A boneca mais famosa do planeta chega aos 50 anos em crise de identidade e com as vendas em queda
A aparência cansada e as rugas que cobrem a face da americana Barbara Millicent Robert não são suficientes para ofuscar a beleza de quem reinou por várias décadas como o maior ícone do segmento de fashion doll - bonecas estilosas, em tradução literal. Mais conhecida como Barbie, seu estilo de vida e sua silhueta esguia - equivalente a uma mulher de 1,75m de altura, 91,5 cm de busto, 45,7 cm de cintura e 84 cm de quadril - serviram de inspiração para centenas de milhares de meninas de todos os cantos do planeta. Todas queriam ser como ela. O sucesso fez com que a boneca, criada por Ruth Handler, sócia da Mattel, se transformasse na principal alavanca de vendas de um conglomerado cuja receita anual soma US$ 6 bilhões. Prestes a completar 50 anos, contudo, a boneca loira de 28 cm já sente o peso da idade. No campo financeiro está longe de ser o fenômeno de outrora. Em 2008, suas vendas caíram 9%, enquanto a comercialização das demais fashion dolls avançaram 11%. Resultado direto do acirramento da concorrência e de diversos erros estratégicos cometidos pela Mattel. O principal deles foi a falta de agilidade para reagir à chegada de concorrentes mais antenadas com as aspirações da chamada geração internet.
Basta acompanhar o sucesso de Bratz, uma adolescente com cabeça e pés grandes, salto plataforma e pose de atrevida. A personagem foi rapidamente assimilada pelas pré-adolescentes que consideravam, em boa medida, que Barbie era coisa de criança. Lançada em 2001 pela pequena MGA Entertainment, de Los Angeles (EUA), a Bratz se tornou um fenômeno global. A direção da Mattel acusou o golpe. Deixou de lado a postura blasé e colocou em marcha uma verdadeira operação de guerra. Afinal, a Barbie sozinha responde por 30% de suas vendas totais. Por isso, criou versões mais despojadas e étnicas da boneca, como a My Scene, e colocou o perfil da boneca no MySpace e no Facebook. Lançou uma linha de fashion dolls bastante iradas, Flavas, inspirada na cultura hip-hop. A ideia era fazer desse modelo uma "versão de combate" para deter o avanço da arquirrival. Não deu certo. As vendas continuaram despencando ano após ano. Sem sucesso no campo mercadológico, a direção da Mattel, então, mudou de tática. Ingressou na Justiça contra a MGA, acusando o designer Carter Bryant, pai da Bratz, de ter roubado o nome e o desenho da boneca do acervo da Mattel, quando trabalhou por lá. Em agosto último, a MGA foi condenada a indenizar a empresa em US$ 100 milhões.
Além da arena jurídica, a Mattel também se prepara para reagir no campo das fashion dolls. Para marcar o cinquentenário de Barbie, a companhia fará um megadesfile no sábado 14, na prestigiosa Semana de Moda de Nova York. A escolha do local deve-se ao fato de sua primeira aparição pública ter ocorrido em uma feira de brinquedos nessa cidade. A volta à Big Apple será em grande estilo. A Mattel convidou 50 renomados estilistas para desenhar peças inspiradas na boneca. Designers como a americana Vera Wang e o francês Christian Louboutin. Ela desenhou um sofisticado vestido de noiva que custa, na versão adulta, US$ 15 mil, ou US$ 159,99 no corpo da Barbie. Louboutin, por sua vez, apresentará sapatos inspirados no universo da boneca. Em matéria de guarda-roupa, a personagem é sem dúvida imbatível. Em cinco décadas ela já esteve na pele de 108 profissionais diferentes, incluindo um uniforme militar aprovado pelo Pentágono. Seu guardaroupa é composto por um bilhão de peças e uma de suas versões especiais, a Barbie Princesa Liana, era cravejada com 318 diamantes e foi avaliada em US$ 94,8 mil. A peça repousa no cofre da Mattel.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro