a rede de distribuição poderá travar em outubro, mês em que as chuvas se tornam mais constantes, há maior demanda por fertilizantes e algumas lavouras já começam a ser colhidas.
Segundo o gerente de distribuição da cooperativa paranaense Coamo, Mario Pavaneli, o produtor está mais receoso para comprar insumos para o plantio de milho. O preço do cereal tem reagido nos últimos dias e chegou a subir 8% no último mês, mas as cotações têm operado instáveis diante da perspectiva do alto volume de produção na segunda safra do grão e na possível safra recorde dos Estados Unidos.
"No ano passado, o mercado de insumos rodou mais cedo. De dezembro de 2011 até março [de 2012], junto com a colheita, foi comprado quase todo o fertilizante, e depois, de abril a maio, o resto. Então o mercado movimentou um mês antes", conta Pavaneli. No Paraná, os produtores associados à Coama só fizeram pedidos há duas semanas, quando houve a definição dos plantios de verão para milho e soja.
Moreira, da Agrocerrado, avalia que o aumento no preço dos insumos também tem dificultado o produtor em sua tomada de decisão. Em geral, o custo com insumos na região de Minas Gerais (MG) tem variado até 5%, com exceção dos fertilizantes e sementes, cujos preços subiram até 10%. No caso dos fertilizantes, que são em geral importados, a valorização do dólar colaborou para o aumento nos preços. Já os valores das sementes, que, segundo a Andav, representam em média 30% do total de custos do agricultor, têm crescido por causa da perspectiva de restrição de oferta. "O fator climático não foi propício no ano passado para a produção de semente, isso vai restringir o volume no mercado", avalia.
Para os produtores de soja do Alto Paranaíba, apenas os custos com insumos passaram de 25 sacas por hectare para 53 sacas por hectare. Para Moreira, isso está retraindo o produtor, que ainda busca enxergar qual vai ser o mercado mais rentável.
O presidente da Andav destaca ainda que, quanto mais os produtores atrasam os pedidos, mais vulneráveis à alta de preços eles estão.
Efeito dominó
Mazotini, presidente da associação, ressalta que um possível atraso nas entregas de insumos pode, em consequência, dificultar o sistema de coleta de embalagens de agrotóxicos utilizadas. "Quanto mais perto da safra, menos tempo há para distribuição, e o caminhão acaba voltando vazio da fazenda. A quebra de ciclo da logística afeta também a logística reversa", afirma.
O atraso dos produtores ainda pode prejudicar os distribuidores. "Se não pedirmos os produtos, também seguraremos o fornecedor, e teremos um gargalo de entrega para nós", teme Moreira.
Veículo: DCI