A GlaxoSmithKline (GSK) vai descartar as metas individuais de vendas para seu staff commercial, enquanto tenta reparar sua imagem e reformar as práticas de trabalho, depois das alegações de que seus funcionários pagaram propinas na China que podem chegar a US$ 500 milhões.
A iniciativa ocorre em meio a preocupações com o marketing agressivo da indústria farmacêutica e segue-se a investigações reguladoras que levaram a uma multa recorde de US$ 3 bilhões nos Estados Unidos no ano passado.
Segundo um plano apresentado na segunda-feira aos seus executivos, a companhia britânica vai eliminar as bonificações atreladas ao uso de seus medicamentos prescritos por médicos visitados por seus representantes de vendas. Em vez disso - em uma novidade na indústria farmacêutica - diz que as gratificações estarão ligadas à melhoria dos cuidados com pacientes e ao desempenho da companhia como um todo.
Nos próximos dois anos, ela também deixará de pagar honorários de conferências para médicos de fora da companhia que dão palestras sobre seus medicamentos para outros médicos e financiar viagens de médicos para conferências - somas que chegariam a mais de 50 milhões de libras por ano.
"O objetivo é melhorar de acordo com o que a sociedade quer e também refletir o uso moderno da tecnologia. É o momento certo para aproveitar as novas abordagens", diz Andrew Witty, diretor-presidente. Ele insistiu que as reformas estavam sendo planejadas há muito tempo e estão menos relacionadas aos problemas na China e mais a reformas amplas na GSK, incluindo a transparência, o acesso a medicamentos e a adoção da tecnologia da informação.
As medidas poderão levar à perda de funcionários da área comercial da GSK e também de muitos médicos que dependem do apoio da companhia para seus próprios estudos de medicina, na ausência de fontes alternativas de financiamento. Mas as companhias farmacêuticas estão sob um escrutínio crescente por práticas de comercialização que desencadearam investigações de autoridades reguladoras de todas as partes do mundo, além dos EUA e Reino Unido, como resultado de suas leis contra a corrupção.
Em um cenário de escalada as multas impostas pelas autoridades dos EUA às farmacêuticas nos últimos anos, a GSK recebeu uma penalidade recorde de US$ 3 bilhões no ano passado por ter comercializado, durante muitos anos, seus produtos para usos que não os autorizados, com práticas que incluíam estadias em resorts de luxo para médicos.
Em julho, as autoridades chinesas disseram que a companhia subornou médicos e autoridades para que eles receitassem seus produtos, com o dinheiro sendo canalizado via agentes de viagens.
Críticos do setor se mostram céticos com os esforços voluntários das farmacêuticas para conter excessos e também com o atual sistema de multas reguladoras. Tim Reed, presidente do regulador europeu Health Action International, elogiou as medidas, mas disse: "É como designar seu próprio dever de casa. A única maneira de controlar adequadamente a promoção é a regulamentação fiscalizadora forte do Estado".
Veículo: Valor Econômico