A Rússia tem discutido a possibilidade de fornecer até 1 milhão de toneladas de grãos para o Brasil na atual temporada, que assim substituiria em parte a oferta da Argentina, confirmou o governo russo na quinta-feira. Se o acordo for fechado, o produto não sairá dos estoques estatais russos. Uma delegação agrícola brasileira segue em Moscou avaliando a eliminação de barreiras sanitárias para que o acordo possa ser finalizado.
Os moinhos do Brasil, importante fornecedor de carne à Rússia, tem pressionado Brasília para que o governo tente obter junto aos russos melhores condições para acesso do produto nacional no país. O Brasil normalmente importa trigo da Argentina sem tarifa. Em condições normais, cerca de 90% das importações brasileiras vêm de seu vizinho sul-americano.
A Argentina, entretanto, sofreu com uma forte estiagem, que prejudicou sua produção agrícola. A safra argentina de trigo caiu pela metade, e com isso o país está restringindo as exportações. Na semana passada, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento brasileiro, Welber Barral, afirmou que o governo iria abrir uma cota livre de tarifa para o trigo fora do Mercosul a partir de março.
O Brasil tem uma tarifa comum de importação de 10% para grãos com origem fora do Mercosul.
A Rússia colheu pouco mais de 108 milhões de toneladas de grãos no ano passado, o maior volume desde 1990. No caso do trigo, houve um recorde histórico de 63,75 milhões de toneladas. O país quer exportar mais de 20 milhões de toneladas de grãos da atual temporada até 30 junho, pelo menos 50% do que nos 12 meses anteriores.
Os Estados Unidos e o Canadá são os outros dois únicos países de fora do Mercosul sem barreiras sanitárias para exportar trigo ao Brasil. A América do Norte embarcou mais de 1 milhão de toneladas ao Brasil no ano passado.
Um trader de grãos europeu afirmou na quarta-feira que os preços do trigo russo devem cair já que o país terá que vender parte de seus estoques para abrir espaço nos armazéns para a nova safra, que começará a chegar em julho. O governo russo comprou mais de 7 milhões de toneladas de grãos até agora, incluindo cerca de 4 milhões de toneladas de trigo para moagem, para seus estoques de intervenção e não mostra sinais de interromper as compras.
Veículo: Valor Econômico