Com redução de 5,24% em relação à última safra, área plantada será de pouco mais de 48 mil hectares, diz Emater
O plantio da primeira safra de feijão foi encerrado na última semana no Estado. Houve redução da área plantada devido, principalmente, à perda de espaço para soja. Além disso, segundo a Associação dos Produtores de Feijão do Rio Grande do Sul (Aprofeijão-RS), a falta de mão de obra para a colheita faz com que pequenos produtores abandonem a cultura, que fica, cada vez mais, concentrada em grandes propriedades. Algumas regiões iniciaram a colheita ainda em dezembro, mas encontram dificuldades pelo excesso de chuva. Com isso, a produtividade também pode apresentar queda.
De acordo com o gerente técnico da Emater, Dulphe Machado Neto, o plantio ocupa 48,6 mil hectares, redução de 5,24% na comparação com a última safra. Em condições climáticas normais, a produtividade deve ser de 1,3 mil toneladas por hectare, queda de 4% na comparação com as 1,4 mil toneladas do ano passado, considerado um desempenho recorde. Dessa maneira, a produção gaúcha tende a cair 9%, fechando em 66,8 milhões de toneladas. A região de Caxias tem a maior participação em nível estadual, com 11,6 mil hectares e expectativa de colher, novamente, 1,4 mil toneladas por hectare.
Para Machado Neto, assim como no caso do milho, o feijão vem perdendo espaço, paulatinamente, para a soja. O processo, inclusive, está representado na série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O cultivo ocupava, em 2001/2002, mais de 124 mil hectares no Estado. Dez anos depois, em 2011/12, a área havia reduzido pela metade, com menos de 60 mil hectares plantados. A previsão da entidade – mais conservadora do que a da Emater - em no seu último levantamento, era fechar 2014/2015 pouco acima dos 43 mil hectares. Enquanto isso, a soja ocupará 5,1 milhões de hectares.
O presidente da Aprofeijão-RS, Tarcísio Ceretta, agrega mais uma causa para o menor interesse dos produtores no feijão: a escassez de mão de obra no campo. Afinal, as pequenas propriedades ainda necessitam da assistência de trabalhadores, principalmente, no período da colheita, em parte realizada manualmente. As regiões Central e do Alto Uruguai são as mais afetadas, segundo Ceretta. “O maquinário traz grande aproveitamento, mas é caro e acaba ficando disponível apenas aos grandes produtores, que tem concentrado a produção gaúcha”, explica.
Clima beneficia as pastagens e favorece os rebanhos
As chuvas frequentes, a elevação gradual da temperatura e o calor intenso em determinados períodos proporcionaram condições para o desenvolvimento vigoroso das pastagens de verão no Rio Grande do Sul, propiciando boa oferta de forragem aos animais. Conforme o informativo conjuntural da Emater, o rebanho leiteiro apresenta boas condições nutricionais e sanitárias, e a produção mantém-se estável, com tendência de aumento, caso persistam as condições climáticas atuais. No momento, os criadores intensificam o preparo de silagem de milho.
Na região Noroeste, pequenos produtores leiteiros estão com dificuldade de comercializar sua produção, aumentando a oferta de leite in natura nas periferias da cidade de Santo Ângelo. Algumas empresas com restrições impostas pelo Ministério Público continuam não pagando os produtores em dia.
Na área central do Estado, existe uma tendência de penalização de parte dos produtores, devido ao fato de não preencherem a cota mensal de volume de leite e, principalmente, pela falta de qualidade. Algumas rotas deficitárias estão em alto risco de não terem seu leite recolhido. Nas regiões Celeiro, Alto Jacuí e Noroeste Colonial, a comercialização dos pequenos produtores e cooperativas ainda encontra dificuldades e apresenta preços desestimulantes. Há um aumento na exigência na qualidade do leite.
Nos vales do Taquari e Caí, apesar da queda nos preços pagos pelo leite, da reclamação dos produtores e da desistência de alguns, estão ocorrendo muitos investimentos no setor, principalmente em construções que auxiliam na facilidade das atividades diárias, no bem-estar animal e na melhoria da qualidade do leite. Para isso, estão sendo implementadas muitas salas de ordenha, com aumento da área construída na região de Lajeado. Entretanto, muitos produtores ainda estão à espera para receber pelo leite entregue para as indústrias que tiveram problemas com fraudes e foram fechadas.
Na bovinocultura de corte, prossegue o período reprodutivo, com bom escopo corporal das matrizes, fator que deverá refletir positivamente nos índices de natalidade do rebanho no Estado. Esse período deverá se estender até final de fevereiro. Seguem os cuidados com os terneiros nascidos e que apresentam boas condições de crescimento e desenvolvimento. As condições climáticas favoráveis no mês de dezembro beneficiaram a brotação e o volume forrageiro do campo nativo; assim, onde as lotações estão adequadas, é bom o desenvolvimento corporal aos rebanhos.
No momento, os pecuaristas intensificam os trabalhos de controle de parasitas devido às elevadas temperaturas, especialmente com o aparecimento de verminoses, moscas e carrapatos. Em alguns locais, já está ocorrendo a incidência de carrapato, o que leva os produtores a monitorarem os rebanhos constantemente.
Excesso de chuva atrapalha início da colheita no Estado
Com o plantio finalizado no Rio Grande do Sul, algumas localidades da Serra e do Alto Uruguai iniciaram, ainda em dezembro, a colheita do feijão. De acordo com a Emater, até a última semana, 11% da safra estava colhida. No mesmo período do ano passado, o percentual era de 19%. A média histórica para a data é de 17%. Ainda que o desenvolvimento e o rendimento – cerca de 1,2 mil toneladas por hectare - da cultura sejam considerados entre razoáveis e bons, a chuva dos últimos dias tem impedido o trabalho de campo.
Segundo o presidente da Aprofeijão-RS, Tarcísio Ceretta, a alta umidade associada ao calor também ocasionou o aparecimento de doenças, principalmente, de solo, e dificultou o tratamento da lavoura. “Para quem está iniciando a colheita, o ideal seria alguns dias de baixa umidade. Mas ainda temos previsão de 150 milímetros de precipitações nesta semana. O restante da colheita deve ficar mesmo para o resto de janeiro. A chuva tem inchado a vagem, e, por isso, acontece de soltar a casca e diminuir a produtividade e a qualidade do produto”, explica Ceretta.
Em relação ao preço para esta safra, a saca de 60 quilos está cotada em R$ 114,00, segundo levantamento da Emater relativo à última semana de dezembro. A série histórica, que leva em conta a média nos últimos quatro anos, para o mês de dezembro é de R$ 103,00. O gerente técnico da Emater, Dulphe Machado Neto, afirma que o valor remunera os custos de produção, mas ressalta que poucas cooperativas recebem, especificamente, os grãos de feijão, deixando a cadeia de comercialização, na sua visão, “muito desorganizada”.
Ceretta, por sua vez, diz que o preço é “razoável”, mas pode chegar aos R$ 140,00 conforme o tipo e a qualidade da leguminosa. E, em casos de grandes propriedades com produtividade de 1,6 toneladas por hectare o produtor obtém rentabilidade satisfatória. “A tendência, com esse preço, é de que não falte feijão preto no mercado nacional por causa da produção das grandes propriedade, além da entrada safrinha”, completa, ao ser questionado sobre a necessidade de importação, como foi o caso do ano passado.
Veículo: Jornal do Comércio - RS