Números iniciais a respeito do desempenho do varejo em dezembro, melhor mês de vendas para o setor no ano, apontam para um crescimento (em termos reais) num ritmo superior ao do ano passado. Isso não significa, porém, excesso de otimismo por parte do mercado. O cenário que se desenha abre espaço para um aumento de 6,6% nas vendas neste mês, segundo cálculo do Índice Antecedente de Vendas (IAV) do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV). A questão é que será uma expansão em cima de uma base fraca. "Dezembro do ano passado foi ruim", disse Flavio Rocha, presidente do IDV e executivo da rede Riachuelo.
Em dezembro de 2012, as vendas nominais do setor subiram 11%, informou o IBGE, mas houve forte pressão inflacionária no período e ao se descontar esse efeito, o aumento real foi de 4,9%. Uma alta de 6,6% supera facilmente a taxa do ano passado, portanto. Mas na comparação da última década, esse índice previsto para dezembro de 2013 não está entre os melhores desempenhos já registrados no período de Natal.
Levantamento do Valor realizado com base nos dados do IBGE mostra que, se alcançar esse índice de 6,6% de alta, será apenas o quinto melhor desempenho da década (em termos reais), no intervalo de 2003 a 2013. O melhor Natal neste período foi registrado em 2004, quando as vendas reais do varejo subiram 11,14% em cima de um desempenho fraco (em 2003, a expansão foi de apenas 1,5%).
A boa notícia é que há expectativa que as vendas de fim de ano cresçam numa velocidade acima da dos últimos dois anos - em dezembro de 2011 e 2012.
Na análise de especialistas, além da base fraca, que facilita um crescimento maior neste ano, a redução no nível de endividamento da população no segundo semestre de 2013, e a manutenção de ganhos de renda e emprego ajudam a compor um cenário menos pessimista do que em 2012.
Por outro lado, o fato de o período não estar entre os melhores meses de dezembro da década pode ser explicado pela oferta de crédito menos acelerada, reflexo das altas nos índices de inadimplência em 2012 e em parte de 2013, e pela queda, com recuperação ainda lenta, da taxa de confiança na economia. Em novembro, o grau de satisfação dos consumidores com a situação da economia ficou estável, conforme a FGV. Pesquisa da FecomercioSP indicou queda no índice de confiança em novembro.
"O desempenho do comércio só não foi pior pelo aumento da massa salarial real e pela manutenção do nível de emprego em patamar elevado", disse o diretor-executivo da FecomercioSP, Antonio Carlos Borges. Para os próximos anos, afirma, não há muito espaço para expansão desses indicadores. Segundo ele, mesmo com a "acertada política de aumento dos juros" a inflação ainda é um risco para 2014 devido ao comportamento do câmbio.
Veículo: Valor Econômico