Empresários têm se arriscado mais; BNDES, Bolsa e fundos criam facilidade para conseguir financiamento na área
Oferta ultrapassando a demanda atinge especialmente cidades médias como Sorocaba, que terá seis shoppings
Dinheiro fácil pode ter inflado o número de shopping centers no interior do país, aumentando o risco de os empreendimentos fracassarem.
Segundo dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), em 2013 haverá um recorde de inaugurações de shoppings, com novos centros em 41 cidades.
Em 2014, serão mais 32. Até o fim do ano, cerca de 51% dos shoppings em operação no país estarão em cidades do interior.
Segundo consultores, há excesso de empreendimentos e novatos no negócio, atraídos pela facilidade de se conseguir financiamento, o que pode comprometer a qualidade dos centros comerciais.
Com vários IPOS (abertura de capital na Bolsa) na última década, a disseminação dos fundos imobiliários e a entrada de capital estrangeiro, várias empresas aumentaram o número de projetos e assumiram riscos maiores.
Além disso, entre 2010 e 2012, o BNDES aumentou 148% os desembolsos para o setor, chegando a R$ 859 milhões no último ano.
"Muitos dos projetos de shopping centers não terão condições de se realizar com o patamar de qualidade que os investidores estão imaginando", afirma João da Rocha Lima Jr., professor de mercado imobiliário da Poli (Escola Politécnica da USP) e dono da consultoria Unitas.
"Está havendo muita indisciplina, muita fantasia. Tem muita gente falando de shopping center sem entender como faz e, lamentavelmente, tem capital estrangeiro envolvido nisso."
Máximo Lima, sócio da HSI investimentos, gestora de fundos que atua no mercado imobiliário, afirma que há muitas cidades pequenas e médias que estão recebendo mais shoppings do que a real demanda da cidade teria capacidade de absorver.
Segundo ele, houve uma falta de critério por parte de muitos atores. "Caras que conseguiram levantar dinheiro no mercado e saíram anunciando vários shoppings, mas sem nenhuma estrutura para isso", afirma ele.
ALÉM DA CONTA
A conta aproximada, utilizada por especialistas, é que uma cidade de 150 mil habitantes comportaria um shopping médio.
Mas há casos como Sorocaba (SP), cidade de 586 mil habitantes, com quatro shoppings e com inauguração prevista para mais dois. Nessa conta, a cidade deveria ter 900 mil habitantes.
Segundo Márcia Sola, diretora do braço do Ibope dedicado às pesquisas de viabilidade de shoppings, muitos clientes se arriscam e mantém projetos mesmo quando o instituto aponta que há grande chance do empreendimento falhar.
Uma das consequências é que as grandes lojas optam por se instalar em apenas alguns shoppings.
Marcos Tadeu Marques, gerente de expansão da Riachuelo, afirma que os critérios das lojas são parecidos, o que faz que haja uma convergência para alguns centros, condenando os preteridos. "Não vi nenhum shopping sucumbir. Não deu tempo. Mas eles estão mais dispostos ao risco", afirma.
Veículo: Folha de S.Paulo