Venda em parcelas é a âncora do varejo para este começo de ano

Leia em 5min 10s

Diante da expectativa bastante cautelosa de que haja recuperação da economia apenas no último trimestre de 2009, em detrimento do arrocho na concessão de crédito para as empresas e consumidores, a tendência no grande varejo para o primeiro trimestre do ano é a da manutenção das taxas de financiamento para as compras, além de formas de pagamento a longo prazo, visto que companhias como Grupo Pão de Açúcar, Casas Bahia, Magazine Luiza e Ricardo Eletro ainda não fizeram alterações em suas políticas de financiamento.

 

Para não perder o ritmo das vendas e estimular o consumidor, mesmo com o cenário econômico incerto, a rede Pão de Açúcar afirma ter R$ 6 bilhões em caixa para financiar os clientes que utilizam o cartão private label, administrado pela Financeira Itaú CBD (FIC). As linhas de crédito estão aprovadas e poderão ser utilizadas principalmente em períodos como volta às aulas, Carnaval - que sinaliza bom período de vendas com itens sazonais -, além da Páscoa.

 

De acordo com o presidente da supermercadista, Claudio Galeazzi, "se a demanda for maior e houver necessidade de disponibilizar mais crédito os recursos serão ilimitados para financiar o consumidor", enfatizou. Outro termômetro do setor em relação a crédito é que as vendas nesta modalidade cresceram no final do ano passado 4,2% - com maior ênfase no pré-datado -, sustentando assim o crescimento de 4,2% verificado na atividade do comércio varejista no País, levantado pela empresa especializada em pesquisas Serasa Experian.

 

Ao analisar as formas de pagamento mais utilizadas no ano passado, especificamente no período natalino, Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa, aponta que a modalidade "pré-datado" será determinante para o varejo nesses primeiros meses do ano. "Tudo sinaliza que o comércio varejista passou a aceitar mais o cheque pré-datado, devido à ausência de uma instituição financeira e a não utilização de recursos de terceiros para fazer a compra. O empresário não precisa mexer em seu caixa", afirmou Almeida.

 

De acordo com o Indicador Serasa Experian do Nível de Atividade do Comércio, divulgado ontem, é a segunda vez consecutiva que o fenômeno de venda a prazo maior que à vista acontece. Em 2007, o pagamento parcelado registrou alta de 12,6%, promovendo uma evolução de 6,3% nas vendas totais sobre o ano de 2006. Por outro lado, nos últimos dois anos, as vendas à vista apresentaram recuo, de 21,1%, em 2008, e de 19%, no ano retrasado.

 

Ainda segundo a Serasa, por outro lado, a desaceleração no crescimento das vendas no ano passado refletiu o encolhimento do crédito, por conta dos juros elevados e pelo maior endividamento de parte da população em prazos mais longos. Como a falta de crédito causou dificuldades ao consumidor no Natal, as vendas a prazo cresceram apenas 4,2%, enquanto a forma de pagamento à vista despencou 21%.

 

No geral, o crédito ao consumidor cresceu 30,7% em 2007 e 23,3% no acumulado de janeiro a novembro de 2008, segundo os últimos dados do Banco Central. "A iminência da crise levou o crédito a obter um crescimento pífio de 0,1% em novembro frente a outubro", disse Almeida.

 

Condições

 

Redes varejistas ouvidas pelo DCI como Magazine Luiza, Casas Bahia e Ricardo Eletro também afirmaram que, por enquanto, não deverão alterar as condições de financiamento ao consumidor. No caso da líder do segmento de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, Casas Bahia, as taxas de juros ainda não mudaram. A empresa possui 11 milhões de clientes ativos, dos quais dois terços são empregados no mercado informal. Cerca de 50% das compras realizadas são feitas com cartão de crédito, 40% são no crediário e de 10% são à vista.

 

Frederico Trajano, diretor de Vendas e Marketing do Magazine Luiza estima que este ano a financeira da companhia, o LuizaCred, criada a partir da associação com o Unibanco, tenha R$ 2,5 bilhões em crédito para financiar seus clientes. "A previsão de incentivar as vendas com nosso cartão próprio foi cumprida em São Paulo, pois 85% das vendas na região são efetuadas com esta forma de pagamento", destacou o diretor. Até então, a perspectiva é trabalhar com as mesmas taxas de juros de 2008 e aprimorar o trabalho para que a inadimplência não cresça.

 

Na concorrente das companhias que comercializam itens de bens duráveis, a mineira Ricardo Eletro garante não ter modificado as condições de crédito para o consumidor. Por meio de uma parceria com a Losango, financiadora do Banco HSBC, a empresa tem disponível aos clientes uma linha global de crédito na casa dos R$ 400 milhões.

 

A projeção de um primeiro semestre bastante complicado para o varejo brasileiro apontada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), poderá ser mais intensa no pequeno varejo, que encerrou o ano passado com bom desempenho. De acordo com Guilherme Wietze, economista da entidade, "como os pequenos empresários não têm poder de barganha frente às instituições financeiras, a pequena empresa poderá passar por dificuldades", avalia.

 

Wietze lembra que as grandes varejistas são beneficiadas por taxas mais competitivas, enquanto o pequeno varejo e o consumidor dependem mais dos bancos e financeiras. "Este período do ano será bastante complicado, com os balanços das empresas no vermelho e as demissões que afetam o emprego e a renda, impactando no fator de consumo. Soma-se a isso o fator de o crédito estar empoçado nos bancos".

 

A população está mais cautelosa para consumir, por crer que a situação atual poderá afetar seu emprego. Mesmo assim, ele não vê redução nas compras a prazo.

 

Mesmo diante da crise de crédito, as grandes varejistas ainda não preveem diminuição no número de parcelamento das compras pelos clientes, nem aumento das taxas de juros.

 

Veículo: DCI


Veja também

Governo quer estimular troca de geladeiras usadas

O governo está preparando um programa que pretende tirar de circulação milhares de geladeiras velha...

Veja mais
Rede Villarreal lança seu cartão de crédito

A rede Villarreal Supermercados, que pertence ao Grupo Comercial Zaragoza e atua na região do Vale do Paraí...

Veja mais
Produtores de lácteos terão ajuda do governo europeu

Os produtos lácteos para a exportação voltarão a receber subsídios da União Eu...

Veja mais
Apreensão de genéricos na Holanda preocupa o Brasil

O governo brasileiro enfrenta o primeiro conflito internacional decorrente da iniciativa da Organização Mu...

Veja mais
Perdas da Sony

A Sony - que fabrica TVs com a marca Bravia, máquinas fotográficas Cyber-shot e o videogame PlayStation - ...

Veja mais
LG cresce 22,5%

A LG Electronics anunciou, ontem, que suas vendas globais cresceram 22,5% no quarto trimestre de 2008, totalizando 13,37...

Veja mais
Varejo chileno

A compra da D&S, a maior rede de supermercados do Chile, pelo Wal-Mart pode ser anunciada no domingo ou na segunda-f...

Veja mais
Brasil dobra valor das exportações de mel em 2008

No ano da retomada das exportações para a União Europeia, o setor apícola brasileiro fechou ...

Veja mais
Lua-de-mel do iogurte

A temporada nordestina dos executivos da Danone termina hoje. Eles escolheram Natal para sediar a convençã...

Veja mais