Empresa tem reduzido suas exportações, com vistas a melhorar os preços, uma vez que a grande oferta tem prejudicado o ritmo do mercado externo
O presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, admitiu ontem que o resultado da empresa no terceiro trimestre foi "ruim" e que as ações da BRF refletiram o desempenho aquém do esperado. "Nós tivemos um terceiro trimestre ruim e já estávamos esperando por isso", afirmou ele, em reunião com analistas de mercado, em São Paulo.
Segundo Abilio, os investidores "se sentiram frustrados e decepcionados" com o resultado da BRF do terceiro trimestre, divulgado ontem. A empresa teve um lucro líquido de R$ 287 milhões. No mercado financeiro, porém, a expectativa era a de que a empresa tivesse lucro entre R$ 299 milhões e R$ 401 milhões.
"O que tenho para dizer é que eu represento os investidores, sou um deles e vou procurar fazer o melhor possível por essa companhia para que ela dê o retorno apropriado", disse Diniz. Em recado aos executivos da BRF, o presidente do conselho foi enfático ao afirmar que não quer explicações, mas resultados. "Queremos resultados e eles não vieram. Não adianta explicar os motivos." Abílio pediu calma aos investidores e disse que para 2014 os números serão melhores. "Porém, nada de pirotecnia, faremos tudo com calma e trabalho sólido."
O empresário prometeu que até 10 de dezembro estará pronto o orçamento da empresa para 2014. Por várias vezes, citou a meta de transformar a BRF em uma empresa global. "A BRF não é uma empresa global, é uma exportadora de frangos. E nosso objetivo é fazer com que ela vá além de exportar e seja uma marca forte fora do Brasil." O empresário disse que encontrou a BRF "torta", uma empresa que tinha como foco apenas o DNA industrial. "Com processo admirável, porém, que vivia empurrando a produção para o consumidor. Que nunca se preocupou com a ponta, embora tivesse um departamento de inteligência de mercado muito competente."
Segundo o empresário, a reação do mercado na segunda-feira, quando as ações da BRF recuaram 3,79%, foi uma mensagem clara. "O mercado nos disse claramente ontem [que ficou decepcionado]. Enfim, o mercado é o mercado e normalmente ele é o senhor da razão", acrescentou.
Abilio disse que a BRF estava "torta" e que sua gestão está "desentortando" a companhia. Segundo ele, a companhia era empurrada da produção para o consumidor. "A BRF nunca foi lá no consumidor e no cliente perguntar o que eles queriam, o que posso fazer mais por você", disse em tom firme. "Essa companhia tem de ser puxada pelo consumidor".
Ele disse que não querer saber de explicações [das pessoas da empresa] sobre o resultado do terceiro trimestre. "Queremos resultados e o resultado não veio". Segundo Abilio, o momento é de avaliar o que aconteceu no trimestre para corrigir os erros cometidos.
O presidente do conselho da BRF afirmou, para justificar o resultado aos investidores, que o terceiro trimestre foi afetado por eventos não recorrentes, coisas naturais numa companhia em reestruturação. Mas ele reiterou não haver preocupação com o curto prazo. "Temos confiança no que estamos fazendo". Ele disse que os investidores podem cobrar os resultados da empresa em 2014, mas que não esperem "nada de coisas espetaculares no curto prazo, nada de pirotecnias".
Já o diretor-presidente da BRF, Cláudio Galeazzi, afirmou durante o evento que a "falta de planejamento" da empresa contribuiu para a queda dos preços internacionais dos produtos exportados pela companhia brasileira, sobretudo carne de frango.
Segundo ele, a BRF e seus concorrentes ajudaram a criar "uma oferta acima da demanda". "Tivemos redução dos preços internacionais com uma contribuição nossa por falta de planejamento, devido aos nossos estoques e também dos concorrentes".
No balanço do terceiro trimestre, divulgado ontem, a BRF culpou os altos estoques de frango no Oriente Médio, principal mercado de exportação da empresa, pelos resultados aquém do esperado nas exportações.
Apesar disso, Galeazzi afirma que não há motivos para "autoflagelamento".
Veículo: DCI