A automação comercial começou a ser implantada há quase 30 anos no Brasil e poderia estar não só consolidada como atendendo 100% dos comerciantes e profissionais liberais, mas isso ainda não aconteceu: continua havendo espaço para crescimento do setor e é nele que novas empresas estão entrando com produtos e serviços inovadores. O surgimento dos dispositivos móveis e alterações recentes na legislação fiscal estimularam o aparecimento de startups cujos lançamentos facilitam ainda mais o trabalho dos comerciantes, oferecendo ao mesmo tempo maior conveniência aos clientes. São empresas que transformaram celulares e tablets em terminais de caixa, por exemplo, podendo escanear códigos de barras, fazer transações com cartões de crédito e débito e levar a automação comercial a uma praia, a um quiosque na beira de uma estrada - virtualmente a qualquer lugar.
A mudança fiscal que está permitindo essas novidades foi o lançamento, em março, da "Nota Fiscal Eletrônica para Consumidor Final" ou NFC-e: é o documento fiscal eletrônico que o comerciante tem a obrigação de emitir, mas não de imprimir, conta Araquen Pagotto, presidente da Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac). "A partir disso, cada vendedor poderá estar com um terminal de caixa na mão, embutido em seu smartphone", diz.
A PinGObox, de São Paulo é uma das startups que está aproveitando essa oportunidade, explica Felipe Lachowski, diretor da empresa. "Nosso produto é para o varejo de baixa complexidade, como um quiosque de shopping, uma cafeteria, um pequeno restaurante". Com previsão de lançamento para fevereiro, o produto é um kit de automação comercial baseado em tablet com sistema operacional Android, uma impressora para os cupons fiscais e o software pré-instalado para a loja (inclusive com a lista de preços). Embora o preço do produto ainda não esteja definido, Lachowski garante que custará metade do valor de uma solução convencional de caixa, ou menos: "O comerciante precisará apenas abrir a caixa e ligar os cabos que o sistema já estará funcionando."
O mercado para o produto é grande: segundo Pagotto, da Afrac, a previsão é de que a NFC-e estimule a comercialização de 400 mil novos pontos de venda no Estado de São Paulo e mais 150 mil no resto do país - tanto para novas empresas quanto para aquelas que simplesmente querem abrir novos caixas mas deixam de fazer isso por causa do custo - além da compra do equipamento e do software, cada ponto de venda e de emissão da nota fiscal eletrônica exige um registro nos órgãos fiscais e o percurso pela burocracia correspondente.
Apesar disso, os números do varejo brasileiro estão atraindo também startups de outros países, como a iZettle, da Suécia (que conta com US$ 5 milhões do Banco Santander), e a SumUp, da Alemanha (apoiada, entre outros, pela American Express e BBVA). Ambas estão lançando aqui leitores de cartões para dispositivos móveis, de olho nos pagamentos dessa modalidade, que representam 27% das transações afirma Renato Silva, diretor de operações da iZettle.
Ele conta que o produto foi lançado em agosto e vendeu cerca de 35 mil unidades só nas três primeiras semanas: "Estamos aproveitando uma sinergia com os celulares, já que temos mais de 260 milhões deles nas ruas, sendo 15% smartphones. Nosso mercado são principalmente os profissionais liberais e as pequenas e microempresas, que precisam de uma solução em pagamento móvel", completa.
Igor Marchesini, diretor da alemã SumUp, tem um grande entusiasmo com os números do mercado, estimando que até 2018 haja 80 milhões de usuários de pagamento móvel no Brasil: "Atualmente, temos mais de 22 milhões de pequenas e médias empresas, além dos microempreendedores. No Brasil foram processados mais de R$ 700 bilhões com cartões em 2012, e esse número cresce cerca de 20% ao ano. Mas o que mais nos anima é que todo esse volume ainda representa apenas 27% do consumo das famílias brasileiras."
Veículo: Valor Econômico