Rio de Janeiro - A confiança dos comerciantes fechou o primeiro semestre na mínima histórica, diante de um cenário de vendas fragilizado pela desaceleração do consumo, pelo crédito mais caro e pela inflação elevada. O Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (Icec) recuou 2,3% em junho ante maio, para 109,6 pontos. Em relação a junho do ano passado, o recuo foi de 12%, o maior já registrado na pesquisa neste tipo de comparação, informou ontem, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
"Não se pode falar em crise no varejo, mas certamente há perda de força", avalia o economista da CNC Fábio Bentes. Para ele, o comércio varejista não passa por um momento tão delicado desde a crise financeira de 2008. Cálculos feitos a partir de dados da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, mostram que o volume de vendas teve uma retração de 0,5% nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao quadrimestre anterior, o pior resultado desde o início de 2009.
Além disso, os juros não param de crescer, a despeito de a Selic estar estacionada em 11% ao ano desde abril, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu em maio interromper o ciclo de alta iniciado um ano antes. A lógica vale também para o crédito destinado a investimentos. Com isso, o ânimo dos empresários para desembolsar em projetos no próprio negócio ou para contratar mão de obra diminuiu.
"No caso do mercado de trabalho, os números vão acompanhar o desempenho das vendas", diz Bentes. A CNC prevê alta de 4,7% no volume de vendas do varejo restrito (sem incluir veículos e material de construção) neste ano, mas a estimativa tem viés negativo.
A CNC espera que sejam geradas 149 mil vagas formais no varejo ampliado (com veículos e material de construção). O número, contudo, é mais fraco do que o observado em 2013, quando foram abertos 253,28 mil postos de trabalho com carteira assinada, segundo dados com ajuste do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A situação é tão ruim que, dos nove itens pesquisados pelo Icec, seis atingiram o menor nível desde o início da apuração do índice, em 2011. Houve retração nas avaliações das condições atual, em especial sobre a economia (-25,4% em junho contra igual mês de 2013). Segundo a pesquisa, 70,2% dos empresários avaliam que o cenário piorou nos últimos doze meses.
"Não se pode dizer que a confiança do varejo já encontrou um piso. O indicador é referente a junho, mas os últimos índices de vendas são de abril. Nesse tempo, a situação pode ter piorado ainda mais", avalia Bentes. (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG