Carente por fusões e aquisições, os investidores reagiram com euforia aos rumores de uma união entre a gaúcha Renner e a paulista Marisa. O negócio criaria a gigante do fast fashion
Fabrício Bernardes
Na semana passada, dois rumores colocaram em evidência o varejo de moda. O primeiro e principal deles dava conta de que a gaúcha Lojas Renner estaria negociando uma fusão com a rede paulista Marisa, uma operação que criaria uma gigante de R$ 11,7 bilhões de valor de mercado, cerca de R$ 2 bilhões de faturamento anual e 624 lojas espalhadas por todo o País. O segundo rumor dizia que a Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc, John John, Bô.Bô e Rosa Chá, estaria negociando sua venda para a concorrente Inbrands, que possui no portfólio a Ellus, a VR e a Alexandre Herchcovitch, entre outras.
As notícias, embora tenham sido negadas pelas empresas mencionadas, fizeram as ações da Marisa subir 16% na segunda-feira 4, pela manhã, e fechar o dia com valorização de 9%. Os papéis da Restoque negociados na bolsa subiram 8,32% no mesmo dia. A euforia vista na Bovespa mostra que a possibilidade de criação de novas potências do varejo de fast fashion foi bem recebida pelos investidores, especialmente pelo fato de que a Renner e a Marisa são complementares operacionalmente.
A Renner, líder em valor de mercado, com R$ 9 bilhões, voltada para os consumidores B, teria muito do que se beneficiar caso incorporasse a clientela da Marisa – que vale R$ 2,7 bilhões na bolsa –, constituída predominantemente de emergentes da classe C. Enquanto isso, a Renner, forte em shoppings, precisa melhorar sua presença no Nordeste, onde a Marisa é mais presente, além de operar mais lojas de rua. No caso da Restoque e da Inbrands, os públicos são semelhantes, oriundos das classes A e B, e consumidores assíduos em shoppings. Mesmo assim, o possível namoro entre elas chamou a atenção do mercado.
“O varejo de moda está carente de grandes transações”, diz Alberto Serrentino, dono da consultoria Varese Retail. Ao longo dos anos, foram realizadas algumas operações, como a aquisição da Puket, rede de moda íntima, de São Paulo, pela malharia catarinense Malwee ou a incorporação pela rede fluminense Leader do grupo Seller, de Campinas, no interior de São Paulo. “Mas nenhuma dessas operações mexeu com a configuração do varejo em escala nacional”, diz Serrentino. A eventual fusão da Renner com a Marisa daria um impulso para a expansão dos negócios de ambas no interior do País.
A Renner, embora líder de varejo de moda em faturamento, tem apenas 227 lojas. “Não há nenhuma marca de alcance realmente nacional”, diz Marcelo Prado, diretor do Iemi, instituto especializado em análises do setor. De acordo com Prado, as lojas de departamento especializadas em moda respondem por apenas 30% das cifras movimentadas pelo varejo de vestuário. “Os investidores sabem que ainda há muito espaço para crescer”, afirma Prado. “Não há nenhum player isolado na dianteira.” A Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), da qual fazem parte a Renner e a Marisa, reconhece que há uma grande pulverização do mercado.
As 34 redes associadas à instituição, que são as maiores do setor, respondem por 18% das vendas totais, o que evidencia a presença considerável de micro, pequenas e médias empresas em atuação. Isso sem contar a força de redes de supermercados e outras lojas que, embora não tenham a moda no seu core business, também vendem roupas. Esses players representam mais 16% do volume das vendas. Mesmo fragmentado, o varejo de moda tem seduzido os investidores por conta de sua rentabilidade, como comprova o desempenho dos papéis da Renner e da Marisa, a partir dos rumores sobre uma eventual união entre elas.
“A margem de lucro da venda de vestuário é muito maior que a de eletrônicos, por exemplo”, diz Prado, do Iemi. Existe, evidentemente, uma esperança do mercado por uma operação do tamanho da observada recentemente no varejo farmacêutico e de eletroeletrônicos. A expectativa é que se repitam episódios recentes como a associação entre a mineira Ricardo Eletro e a baiana Insinuante, em 2010, ou a fusão da rede de farmácias paulistas Droga Raia com a Drogasil, no ano seguinte. No entanto, resta uma questão: será que as empresas do setor de confecção estão preparadas para uma maior concentração dos negócios? A resposta poderá vir em breve.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro