O segmento de farmácias e drogarias brasileiro passa por um momento de transição. No passado, a venda de medicamentos era o carro-chefe das operações, hoje os não medicamentos - cosméticos, suplementos alimentares e afins - despontam como a categoria com maior potencial de venda, tanto que existe uma movimentação maior para criação de produtos de marca própria para esse nicho.
Além disso, o aumento da renda da população apontou um gargalo das empresas atuantes nesse setor, a estrutura. Filas, faltas de profissionais e ruptura de produtos estão entre as dificuldades enfrentadas pelos empresários do setor. Na opinião do presidente executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, tanto as redes - hoje maioria no setor - quanto os empresários independentes, os de pequeno porte, terão de encontrar soluções administrativas para atender a demanda que ainda está por vir.
"Um dos fatores que leva a perda do consumidor são as filas. O empresário deve adotar sistemas para agilizar o atendimento, o pagamento, além de evitar rupturas no ponto de venda." O especialista refere-se, messe caso, à falta de produtos nas lojas que leva a desistência da compra.
Na opinião de Barreto, é justamente nesse ponto que as empresas de pequeno porte, que já têm pouca participação no mercado, perdem para as redes líderes, como a Pague Menos, a Drogaria São Paulo, a Onofre, a Ultrafarma, entre outras.
"Enquanto essas redes conseguem ter um número maior de produtos a oferecer, e raramente sofrem com faltas, as empresas independentes são as que mais sentem com a ruptura de produtos", argumentou. Outro ponto levantado por Barreto foi a questão das categorias vendidas dentro das farmácias e drogarias. Como essas lojas passaram a ser vistas como fornecedoras de artigos de higiene e beleza, a venda da categoria não medicamentos - cosméticos, higiene pessoal, suplementos alimentares e afins - foi a que mais cresceu na comparação 2012 versus 2013.
A Abrafarma identificou que houve incremento de 19,17% na venda desses produtos enquanto os medicamentos apontaram alta de 11,44%. "Essa é uma tendência importante para o segmento, pois há 20 anos a proporção de vendas era de 80% de medicamentos e 20% de não medicamentos. Hoje, eles despontam como uma das maiores categorias de venda dentro de uma farmácia, com participação de 32,51% no volume", explicou Barreto ao DCI.
No ano passado, as 29 empresas associadas à entidade faturaram mais de R$ 28 bilhões, o que representa incremento de 13,84% de 2012 para 2013. Os genéricos começaram a perder força, mas ainda tiveram crescimento de 11,26% no período.
Marca própria
Uma das estratégias das principais redes do setor para conseguir passar por esse momento de transição sem perder o ritmo de vendas, nem a presença de mercado, está na ampliação da categoria de não medicamentos e no investimento em produtos de marca própria, em especial cosméticos e maquiagens. Foi justamente nesse nicho de mercado que a Radha, marca de cosméticos da Ultrafarma apostou suas fichas e foi mais além. Segundo o gerente comercial da Radha, Marcelo Barriento, criada em 2006, hoje a bandeira representa 5% do total das vendas da Ultrafarma. Para ampliar isso, a empresa dá seus primeiros passos no canal de venda direta.
"Trata-se de um nicho com potencial enorme, pretendemos chegar ao terceiro ano [de atuação em venda direta] com faturamento de R$ 75 milhões", disse.
Foram investidos R$ 15 milhões e o projeto levou três anos para ser estruturado. Hoje, nas lojas da Ultrafarma o consumidor encontra uma categoria composta por 300 produtos. No catálogo ele terá, em primeiro momento, 150 itens para compra. O varejo virtual (e-commerce) também é aliado da marca Radha e, segundo Barriento, ele tem apresentado "crescimento acentuado acima dos dois dígitos ao ano."
Já na rede de farmácias Pague Menos, os artigos marca própria foram inseridos na operação há seis anos e a empresa já colhe os frutos do investimento. Anteriormente ao DCI, o gerente de negócios especiais da empresa, Francisco José de Barros, afirmou que esses itens já representam 4,2% do faturamento, o que dá cerca de R$ 13 milhões a R$ 14 milhões ao ano. "Queremos que isso ultrapasse R$ 15 milhões". Só no ano passado foram investidos R$ 4,5 milhões em lançamentos. Com isso, a Pague Menos conseguiu ampliar as vendas nessa categoria em 40%. No total são mais de 750 produtos, que representam 17% de participação nas vendas de não medicamentos. Para 2014, Barros afirmou que novos produtos serão lançados.
"Nossa intenção é a de ter cerca de 2.000 novos artigos, entrando na categoria de cosméticos, como uma linha de protetor solar, e ampliando a gama de suplementos alimentares. Para isso vamos dobrar os investimentos e, por consequência, dobrar as nossas vendas", disse ele.
Além dos produtos mencionados, a Pague Menos passará a oferecer a seus consumidores desodorantes aerossol, espuma de barbear, secante de esmaltes, xampu a seco, kits de presentes da linha banho, preservativos, etc.
O diretor da Abrafarma, Sérgio Barreto, afirmou que além das duas marcas mencionadas, a rede sulista Panvel, a oitava maior do ramo no País, também tem uma linha extensa de cosméticos de marca própria e essa categoria pode apresentar o mesmo crescimento (mais de 19%) este ano. "O trabalho da Panvel é excelente nesse segmento e acredito que os não medicamentos vai continuar a fazer a diferença esse ano."
Veículo: DCI