Brasil vai pagar mais por algodão externo

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Falta de tipos específicos da pluma faz com que o Brasil continue dependente de importações, segundo o futuro presidente do Icac

Apesar de o Brasil ter aumentado sua produção de algodão em 35% no último ano-safra e ter a perspectiva de aumentar o volume colhido com a ampliação de área plantada esperada para a próxima safra, o País deve continuar dependente de importação da pluma para abastecer a indústria têxtil nacional por um longo prazo. "Uma parte das importações [de algodão] tem uma qualidade que o Brasil ainda não produz. Então, a autossuficiência talvez seja difícil num prazo curto", afirmou o brasileiro José Sette, que presidirá por três anos a Comissão Internacional de Consultoria de Algodão (Icac, na sigla em inglês), em entrevista ao DCI.

Ainda assim, ele acredita que "existe espaço para o Brasil crescer. A produção brasileira é muito dinâmica e eficiente. Temos uma produtividade muito alta em termos de comparação com outros países".

A perspectiva de que o Brasil continue dependente dessa commodity se mantém mesmo em um cenário de valorização cambial e de altos preços do algodão no mercado internacional.

Na Bolsa de Nova Iorque (NYBOT), os contratos futuros da pluma para outubro estão cotados a R$ 0,83 libra-peso, alta de 10,6% com relação às cotações de um ano atrás.

Algodão caro

Os altos preços do algodão, porém, não são uma movimentação marcada pela alta demanda. Pelo contrário, o consumo mundial de algodão tem caído com o aumento da competitividade das fibras sintéticas.

O que tem garantido as cotações nas alturas é a política chinesa de acumulação de estoques para proteger os agricultores locais. Desde 2011, a China vem comprando pluma no mercado internacional praticamente apenas para fazer reserva de mercado e viabilizar seus cotonicultores. Até o fim de agosto, o país acumulava 9,4 milhões de toneladas de algodão em seus estoques, o suficiente para garantir o consumo de todo o mundo por cerca de nove meses. Esses estoques foram compostos basicamente por meio de importações. Das 4,2 milhões de toneladas que a China importou no último ano-safra, 3,2 milhões de toneladas foram para as reservas.

Segundo Sette, 2013 já é o terceiro ano em que a produção supera a demanda mundial de algodão, efeito da política chinesa de acumulação de estoques.

"Isso eleva o preço do algodão na China e no mercado internacional. O algodão fica acima dos concorrentes e perde espaço. Enquanto essa política da China perdurar, é difícil prever que o algodão volte a ter a competitividade que precisa ter", explicou o futuro dirigente do órgão técnico, que esteve no Brasil na semana passada para participar do 9º Congresso Brasileiro do Algodão.

Esse cenário de preços altos cria mais um obstáculo à tentativa do setor de recuperar ao menos parte do mercado que vem perdendo nas últimas décadas para as fibras sintéticas.

Essa recuperação, afirmou Sette, será uma de suas prioridades na liderança do Icac pelos próximos três anos. Segundo o brasileiro, a aposta terá que ser na preferência dos consumidores de varejo pelo algodão, em detrimento das fibras sintéticas. "As pessoas gostam de algodão, da textura, como suas roupas respiram. A demanda é sustentada pela preferência do consumidor, não da indústria. Temos que atuar nessa ponte do consumidor", defendeu Sette.

Mudança chinesa

O futuro presidente do Icac acredita que a política chinesa de acúmulo de estoques de algodão tem prazo para acabar. "Eles já estão dando sinais de que estão repensando [essa política], com outras maneiras de apoiar os produtores locais e com menos impacto no mercado." Para ele, o aumento dos estoques chineses "é insustentável no longo prazo", já que a própria China vem perdendo indústria de fios para outros países.

Sette ressaltou, porém, que a possível mudança não significa que Pequim abrirá mão de incentivar aos produtores da fibra. "O governo chinês parece determinado em manter algum apoio. Vamos ver qual será a forma que vão encontrar e qual sera o impacto disso sobre o mundo", observou o brasileiro.



Veículo: DCI


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