Adi Godrej, um dos industriais mais ricos da Índia, negocia a aquisição de empresa de cosméticos no Brasil, para enfim realizar seu projeto de entrar no maior mercado da América Latina. Mas diz que está enfrentando um obstáculo: a contabilidade das empresas com as quais negocia.
"Estamos prontos para fazer negócios acima de US$ 100 milhões", disse ele ao Valor. "Estamos em discussão com duas ou três empresas, mas a contabilidade é falha, trabalham muito na informalidade e, como empresa estrangeira, não podemos ir por aí".
Adi Godrej é um dos barões da indústria indiana e integra a lista de bilionários da revista "Forbes", com fortuna familiar próxima dos US$ 4 bilhões.
Sua família fundou a companhia em 1897, e começou a ganhar dinheiro em 1920 quando passou a produzir sabão à base de óleo vegetal, em vez de usar sebo animal. Foi um sucesso entre os hindus vegetarianos.
Desde então, a Godrej Industries se tornou um conglomerado, com negócios que vão de químicos, máquinas de lavar a produtos para tingir cabelos. Atualmente, a companhia coloca ênfase no mercado imobiliário. Tem alguns dos terrenos mais valorizados de Mumbai, onde surgem apartamentos a preços milionários.
O conglomerado teve faturamento de US$ 1,7 bilhão em 2007, mas os negócios caíram no ano passado no rastro da crise financeira e da menor demanda nas dezenas de países onde vende seus produtos para a classe média.
Adi Godrej costuma contar que já visitou mais de 80 países, e que seu favorito é o Brasil. E desde 2006 anuncia a intenção de se posicionar no mercado brasileiro, depois de expansões pela China, Indonésia e outros países.
Chamado de "bilionário paciente" por alguns jornalistas indianos, ele diz que vai decidir em três meses se enfim fecha negócio no Brasil. ´´Queremos realmente entrar no mercado brasileiro, a começar por produtos para tratamento de cabelos, mas precisamos ter cuidado com a contabilidade".
Um empresário brasileiro conta que enfrentou o mesmo problema de Godrej no setor de cosméticos. Quis adquirir uma pequena empresa de esmalte em plena expansão no Brasil, mas o negócio não foi concluído quando ele constatou que a companhia estava mergulhada na economia informal. O temor de depois ter de pagar a Receita Federal pela evasão do patrão anterior fez a operação capotar.
O Brasil é o segundo maior consumidor mundial de produtos de beleza, superando o Japão e perdendo apenas para os Estados Unidos. Em 2008 as vendas do setor cresceram 10,4% para R$ 24,54 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).
Veículo: Valor Econômico