Os resultados do terceiro trimestre das companhias de varejo mostraram a necessidade de acerto fino nas estratégias de estoque e preços diante de um cenário de consumo mais desaquecido. Na avaliação de analistas, as varejistas de vestuário foram as que mais sofreram com as incertezas do período, mas erros fizeram com que alguns resultados acabassem sendo piores do que o esperado.
As varejistas de roupas e assessórios começaram o segundo semestre com peças da coleção de inverno em liquidação. Marisa Lojas acabou tendo o pior resultado entre as concorrentes porque vendeu mais peças promocionais do que as da coleção de verão, inclusive porque reduziu as compras para estoque das peças novas. A resposta do consumidor foi ruim: a empresa reportou queda de 7,5% nas vendas mesmas lojas (abertas há mais de um ano) na comparação anual.
Para o analista da Votorantim Corretora, Luiz Cesta, os consumidores acabaram direcionando sua renda para as compras de bens duráveis, como eletrônicos e eletrodomésticos, cujas vendas foram estimuladas pelo crescimento dos smartphones e pelo programa "Minha Casa Melhor", do governo federal. Combinado com incertezas do cenário macroeconômico, esse fator culminou em pressão extra para as companhias de moda. "Ao contrário do que poderíamos esperar, estímulos fizeram com que houvesse canalização de recursos de renda disponível pra esse tipo de consumo, com as pessoas tentando se aproveitar desse momento um pouco melhor", diz.
Outro analista que pediu para não ser identificado observa, porém, que concorrentes do segmento de vestuário conseguiram montar uma estratégia bem sucedida. A Renner foi considerada um destaque positivo por ter conseguido crescimento das vendas mesmas lojas de 5,8% mesmo com o fechamento de alguns pontos para reforma. O resultado fraco de Marisa, diz, pode ainda ter sido provocado por perda de participação de mercado para empresas de capital fechado como a C&A e a Pernambucanas.
Para o futuro, os analistas não enxergam uma mudança nesse cenário de instabilidade para o varejo de roupas. Destacam, ainda, que uma melhora ou piora em 2014 está bastante atrelada ao câmbio. Caso o real volte a sofrer desvalorização ante o dólar, essas companhias terão aumento de custos com importados (que são de 20% a 30% dos produtos) e ainda podem perder vendas uma vez que a renda disponível tende a cair com um possível impacto do câmbio na inflação.
Veículo: Diário do Comércio - MG