Diante do fenômeno mundial de desaparecimento das abelhas e do reconhecimento da qualidade do mel brasileiro no mercado externo, as exportações do produto de Minas ganharam força em 2014, registrando aumento de 130% de janeiro a setembro. Além disso, depois de o Estado registrar perdas de metade das colmeias em algumas regiões produtoras em 2013, neste ano, a produção mineira de mel deve crescer 150%, mesmo com o longo período de estiagem.
"Em 2013, algumas regiões produtoras registraram queda de até 50% das colmeias porque as abelhas sumiram. Neste ano, tivemos uma florada atípica superior de néctar porque várias abelhas, não se sabe porquê, voltaram para as caixas e a produção de mel foi muito maior, cerca de 150% superior, mesmo com a seca. Por outro lado, o volume de própolis produzido foi 30% menor", afirmou o presidente da Cooperativa Nacional de Apicultura (Conap), Cristiano Carvalho, que representa cerca de 250 apicultores, majoritariamente de Minas Gerais e parte de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.
Apesar de não ter arriscado um número, Carvalho afirmou que as exportações de mel, puxadas pelo fenômeno de desaparecimento das abelhas em todo o mundo e pelo reconhecimento da qualidade do mel brasileiro, também "cresceram bastante".
Dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) comprovam o aumento dos embarques. No acumulado até setembro deste ano, Minas exportou 1,2 milhões de toneladas de mel contra 546,8 mil toneladas no mesmo período de 2013, alta de 130%.
A receita gerada com os embarques do mel produzido em Minas de janeiro a setembro foi de US$ 4,9 milhões, 188,2% maior do que em iguais meses de 2013 (US$ 1,7 milhões). Os preços também cresceram neste ano. A cotação do mel foi em média 25% superior em 2014, conforme os dados do Mdic. Os principais destinos foram os Estados Unidos e a Europa.
O resultado poderia ter sido ainda melhor, considerando que muitas tradings do Rio Grande do Sul, por exemplo, compram o mel mineiro e vendem no mercado externo. Dessa forma, como explica o presidente da Conap, as exportações são contabilizadas para aquele Estado e não para Minas, onde o mel foi de fato produzido.
Causas - Sobre o desaparecimento das abelhas, Carvalho explicou que há várias teses para justificar o fenômeno mundial, mas a mais defendida atualmente é a de que os defensivos agrícolas estão matando os insetos. "Acredito que não é só isso, até porque os defensivos sempre foram usados e hoje o uso é mais racional. Na minha opinião, o fenômeno tem a ver também com as mudanças climáticas do planeta", disse.
Há relatos de abelhas sumindo em todo o mundo, abandonando as colmeias com mel, mas não há registro de abelhas encontradas mortas. Daí a justificativa do fenômeno ser conhecido pelo nome popular de "desaparecimento" ou "sumiço". O nome oficial é colony collapse disorder (CCD), em inglês, ou síndrome do colapso da colônia.
Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que metade da população de abelhas deixou de existir. Conforme levantamento do Coloss, rede de cientistas de mais de 60 países que estuda o sumiço das abelhas, algumas regiões da Europa já perderam até 53% de suas colônias nos últimos anos. Japão, China e o Brasil também foram afetados pelo fenômeno.
Estudos mais recentes apontam que o causador do sumiço das abelhas seria um tipo de vírus, que causa modificações genéticas nos insetos e estaria, portanto, provocando este comportamento das abelhas, cujo desaparecimento pode ter conseqüências mais graves do que a falta de mel e própolis. São as abelhas as responsáveis pela polinização de mais da metade das espécies de plantas floríferas e de vários alimentos.
" muito importante sensibilizar a sociedade sobre este assunto para que a esfera governamental faça uma verdadeira força tarefa para investigar o fenômeno e proteger as abelhas", reforça Carvalho.
Veículo: Diário do Comércio - MG