O Natal deste ano não deverá ser dos melhores para a indústria mineira. As encomendas do varejo voltadas para formação de estoque para a data ainda não tiveram início, contrariando a lógica histórica. Pelo que tudo indica, os comerciantes vão iniciar as compras pelos produtos importados e passarão para os nacionais apenas se houver demanda que justifique. Como resultado, ao invés de contratar temporários, os industriais estão demitindo funcionários para reduzir os custos na época que deveria ser a melhor do exercício.
Mesmo as roupas sendo um dos produtos mais demandados durante o fim do ano, a indústria têxtil ainda não sentiu os efeitos positivos. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas no Estado de Minas Gerais (Sindmalhas), Flávio Roscoe, na melhor das hipóteses o setor fechará o segundo semestre no mesmo patamar de mesmo período de 2013.
E as encomendas ainda não chegaram aos industriais. "A cadeia vem se programando menos. O mercado vai se abastecer de última hora porque está comprando os importados primeiro, que demoram mais para chegar no país. Eles deverão complementar as compras depois com os produtos nacionais", afirma. O problema de as encomendas chegarem mais tarde, segundo Roscoe, é o fato de não haver tempo hábil para se produzir em grande escala. Dessa forma, o resultado acaba sendo produção menor.
Calçados - Os calçados, que costumam ser bastante demandados nas festas de fim de ano, também sofrem com baixa nas encomendas. Segundo o Sindicato da Indústria de Calçados do Estado de Minas Gerais (Sindicalçados-MG), Jânio Gomes, o setor não deverá crescer neste ano. "Cheguei a ter expectativa de crescermos entre 3% e 5% neste ano, mas com o primeiro semestre ruim, e as encomendas para o Natal escassas, acho que vamos no máximo manter o resultado registrado no ano passado", afirma.
Para evitar prejuízos, os empresários da indústria de calçados estão produzindo menos e demitindo parte da mão de obra ociosa. Ele explica que, além da concorrência dos produtos importados, internamente também existe forte disputa. Com os mercados de outros países menos demandantes, produtores brasileiros exportam menos e vendem mais no mercado interno. E essa concorrência piora ainda mais a situação de cada empresa individualmente.
O analista de economia da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Juan Moreno de Deus, explica que a tendência é de formação de estoque menor neste ano em relação aos anteriores no varejo.
O desaquecimento da economia e o receio de as vendas ficarem abaixo do esperado são algumas das justificativas que levam os lojistas a pisarem no freio. Além disso, o comércio está muito estocado, o que elimina a necessidade de se comprar uma série de itens.
A indústria de brinquedos segue na contramão dessa tendência negativa e trabalha com expectativa de crescimento de 12% nas vendas neste semestre frente ao mesmo período de 2013.
O presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, explica que o setor tem algumas características que o isenta de sofrer as conseqüências de uma crise econômica. "Nós trabalhamos com sonhos. As pessoas podem deixar de comprar uma roupa nova ou de trocar o carro. Mas os pais tentam sempre dar um presente para os filhos, mesmo que escolham uma lembrancinha mais barata. Mas raramente a data passa em branco se for um costume da família presentear no Natal", afirma.
Veículo: Diário do Comércio - MG