Pode parecer estranho que, em meio às notícias de supersafra de grãos e desempenho positivo do agronegócio brasileiro e gaúcho , o tema do endividamento agrícola ainda seja colocado à mesa. Mas enquanto débitos acumulados em safras passadas persistirem, seguirão alimentando discussões, das esferas políticas às lavouras. Tanto que hoje a Comissão da Agricultura e Reforma Agrária do Senado realiza em Porto Alegre uma audiência pública na qual se propõe a debater o assunto.
– Existem passivos não resolvidos. Parte da região nordeste e das Missões do Estado tiveram um agravamento da situação, com a seca do ano passado – explica a senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Dívidas de longo prazo, como custeios prorrogados, investimentos e alongamentos atualmente somariam R$ 110 bilhões no país. É quase a mesma quantia liberada pelo governo federal para o Plano Safra empresarial no ciclo 2013/2014, R$ 136 bilhões.
Mais do que valores, porém, a solução talvez tenha de passar por um outro debate: o do motivo pelo qual o produtor se endivida, observa Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e um dos especialistas a participar da audiência.
– Se não questionarmos por que ocorre, não adianta falar de endividamento e renegociação. Vira uma discussão improdutiva, que se repete e não resolve o problema.
Entre os fatores que ajudam a explicar as dívidas, o economista aponta uma lista conhecida dos agricultores gaúchos: o alto custo de produção (leia-se tributação) no país, uma logística igualmente cara e a ausência de um seguro agrícola mais abrangente. O resultado é um produtor que, apesar de ganhar dinheiro, não consegue gerar renda porque fica suscetível a imprevistos – como as secas que dizimaram plantações no ano passado.
Veículo: Zero Hora - RS