A Vidroporto espera dobrar o faturamento para R$ 350 milhões enquanto deve elevar de 300 para 500 o quadro de funcionários. Já a Verallia firmou joint venture para atender a Região Nordeste
Depois do aquecimento em 2014, apoiado no segmento de bebidas, o mercado brasileiro de embalagens de vidro se prepara para crescer ainda mais nos próximos anos e vê a utilização da sua capacidade instalada chegar ao limite. A indústria de embalagens de vidro está concentrada em três grandes players no Brasil: as multinacionais Owens-Illinois e Verallia (do grupo francês Saint-Gobain), além da brasileira Vidroporto. Recentemente, a Vidroporto anunciou um aporte de 60 milhões de euros para mais que dobrar a sua capacidade de produção na planta de Porto Ferreira (SP). "Temos mais flexibilidade para atender aos clientes porque somos menores", afirmou ao DCI o diretor-presidente da empresa, Edson Rossi.
Segundo ele, a companhia produzia cerca de 20 mil toneladas por ano em meados de 2004. Hoje, cerca de 75 mil toneladas anuais. "Estamos operando basicamente a 100% da nossa capacidade."
Com participação de mercado em torno de 8% e clientes como Ambev, Cervejaria Petrópolis e Cia. Müller (cachaça 51) na carteira, a Vidroporto empregava cerca de 300 funcionários antes da ampliação. Agora, a empresa espera dobrar o faturamento para R$ 350 milhões já em 2015 e o número de colaboradores deve subir para 500.
De acordo com Rossi, a maioria das cervejarias trabalha com garrafas personalizadas, que se traduzem em fidelização para a indústria de embalagens de vidro. Além disso, ele acredita que os consumidores enxergam o valor agregado ao vidro. "Os produtos mais nobres estão ganhando a mesa do brasileiro e o vidro está certamente nesse consumo", acredita.
A Vidroporto projeta ter registrado em 2014 um crescimento de 20% em relação ao ano anterior. "Existe uma demanda reprimida de garrafas de vidro para bebidas. Há uma vontade grande de usá-las mais do que a lata de alumínio, por exemplo", garante Rossi.
Ebulição
O mercado de embalagens de vidro está tão aquecido que os fabricantes locais operam a quase 100% da capacidade instalada. "Neste ano, vamos vender tudo o que produzimos, volume que se aproxima de 300 mil toneladas", afirma o gerente comercial da Verallia, Alexandre Oliveira.
O negócio anda tão bem para a subsidiária do grupo Saint-Gobain que foi necessário formar uma joint venture com um grupo local para produzir vidro em Sergipe. "O Nordeste está crescendo acima do mercado nacional. Diversas marcas de alcoólicos estão investindo na região", pontua.
Com a nova planta, cujo início de operação está previsto para novembro de 2015, a Verallia poderá aumentar em até 115 mil toneladas por ano a sua capacidade de produção. "Tudo dependerá da velocidade com que o mercado irá demandar o nosso produto", diz.
De acordo com o executivo, os segmentos de vinhos e espumantes cresceram mais em 2014. Sobre uma base muito maior, o desempenho de cerveja foi razoável e o de não alcoólicos também cresceu, principalmente de suco de uva. "Todos os mercados devem registrar incremento, inclusive o de cerveja, que hoje existe um déficit da demanda por vidros", diz Oliveira.
Bebidas alcoólicas de maior valor agregado, como vodca, e as chamadas especiais, que possuem menor teor de álcool, também devem apresentar incremento da demanda no mercado nacional. "O potencial do segmento de bebidas é muito forte no País", destaca.
O executivo afirma, no entanto, que o mercado de vidro para alimentos não tem apresentado demanda satisfatória. "Sofremos muito com a concorrência de outros tipos de embalagens, como plástico, por exemplo", diz.
Abaixo do esperado
Apesar de operarem a quase 100% da capacidade instalada, os fabricantes de vidro são unânimes ao afirmar que o mercado de bebidas e alimentos não evoluiu como esperado em 2014. "O início do ano é sempre um período mais morno para a nossa indústria, ao passo que é aquecido perto de dezembro por conta das festas de Natal e ano novo. Porém, fomos pegos de surpresa porque, ano passado, a situação se inverteu", afirma o gerente de marketing da Owens-Illinois no País, Daniel Amaral.
Ele afirma que, no caso da indústria de vidro para bebidas, a Copa do Mundo pouco favoreceu o setor. "A lata de alumínio foi a mais beneficiada", conta o executivo.
No entanto, alguns fatores impulsionaram o desempenho da empresa neste ano, como tempo seco, verão prolongado e muitos feriados. "Vamos fechar o ano com um resultado muito bom", garante o executivo. Considerada a líder global, a Owens não divulga números. O setor estima que a empresa detém fatia de 70% no Brasil.
"Não dependemos de um negócio, apenas. Trabalhamos com alimentos, farmacêutica, bebidas alcoólicas e não alcoólicas", explica o executivo.
Amaral destaca que o vidro possui a vantagem de resultar em diversas transações tanto para o varejo quanto para o próprio consumidor. "Enquanto concorrentes como alumínio e PET são vendidos apenas uma vez, o vidro pode ir e voltar ao ponto de venda cerca de trinta vezes", explica.
Para 2015 a Owens está bastante otimista. "Garanto que a demanda vai crescer para nós", diz Amaral. "Há uma forte movimentação dos nossos concorrentes para ampliação de capacidade", pontua Amaral.
Veículo: DCI