Passos mais largos na pecuária leiteira

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Pequenos pecuaristas da Zona da Mata economizam na compra de ingredientes para ração do gado. Agora pretendem vender o leite em conjunto, o que vai aumentar seu poder de negociação

Barroso e Prados – Um passo de cada vez, mas dado por todos ao mesmo tempo. Essa é a estratégia de uma central de negócios que reúne 18 pequenos produtores de leite das cidades de Barroso, Prados e Barbacena, na Zona da Mata mineira. O primeiro ganho dos associados foi o desconto médio de 15% na compra de insumos, como a soja e o fubá usados na ração do gado. A economia no custo expandiu o lucro e permitiu a alguns fazendeiros aumentar o rebanho ou adquirir maquinário para a ordenha e a lavoura.

“A união de produtores rurais resulta em trocas de experiências, estimulando o negócio de cada um”, conclui Aquino Rodrigues de Almeida, de 36 anos, presidente da central de negócios, fundada em 2008. Ele e os outros associados se prepararam para um passo maior: vender o leite em conjunto. Negociar maior volume do produto garante poder de barganha por maior preço com as empresas de laticínios da região. A tarefa, porém, não será fácil, devido à distância entre as propriedades rurais.

Mas uma estratégia em mente é a aquisição de tanques de resfriamento, na temperatura entre três e quatro graus Celsius, com capacidade para 1,6 mil litros. O desejo deles é conseguir o número suficiente de equipamentos para atender todos os integrantes – cada maquinário custa em torno de R$ 15 mil. Há três anos, o poder público doou um tanque aos fazendeiros da região. Em razão da distância entre o equipamento e as fazendas, apenas seis produtores usam o maquinário. Daí a meta de a central de negócios conseguir maquinários para todos os associados.

Quem se beneficiou do tanque consegue receber das empresas de laticínios da região

R$ 1 por litro. Os demais recebem R$ 0,78. Uma das diferenças é que o leite armazenado no equipamento permite aos caminhões buscar o alimento dia sim, dia não, economizando em combustível. Outra justificativa é que o alimento só é armazenado no tanque depois de ser conferido, num rápido teste, que dá a garantia de características que atestem qualidade ao produto. Seu Dico, apelido de Valdir José da Silva, de 46, é um dos fazendeiros beneficiados: “O equipamento nos permite uma rentabilidade maior.”

CONSULTORIA  Os pequenos agricultores e pecuaristas interessados em se unir numa central de negócios podem procurar o Sebrae Minas. Um técnico vai se reunir com os interessados e verificar a viabilidade do negócio. Uma dica importante, adianta Algeny Gomes Ferreira, analista técnica da Unidade de Mercado da entidade, é o quórum mínimo de participantes de uma central de negócios: 15 pessoas. Os interessados precisam ter capital disponível para custear o estudo sobre a viabilidade da futura entidade.

“Não há como estimar um valor, pois a cifra leva em conta despesas que variam muito entre as regiões, como o deslocamento do consultor”, explica Algeny. Na hipótese de tudo ocorrer bem, os participantes decidem se a união será formalizada numa pessoa jurídica, que pode seguir os conceitos de uma associação, cooperativa ou outra forma de PJ. “Ao longo do tempo, quando a central for lançada, eles vão criar um regimento ou um estatuto, vão analisar a possibilidade de ter uma sede própria, de criar uma marca comum para a produção”, completa a especialista.

Há, portanto, vários caminhos a serem escolhidos. Qualquer um deles, porém, tem como principal objetivo levar a central de negócios ao sucesso. “Pequenos concorrentes podem ser grandes parceiros. O mercado está cada vez mais competitivo e os pequenos agricultores e pecuaristas têm de se unir para ganhar força”, recomenda Algeny.

Escassez de mão de obra é problema


Apesar de as centrais de negócios possibilitarem vários benefícios aos agricultores e pecuaristas, como compras com desconto em razão do maior volume de pedidos, nem as entidades conseguem pôr fim a um problema que encarece a produção no campo e, claro, é repassada ao consumidor final. Trata-se da falta de mão de obra – qualificada ou não. A escassez de trabalhadores no campo, classificada por produtores e especialistas como um “apagão”, elevou o preço da diária cobrada por homens e mulheres que trabalham na colheita. Em algumas regiões, o valor quase dobrou em dois anos.

Em Varginha e cidades vizinhas, no Sul de Minas, a diária nas lavouras de café subiu de
R$ 45 em 2011 para R$ 80 em 2013 – aumento de 77,7%. Muitos produtores da cultura não podem desfrutar das colheitadeiras mecânicas, pois seus pés foram plantados em montanhas, onde a máquina não substitui o trabalho braçal. “É um problema grande que enfrentamos”, lamenta o cafeicultor Tarcísio Rabelo, presidente da Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais Ltda. (Coccamig), uma central de negócios que reúne 31 cooperativas.

O custo com a mão de obra  preocupa também associados da Coração do Vale, a central de negócios montadas por produtores de morango em Bom Repouso, no Sul do estado. A saída encontrada por alguns agricultores foi meiar parte da lavoura, como conta José Lindelino de Andrade, vice-presidente da entidade: “Fizemos uma parceria. O trabalhador fica com 40% da plantação. Eu fico com os outros 60%, mas o custo com insumos e outras despesas são meus. Como tenho 10 mil pés, cedo 4 mil”.

Uma estatística que ajuda a entender a falta de mão de obra no campo foi confirmada pelo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, a população rural no Brasil caiu de 31.835.143 homens e mulheres, em 2000, para 29.830.007 pessoas em 2010. Em caminho inverso, a urbana saltou, no mesmo período, de 137.755.550 para 160.925.792 habitantes. Enquanto a população urbana cresceu em média 1,55% ao ano, a rural caiu 0,65% ao ano.

Em Pequi, no Centro-Oeste de Minas, agricultores da Unicenter, uma central de negócios cujo carro-chefe é a produção e a comercialização de tomates, têm dificuldades em conseguir mão de obra. Lá, a diária de quem labuta na colheita também subiu. “Muitos jovens se mudaram para áreas urbanas. Estamos próximo de cidades que são importantes polos industriais, como Nova Serrana (polo de calçados), e Divinópolis (têxtil)”, diz Erasmo Douglas Duarte, da Unicenter.

“O apagão de mão de obra no meio rural se deve, entre outros motivos, ao crescimento da construção civil nas cidades”, avaliou Antônio do Carmo Neves, superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade responsável pela capacitação de produtores e trabalhadores rurais. Ele recorda que a mão de obra qualificada garante ao agricultor melhor produtividade, e consequentemente, rentabilidade (PHL).



Veículo: Estado de Minas


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