As expectativas sobre o volume da colheita da safra de soja nos Estados Unidos, que podem impulsionar os preços no mercado internacional, e os efeitos da valorização do dólar ante o real foram os principais fatores que contribuíram para a aceleração do IGP-10 em setembro, afirmou o superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. O indicador mostrou alta de 1,05%, ante elevação de 0,15% em agosto.
Nos Estados Unidos, a especulação sobre a safra de soja, em função das incertezas climáticas, tem gerado elevações no preço do grão e de seus derivados em escala global, de acordo com Quadros. No Brasil, esse efeito foi percebido principalmente a partir da segunda quinzena de agosto. O insumo saiu de uma queda de 2,3% no mês passado para alta de 6,84% em setembro. A alta nos preços da laranja, que também impressionam devido à aceleração para 22,92% este mês (ante 2,47% em agosto), se deve ao período de entressafra. Mas, segundo Quadros, esse é um impacto de menor escala e que pode não se verificar em outros produtos.
Os efeitos do câmbio também já atuam nos preços medidos pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que forma 60% do IGP-10, principalmente nas matérias-primas brutas (com alta de 2,74%, ante -0,62% em agosto) e nos bens intermediários (1,87%, ante 0,94%). O economista destacou a alta do minério de ferro, como reflexo das melhoras nas condições macroeconômicas chinesas. Em setembro, o insumo registrou alta de 1,96%, ante queda de 3,59% em agosto.
"O câmbio está afetando a estrutura de preços da economia, embora ainda não tenha chegado a setores como o varejo", analisou. A leitura é de que o impacto da alta do dólar não tem avançado com a intensidade esperada e, por enquanto, não ultrapassou a faixa de bens intermediários. "É possível, porém, que alguma pressão aconteça nos próximos meses", considerou Quadros.
No Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que contribui com 30% do IGP-10 e subiu 0,22% em setembro (ante -0,07% em agosto), a alimentação foi um dos principais pesos para a aceleração, com alta de 0,21% ante deflação de 0,30% em agosto. Os produtos in natura foram o principal impulso, destacou Quadros, com alta de 1,72%, em comparação à queda de 4,59% em agosto.
No Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), a alta de 0,34% em setembro, praticamente estável em relação a agosto (0,35%), reflete a desvalorização do real.
Desaceleração
A desaceleração da alta dos preços de Alimentação, de 0,3% para 0,23%, no Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da primeira para a segunda quadrissemana de setembro, foi influenciada principalmente pela deflação maior dos preços dos in natura, segundo informou ontem o economista André Braz, do Ibre. Nessa leitura o IPC-S chegou de 0,27%, ante 0,25% na primeira medição. O subgrupo Hortaliças e Legumes ampliou a queda de -6,25% para -9,20%.
Veículo: DCI