Gostar de doce e de cozinhar é importante para quem pretende empreender no segmento. Mas só isso não basta. Ainda mais quando a economia está retraída, há queda de consumo, crise de confiança e aumento de custos da operação, com destaque especial para a alta dos valores cobrados pela energia, que tem grande impacto para as empresas do setor. As estratégias adotadas por empresários que vivenciam o dia a dia de um ‘doce negócio’ foram debatidas durante a 15ª edição do Encontro PME – Doce contra a crise, que ocorreu na quinta-feira passada no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Bourbon, em São Paulo.
Revisão de custos, diminuição da margem, proximidade – ainda maior – com o consumidor, expansão por meio de franquias e lançamento de novos produtos fazem parte do planejamento dos empresários. Para o diretor da Sorvetes Rochinha, Lupercio Fernandes de Moraes, por exemplo, quem pretende abrir o próprio negócio atualmente precisa ter espírito empreendedor, coragem e deve saber lidar com o erro. “Não tem mais espaço para o empreendedor empírico. O mercado tem um grau de competitividade violento.”
Segundo Moraes, aliás, ser média empresa, como é o caso da Rochinha, é a pior coisa do mundo: o negócio sai do estágio de ser pequeno e passa por um limbo de anos para ser grande. E o empreendedor empírico enfrenta dificuldade, justamente, nessa fase, quando ele precisa ter todos os departamentos de uma grande companhia, com os mesmos graus de competência, mas tem de usar a criatividade porque o dinheiro, invariavelmente, será menor.
“É preciso se preparar para ser empreendedor”, completa Moraes. A Sorvetes Rochinha e a Cuordicrema adotam, atualmente, a estratégia de reduzir a margem de lucro para enfrentar o período de retração. Do lado da Rochinha, a crise ainda não foi percebida no cotidiano do negócio.
“A marca ainda tem uma possibilidade de expansão muito grande. Se estivesse em uma situação de estabilidade estaria mais preocupado”, afirmou Moraes durante o evento. Entre as ações que ajudam a fábrica de sorvetes está o congelamento do preço praticado, o que levou a companhia a reduzir sua margem de lucro.
“Entendemos que a compra do nosso produto é de impulso. Uma dica muito importante é pensar muito bem na precificação. A pessoa não vai deixar de consumir no verão se achar o preço razoável. Mas não sabemos até quando a gente vai conseguir segurar o preço. E, de longe, não está barato. O fato é que tem dado resultado”, disse.
Mais dicas. Um dos sócios da Cuordicrema, Lorenzo Barbati, contou durante o encontro que a rede otimizou suas compras, aumentou a escala, o que reduziu os custos com a matéria-prima, e ainda fez um pequeno ajuste na margem do produto. O negócio, aliás, está em um momento particularmente desafiador, já que não é “nem pequeno, nem grande”.
“É complexo fazer essa mudança. É preciso usar as mesmas estruturas e ter soluções criativas”, disse o empresário, que trabalha com produtos feitos diariamente e enfrenta, também, o desafio de crescer em outras regiões sem fugir do conceito de produção artesanal. “Existe uma maior dificuldade de ganhar escala.”
Segundo Barbati, a marca ainda procura atualmente trabalhar com novos produtos no portfólio – ele citou tortas e bolos. “Existe a necessidade de lançar novidades para manter o interesse do consumidor ”, afirmou Barbati, que é italiano e ainda precisa lidar com as diferenças culturais que encontra no Brasil. “Duas características do empreendedor são acertar o timing e ter a capacidade de antecipar alguns movimentos do mercado.”
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo