Riscos de dificuldades na entrega de produtos da indústria para o varejo em junho, e também dos centros de distribuição das varejistas ao cliente, têm sido ponto de discussão no planejamento de vendas das empresas no período.
Feriados em dias de jogos da Copa do Mundo e protestos em ruas e rodovias podem levar ao fechamento de lojas, afetando a distribuição de produtos.
Como a área de estoque das lojas diminuiu nos últimos anos, é preciso que as varejistas consigam fazer a entrega a partir de seus armazéns (ou centros de distribuição) para a casa dos consumidores para que a encomenda chegue na data prevista.
A maioria das entregas no país é feita da fábrica ao centro de distribuição da varejista e de lá para o cliente. A entrega diretamente da indústria para a loja é minoria.
Alguns varejistas de produtos eletrônicos de grande porte, apurou o Valor, já têm mapeadas as lojas nas cidades que sediarão os jogos da Copa e também os locais onde já ocorreram protestos populares recentes. Querem verificar eventuais efeitos negativos de possíveis novas manifestações sobre as vendas nessas áreas.
Mesmo que protestos políticos não aconteçam, o entorno dos estádios pode ficar isolado para facilitar o tráfego.
Via Varejo aumentou o estoque em 21% no 1º trimestre devido a Copa, Dias das Mães e demanda natural do 2º trimestre
O Rio de Janeiro, por exemplo, abrigará seis jogos da Copa, no estádio do Maracanã. Nesses dias, as vendas devem ser afetadas na região. Casas Bahia, Ponto Frio, Casas & Vídeo e Ricardo Eletro têm, no total, cinco lojas num raio de até 3 km do estádio.
Por enquanto, varejistas ouvidos pelo Valor não consideram a hipótese de antecipar compra de mercadorias - de junho, para maio - para driblar possíveis dificuldades de entrega. Mas a maior rede de eletroeletrônicos, a Via Varejo, que reúne as lojas de Casas Bahia e Ponto Frio, já aumentou os estoques.
O comando da Via Varejo informou na semana passada que ampliou estoques no primeiro trimestre para atender vendas de Dia das Mães, Copa do Mundo e a demanda natural do segundo trimestre do ano. A rede não esclareceu se houve antecipação de compra devido a possíveis atrasos de entrega em junho. Em valor, o estoque cresceu 21%, de R$ 2,33 bilhões no primeiro trimestre de 2013 para R$ 2,82 bilhões no mesmo período deste ano.
Na Copa de 2010, quando a empresa se resumia às operações de Ponto Frio (a fusão com Casas Bahia ocorreu no fim de 2010), o estoque passou de R$ 375 milhões para R$ 674 milhões, alta de 80%. A Via Varejo informa que tem estratégia de malha logística desenhada para atender lojas e centros de distribuição de forma a não afetar as encomendas.
Três varejistas ouvidas na sexta-feira não fizeram, até o momento, movimentos de antecipação de compras, especialmente pelo custo financeiro disso. Cybelar, Novo Mundo e Lojas Rabelo, todas com mais de 100 lojas, mantiveram ritmo de compras e de entregas mensais em seus centros de distribuição dentro do programado no fim do ano passado.
"Antecipar entregas é um risco, não pela falta de espaço de armazenagem. Varejistas ampliaram investimentos nos centros de distribuição. E qualquer problema, basta reduzir compra de outro produto com baixa demanda no período", diz Ubirajara Pasquotto, diretor presidente da Cybelar.
"A questão principal é que o aumento de estoque pressiona a necessidade de capital de giro da loja. Você empata dinheiro e não pode fazer isso sem precisar realmente do produto. Nós fizemos pedidos no fim do ano passado e temos recebido dentro do programado", diz Pasquotto.
Ricardo Marques, coordenador da Lojas Rabelo, em sete Estados do Nordeste, disse que a varejista está estocada num nível mais alto e por isso, não antecipou as entregas.
"Após emissão da nota, são 30 a 60 dias para pagamento à indústria, se eu antecipo meu plano, compro antes e peço a entrega, tenho também que antecipar mais recebíveis para pagamento. E antecipação ficou mais cara com o aumento das taxas de juros, então fazer mudanças na escala tem que ser algo bem pensando", disse Marques.
Veículo: Valor Econômico