Para Jorge Karl, custo fora das fazendas torna os produtos menos competitivos
A falta de estratégias, aliada à infraestrutura e logística precárias, vem travando a expansão do agronegócio no país. De acordo com especialistas ligados ao setor, que participaram ontem do 12º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo, a demanda pelos produtos oriundos do agronegócio brasileiro é crescente mundialmente, porém os entraves internos impedem a expansão da atividade.
A burocracia e a morosidade das decisões do governo federal também contribuem para a perda da competitividade do setor. As questões trabalhistas e ambientais são outros entraves que, na visão dos especialistas, devem ser revistos e adaptados à realidade do setor.
Para o diretor-presidente da Cooperativa Agrária Agroindustrial, Jorge Karl, o Brasil está perdendo grandes oportunidades de expandir a atuação no cenário mundial através do fornecimento de produtos do agronegócio.
"O que vejo atualmente é a demanda mundial crescente e o Brasil com plenas condições de participar desta expansão, porém devido ao elevado custo fora das fazendas os produtos se tornam menos competitivos. fundamental que o setor se organize e busque as soluções junto ao governo. A produção brasileira se desenvolveu muito nos últimos anos, mas não houve planejamento para que o crescimento fosse acompanhado pela logística e infraestrutura", disse.
Segundo Karl, o crédito para investir na logística e infraestrutura não é problema, isto devido ao retorno garantido do investimento, o que estimula a formação de parcerias público-privadas (PPP).
"O problema da infraestrutura pode ser resolvido, mas depende da vontade política e da cobrança do setor. Acreditamos que para a próxima safra iremos enfrentar os mesmos problemas registrados na atual, o caos logístico, isto só será, em partes, resolvido com execução das obras anunciadas que devem durar entre três e quatro anos", afirmou.
Com a logística precária o custo de produção no país é alavancado. Enquanto as fazendas estão cada vez mais competitivas, o custo que o produtor tem com o deslocamento da safra fica cerca de cinco vezes superior quando comparado com os produtos dos Estados Unidos e Argentina.
"Para resolver o problema são necessários investimentos urgentes, que podem ser feitos com as PPP, e concessões, desde que as mesmas sejam bem regulamentadas para evitar o monopólio e a prática de preços altos", disse.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e de Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, não é por falta de recursos que o Brasil não possui uma infraestrutura e logística adequadas para atender às necessidades do agronegócio, e sim outros fatores que dificultam o andamento das obras, como o licenciamento ambiental, a fiscalização nos territórios indígenas, os questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU), entre outros.
"A vocação do Centro-Oeste, por exemplo, é exportar pelo Arco Norte. O desenvolvimento de hidrovias nos diversos rios navegáveis seria uma maneira eficiente e mais barata para escoar a produção", disse Fávaro.
Ainda segundo Fávaro, um dos principais pontos que devem ser revistos são os atrasos constantes nas obras. "O governo está preocupado em cumprir o cronograma da construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014 e não ser um vexame internacional. Mas não acha vergonhoso a fila de navios parados nos portos por falta de condições de serem abastecidos e das filas de caminhões que levam dias para chegar aos portos. Isto não pode acontecer, é uma perda de oportunidade, de dinheiro e o produtor é quem mais perde com isso", disse.
Para que ocorram mudanças significativas, segundo o sócio da empresa PWC- Líder em Agronegócio, José Ronaldo Vilela Rezende, é preciso que as instâncias governamentais saiam da inércia.
"O governo precisa ter coragem para quebrar algumas barreiras que impedem o avanço das obras e, com isso, agilizar os processos. Hoje, tudo é moroso", disse.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração, Afonso Mamede, o monopólio e poder para modificar a infraestrutura estão nas mãos do governo e quanto mais demora uma obra, mais cara ela ficará. "Com isso, todo mundo perde: a sociedade, a construtora e o próprio governo", disse.
Veículo: Diário do Comércio - MG