Vaidade à flor da pele

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O Brasil está entre os países mais vaidosos do mundo, tanto em consumo, como em produção. Ele ocupa a terceira colocação no mercado mundial em relação ao uso de cosméticos, ficando atrás apenas do Japão e dos Estados Unidos.

 

Segundo especialistas, o consumo de cosméticos no país começa desde infância - quando as crianças começam a utilizá-los, espelhando-se nos adultos e nas atrizes mirins que aparecem na mídia -, tem um salto na adolescência e/ou juventude, quando, geralmente, as pessoas começam a namorar e também a apresentar espinhas na face. A consolidação ocorre na maturidade, quando os brasileiros - principalmente as mulheres - iniciam uma batalha contra o envelhecimento.

 

Assim como a maioria das mulheres brasileiras Alicia, de apenas sete anos, já se habituou a usar vários tipos de cosméticos. Sua mãe, Regina de Oliveira Mendes, revela que a filha constantemente pede para ela comprar cremes para a pele, xampus, esmalte de unhas e até maquiagem.

 

"Alicia adora passar maquiagem, creme de pele e para os cabelos, pintar as unhas, usar xampus de frutas e até já me pediu para pintar os cabelos! Eu, claro não deixei, pois, apesar de satisfazer determinados desejos dela, eu procuro impor limites. Afinal, ela é só uma criança", conta.

 

Alicia ajuda a fazer com que o setor de beleza seja um dos que mais movimentam a área de comércio e serviços no Brasil. O país fechou 2007 com faturamento de R$ 19,6 bilhões neste segmento, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos a (ABIHPEC).

 

Dados do Instituto de Pesquisas Euromonitor mostram que o Brasil já é o segundo maior consumidor de produtos de perfumaria, infantis, de cuidados com os cabelos, higiene oral, desodorantes e de cuidados masculinos; o terceiro mercado em produtos para o banho e protetores solares; o sétimo em cuidados da pele e o oitavo em materiais depilatórios.

 

A estudante de publicidade Ana Carolina de Mello, de 23 anos, é um exemplo de consumidora assídua de cosméticos. "Todo mês gasto cerca de R$ 550 com produtos de higiene pessoal, de cabelo e maquiagem. Se pudesse, gastaria muito mais, pois a mulher moderna precisa estar impecável para conquistar seu lugar no mercado de trabalho."

 

Ana Carolina comprova os dados apresentados pela a Associação Brasileira de Vendas Diretas (ABEVD), os quais revelam que existem mais de 80 milhões de consumidores de produtos de beleza no Brasil.

 

A grande maioria das consumidoras de cosméticos são mulheres jovens, entretanto, nos últimos anos, as mulheres mais velhas passaram a consumir em maior quantidade cosméticos que prometem retardar o envelhecimento. Prova disto foi o aumento ocorrido nas vendas de cremes que chegaram à soma de 1,7 bilhão só em 2007, um aumento de 153% em relação a 2002.

 

A revendedora da Avon Ângela Gomes, de 45 anos, revela que sua clientela aumentou 150% em dois anos, depois que passou a oferecer este tipo de cosméticos para suas freguesas.

 

"Comecei a faturar bastante depois que comprei e passei a usar cremes que ajudam a atenuar rugas e linhas de expressão. E apesar de eu mesma ter me feito de cobaia, eu adorei os resultados e as minhas clientes também. Hoje sou modelo para elas e também a prova de que estes cremes realmente fazem efeito, se usados de maneira correta e constante."

 

De acordo com o economista Pedro Silveira Bandeira, alguns fatores explicam o crescimento acelerado do setor de cosméticos no Brasil: "A maior participação da mulher no mercado de trabalho, a utilização de tecnologia de ponta e o conseqüente aumento da produtividade, favorecendo os preços praticados pelo setor, que tem aumentos menores do que os índices de preços da economia".

 

Os lançamentos constantes de novos produtos atendendo cada vez ao mercado e ao aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma impressão de juventude também contribuíram, segundo o economista, para a expansão do mercado de cosméticos brasileiro.

 

Segundo a ABIHPEC, além desses fatores a atitude das empresas fabricantes, que buscam descobrir quais os desejos e necessidades dos consumidores para orientar as pesquisas e o desenvolvimento de produtos, é outro elemento importante indicado para o crescimento do setor.

 

Fora as mulheres que tradicionalmente freqüentam os salões de beleza e clínicas de estética, o público masculino também virou alvo desse mercado, principalmente porque tem prestado mais atenção ao visual e consumido um número maior de cosméticos com regularidade, com destaque para desodorantes, perfumes, tinturas de cabelo, xampus e cremes para o rosto, mãos e corpo.

 

O representante comercial Cláudio Luizio, de 25 anos, confirma a tendência do homem moderno ao afirmar que não sai de casa sem usar pelo menos cinco tipos de cosméticos. "Não vou a lugar nenhum sem passar meus itens básicos: desodorante, hidratante para o corpo, perfume, gel para o cabelo e protetor solar. Meus amigos me chamam de vaidoso, mas não é somente vaidade, é questão de higiene, e de sobrevivência no meu emprego também, pois preciso estar com boa aparência para encontrar meus clientes", conta.

 

Já o gerente de vendas Leonardo Ribeira, de 23 anos, admite que usa cosméticos por vaidade, mas que não é um consumista assíduo: "Gosto de me sentir bem, de estar cheiroso, de estar apresentável, mas procuro não exagerar, passo apenas desodorante, creme de barbear, perfume e gel para o cabelo".

 

Com tamanho aquecimento do setor de cosméticos a taxa de crescimento econômico brasileiro em 2007 surpreendeu ao ultrapassar a barreira dos 5%, certificando o momento efervescente que vive o setor. No mercado interno, a indústria também registrou bons resultados, com um aumento médio de 7,4% em volume e 15,1% em faturamento nos últimos cinco anos. Segundo João Carlos Basílio, presidente da ABIHPEC, estima-se que o setor continue crescendo. "A previsão é de que os investimentos se mantenham em US$ 100 milhões ao ano até 2010 e sejam direcionados prioritariamente ao aumento da capacidade produtiva das fábricas já instaladas", relata Basílio.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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