Apesar da queda praticamente contínua do consumo de suco de laranja nos Estados Unidos, os preços da bebida no varejo americano não param de subir, e especialistas identificam nesse movimento um círculo vicioso que colabora para acentuar a curva de baixa da demanda.
Conforme já informou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, no período de quatro semanas encerrado em 22 de novembro, por exemplo, os consumidores do país compraram no varejo 38,06 milhões de galões (cada galão equivale a cerca de 3,8 litros) de suco, 8,2% menos do que em igual intervalo de 2013. Na mesma comparação, o preço médio do galão vendido subiu 4,9%, para US$ 6,47.
A equação resultou em uma retração de 3,7% do valor total das vendas, que ficou em US$ 246,07 milhões. E a tendência é que a erosão se aprofunde, já que, mesmo antes de a espiral de alta dos preços ter se tornado mais aguda nos EUA, a proliferação de bebidas mais baratas no varejo já vinha tirando espaço do suco de laranja na mesa dos americanos.
Analistas ressalvam que o aumento dos preços não é uma simples tentativa de compensar a queda do volume de vendas. Mais que isso, é um reflexo da queda da oferta vinda da Flórida, onde o parque citrícola, o segundo maior do mundo, sofre o duro ataque da doença conhecida como greening. A mesma doença afeta os pomares de São Paulo, que lidera a produção mundial de laranja. Mas os problemas causados por aqui ainda são menos graves, apesar dos recentes sinais de avanço captados por citricultores e indústrias de suco.
Mesmo que a redução da oferta de suco nos EUA esteja servindo para sustentar as exportações do Brasil para aquele país - foram 77,1 mil toneladas entre julho e novembro, ou US$ 137 milhões, mesmos níveis de igual período de 2013 -, os rumos do mercado americano, que absorve cerca de 40% do consumo global da bebida, preocupam a cadeia produtiva paulista pelos reflexos globais que podem ter em um momento que parecia indicar uma possível retomada.
Estudo divulgado em meados deste ano pelo Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia (Markestrat), com sede em Ribeirão Preto (SP), contrariou os dados da Nielsen e apontou um aumento de 25 mil toneladas no consumo total de suco de laranja nos EUA já em 2013, para 729 mil toneladas. Pouco perto do recorde de 1,1 milhão de toneladas de 2000, mas um alento após mais de uma década de quedas sucessivas.
Diante da recuperação da economia dos EUA e do reforço das campanhas de promoção do suco de laranja no país patrocinada pela cadeia produtiva da Flórida, a expectativa era que essa reação do consumo, creditado a vendas no "pequeno varejo" americano, perdurasse em 2015, o que poderia continuar a favorecer as exportações brasileiras, lideradas por Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus. Mas 2014 chega ao fim com esse otimismo desidratado.
Veículo: Valor Econômico