Governo estimula a importação para conter preço do feijão

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Com menor produção em 12 anos, país tem dificuldade para abastecer o mercado interno e repor estoques

Oferta restrita no exterior põe em dúvida efeitos da medida, que pouca afetará preço, afirma consultor
TATIANA FREITAS DE SÃO PAULO

A alta no preço do feijão levou o governo a suspender o Imposto de Importação sobre o produto até novembro. O objetivo é aumentar a oferta do grão, comprometida devido à menor área de plantio e à queda na produtividade.

O Brasil deve colher 2,8 milhões de toneladas de feijão nesta safra, o menor volume em 12 anos. O consumidor já sentiu os efeitos no bolso: até junho, o feijão-carioca havia subido 48%, em média, segundo o IPCA-15 (prévia do índice de inflação oficial).

Este é o segundo ano consecutivo em que o feijão é um dos vilões da inflação --reflexo de problemas climáticos e do menor interesse do produtor, que vem substituindo a cultura por soja e milho.

Neste ano, a área plantada de feijão vai totalizar 3 milhões de hectares no país, a menor registrada desde o início da série histórica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em 1976.

A seca e a incidência de pragas comprometeram a primeira e a segunda safras, já encerradas. A esperança é a terceira, em sua maior parte é irrigada, que começará a ser colhida em julho.

Ainda que a produtividade seja boa, a quantidade de feijão disponível neste ano ficará perto do consumo potencial do país, de 3,5 milhões de toneladas. A falta de margem entre a oferta e a demanda deixará os estoques em nível preocupante, o que estimulou a suspensão do imposto de importação.

Segundo a Conab, o Brasil encerrará a atual safra com 167 mil toneladas em estoque. Há dois anos, o país tinha 700 mil toneladas estocadas.

Para Vlamir Brandalizze, consultor especializado no setor, a medida não aumentará a oferta de feijão e terá efeito nulo sobre os preços. O motivo: há pouca disponibilidade também no exterior.

"A Argentina teve uma forte quebra de safra, e, na China, os produtores também estão reduzindo a área em favor do milho. Os preços externos também devem subir", disse.

De acordo com Brandalizze, a saca de feijão-preto, que responde quase pelo total de importações, hoje chega ao porto de Paranaguá (PR) a US$ 80 (R$ 180). Ontem, o feijão-carioca saía das lavouras brasileiras a US$ 95 (R$ 214), em média, segundo a pesquisa da Folha.

"Quem fechar contratos agora só venderá esse produto de 60 a 90 dias e competirá com o nacional", diz.

Para ele, a medida pode provocar um novo desestímulo ao plantio da primeira safra no próximo ano.



Veículo: Folha de S.Paulo


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