Os oásis do emprego

Leia em 5min 30s

Apesar da retração do mercado de trabalho, ainda há muitas empresas contratando.
 


O departamento de recursos humanos da rede varejista Carrefour, no bairro do Morumbi, em São Paulo, fez em janeiro deste ano o trabalho que, em outros tempos, seria realizado em muito mais do que 30 dias. A agitação não tinha nada a ver com demissões ou crise, muito menos com o receio de recessão. A movimentação atípica do departamento refletia a contratação de milhares de pessoas, que trabalharão nas atuais 544 lojas e nas 70 que serão inauguradas neste ano em todo o País. E períodos agitados como este serão cada vez mais frequentes na empresa, que tem hoje 62 mil empregados. Um amplo processo de reestruturação, que pretende otimizar a gestão dessa gigante supermercadista, tem aberto diversas oportunidades de trabalho. Durante o ano, serão 16 mil oportunidades.

 

A dona de uma dessas vagas é administradora Graziella Batista, 29 anos, especialista em RH. Depois de estudar e trabalhar na Suíça, Inglaterra e Austrália, foi contratada pelo Instituto Carrefour no final de janeiro com a missão de treinar gerentes, supervisores e diversos outros profissionais de alto escalão da empresa. "A crise gerou oportunidades. A responsabilidade é grande. Em tempos como este, temos que fazer ainda mais a diferença", disse. A contratação de Graziella não chamaria nenhuma atenção meses atrás. Mas hoje chama. Ela subiu um importante degrau na carreira em meio à maior crise financeira global, que deve tirar o emprego de mais 50 milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive no Brasil. Na mesma hora em que Graziella ganhou um novo carimbo na carteira profissional, outros 80 foram incorporados pela empresa, num sinal de que a roda do emprego continua girando.

 

O exemplo de Graziella no Carrefour não é uma exceção no mundo corporativo. Enquanto centenas de empresas cortam custos, demitem e colocam em prática manobras arriscadas para se ajustar à nova realidade global, um grupo de grandes empregadoras do País continua em busca de talentos. Não muito diferente do Carrefour está o Wal-Mart. Embora tenha sede nos Estados Unidos, o epicentro da crise, se prepara para contratar no Brasil quase dez mil pessoas neste ano para trabalhar em até 90 novas lojas, dentro do maior plano de expansão desde que a maior companhia varejista do mundo colocou os pés no Brasil, em 1995. À primeira vista, as contratações e os investimentos de R$ 1,8 bilhão previstos para o País neste ano sugerem que a rede está alheia às turbulências internacionais. No entanto, trata-se de uma estratégia para equilibrar as contas globais da companhia. "Os hábitos de consumo no mundo têm mudado, enquanto o mercado brasileiro tem crescido significativamente. De forma sustentável, vamos acompanhar de perto essa evolução", justificou o presidente do Wal-Mart Brasil, Héctor Nunes.

 

Embora o varejo seja a grande estrela do emprego, as oportunidades estão pulverizadas por vários setores. Mesmo entre as empresas que recentemente anunciaram demissões, como a Vale, que cortou 1,3 mil postos de trabalho, ainda existem núcleos de emprego. A mineradora não revela número de contratações, mas mantém ativo um processo seletivo de geólogos, analistas ambientais e técnicos para dezenas de funções. O mesmo acontece na Petrobras. Os investimentos mentos na exploração do pré-sal têm estimulado a abertura de postos de trabalho. Até dezembro, serão mais de 2,5 mil vagas na estatal.

 

Entre os maiores empregadores também se destaca a rede McDonald's. Apesar da crise no final do ano passado, a empresa contratou 38,4 mil pessoas, bem acima dos 33,7 mil de 2007. Neste exato momento, pelo menos cinco mil vagas serão abertas, tanto para o atendimento quanto para cargos de supervisão e gerência. "Nossas vendas têm crescido bem e essas contratações refletem o bom momento da companhia no País", afirmou o diretor de RH do McDonald's, Luis Bueno. Um dos beneficiados por essa onda de contratações foi Danilo dos Santos Sestario, de 16 anos. "Estou feliz em dobro. Primeiro porque consegui meu primeiro emprego e, segundo, porque conquistei uma vaga numa época em que todo mundo fala em demissão", disse ele.

 

Uma boa maré de contratações também ocorre no setor de call center. O mercado cresce impulsionado pela necessidade de cortes de custos nas empresas. A SPCom, por exemplo, tem quatro mil vagas - somente no mês passado foram 300 novos funcionários. A Atento, do grupo Telefonica, uma das maiores empregadoras privadas do País, com 72 mil empregados, abrirá seleção para milhares de postos de trabalho - em janeiro, foram três mil, entre teleoperadores, especialistas para as áreas de tecnologia e sistemas, além de promotores de vendas e executivos.

 
 
A tendência é a mesma no setor de tecnologia da informação. Segundo a Abracomm, associação que representa as empresas de TI, o segmento contratará 40 mil pessoas neste ano. "Tem mais vaga do que candidato", garantiu o presidente da entidade, Antonio Carlos Rego Gil. "Crise? Não há crise nesse nosso setor. Se o PIB crescer 2%, nossas empresas vão crescer 6%", completou. Uma dessas empresas é a BRQ. A companhia de TI tem dois mil empregados e está garimpando o mercado de trabalho em busca de profissionais. O sócio-diretor Antonio Eduardo Rodrigues afirma que pelo menos 600 vagas estão prontas para serem ocupadas. "Com a crise, muitas empresas estão acelerando projetos de economia de escala. Isso tem aumentado a procura por nossos serviços", destacou. E graças a esse aumento surgiu uma oportunidade para o analista de sistemas Davi Armelim. Ele foi contratado pela BRQ na primeira semana de janeiro e, desde então, já foi cortejado por outras empresas. "Sob o ponto de vista do emprego no meu ramo, não há crise."

 

A Odebrecht também rema contra a maré das demissões. A companhia efetivou 23 mil funcionários no ano passado, atingiu a marca de 82 mil empregos diretos e planeja continuar contratando em 2009, principalmente para as áreas de engenharia e energia. Apenas uma das empresas do grupo, a ETH Bionergia, fará seleção para 2,3 mil vagas nos próximos meses. De acordo com a agência de emprego Catho, inegavelmente existem setores que desconhecem as palavras crise e demissão, com destaque para varejo, energia, comércio eletrônico e TI. Em outras palavras, enquanto o fantasma do desemprego mostra os dentes, há também muita gente sorrindo, no emprego novo.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


Veja também

Qual é a marca do jeans

Entenda por que a espanhola Tavex decidiu aposentar a mais tradicional grife do tecido no País, a Santista  ...

Veja mais
Nem pensar

Num encontro de grandes clientes da IBM, na quartafeira 4, o presidente das Casas Bahia, Michel Klein , soltou a bomba: ...

Veja mais
O marketing da bombacha

Para uma empresa fazer sucesso no Rio Grande do Sul,ela tem de ser gaúcha ou, pelo menos, parecer gaúcha ...

Veja mais
Rede Modelo investe em nova ferramenta para as compras

A rede de supermercados Modelo, com 14 lojas no Mato Grosso, lançou o Modelo IBI MasterCard - cartão de fi...

Veja mais
Vendas do Wal-Mart nos EUA em janeiro superam previsão

As vendas nas lojas do Wal-Mart abertas há pelo menos um ano nos Estados Unidos cresceram 2,1% em janeiro. J&aacu...

Veja mais
Supermercado prevê vendas até 20% maiores no carnaval

Confiante nas vendas sazonais de carnaval, mesmo em momento de crise, o Grupo Pão de Açúcar decidiu...

Veja mais
Kibon marca presença no Carnaval

A Kibon fechou parcerias neste carnaval e vai distribuir picolés da marca e drinks feitos com sorvetes Fruttare e...

Veja mais
Pesquisas refletem incertezas do mercado

Diversas consultorias de recursos humanos têm tentado sentir a pulsação do mercado de trabalho duran...

Veja mais
AstraZeneca fatura R$ 1,2 bi no Brasil

O faturamento bruto da farmacêutica AstraZeneca no Brasil atingiu a marca de R$1,2 bilhão no acumulado de j...

Veja mais