O negócio é diversificar

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                                                 Controladora da gigante das carnes JBS leva dona da Havaianas por R$ 2,67 bilhões.

A J&F Investimentos, empresa da família Batista que controla a JBS, maior processadora de carnes do mundo, anunciou ontem um passo surpreendente: a aquisição do controle da Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Osklen, entre outras. O negócio de R$ 2,67 bilhões, fechado no domingo com o grupo Camargo Corrêa, reflete uma conjunção entre necessidade — um controlador que precisa de recursos — e oportunidade — o caixa reforçado da J&F. A confirmação do negócio foi antecipada na manhã de ontem no blog do colunista do GLOBO Lauro Jardim.

— Mais uma vez, os Batista estão surpreendendo todo mundo. Que eles são agressivos, não se discute. Mas não sei o que eles estão querendo criar, um Mitsui, ou uma Mitsubishi, esses grandes grupos japoneses que fazem de tudo? — pergunta Osler Desauzart, da OD Consulting, especializada no mercado de proteína animal, para quem um custo de oportunidade atraente pode ter sido crucial. — Os R$ 2,7 bilhões não são nem um ano de receitas da Alpargatas, que tem marcas em segmentos que podem valer mais do que isso.

Fernando Góes, sócio da consultoria Ockam, lembra que a Camargo Corrêa tem endividamento superior a R$ 20 bilhões e dificuldades de caixa decorrentes da Operação Lava-Jato. E a J&F, que já vinha diversificando seus negócios, passa a ter uma das marcas brasileiras de maior reconhecimento global, a Havaianas

— Uma empresa tinha necessidade de vender porque precisa de capital. A outra tem apetite por novos negócios e há um componente global, que é a marca Havaianas —explica Góes, ressaltando que parte da dívida da Camargo Corrêa vence a curto prazo.

O valor — que representa R$ 12,85 por ação da Alpargatas, acima dos R$ 9,73 da semana passada — será pago à vista, após aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E a J&F usará recursos próprios para liquidar a transação, a quinta maior, em dólares, feita por empresas brasileiras este ano, segundo dados obtidos junto à agência Bloomberg. Este ano, a JBS já havia comprado a processadora europeia Moy Pak, por R$ 4,6 bilhões, e a unidade de suínos da Cargill nos Estados Unidos, por US$ 1,45 bilhão. A maior parte das receitas da JBS é em dólar, ou seja, ela se beneficiou da desvalorização do real.

Analistas ressaltam experiência no varejo

Em comunicado, a J&F disse que a aquisição “agrega ao seu portfólio de negócios uma operação consolidada em um dos mais dinâmicos segmentos do mercado de bens de consumo”. Já a Camargo Corrêa disse que poderá voltar-se ao seu principal negócio: “desenvolvimento, construção e operação de infraestrutura”. Somente no acordo de leniência negociado com o Cade, a empresa se comprometeu a devolver R$ 700 milhões aos cofres públicos. No início deste mês, a Alpargatas vendeu das marcas Topper e Rainha, por R$ 48,7 milhões.

“Nossa experiência acumulada em operações globais e no desenvolvimento de marcas fortes irá impulsionar ainda mais a bem-sucedida trajetória da Alpargatas”, disse em comunicado Joesley Batista, presidente da J&F Investimentos.

A J&F informou que pretende manter o atual presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, no comando da empresa. Na Bolsa, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) avançaram 0,70%, a R$ 10,06, enquanto as preferenciais (PN, sem voto) despencaram 8,02%, a R$ 8,95. Segundo analistas, isso ocorre porque apenas os papéis ON (que são do controle da empresa) serão alvo da oferta pública.

— Foi um preço justo para uma empresa de varejo. Talvez, se a Camargo Corrêa negociasse a divisão de cimento, tivesse arrecadado mais — diz o professor de Marketing de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Juracy Parente, ressaltando que, para a Alpargatas, será bom desvincular-se da Camargo Corrêa. — Além disso, Alpargatas e JBS têm uma sinergia maior. São empresas que têm negócios no varejo, apesar de atuarem em segmentos distintos.

Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos, concorda:

— A Alpargatas não é apenas uma fabricante de calçados, mas uma companhia que se destaca pelo gerenciamento de marcas. Como a JBS, é uma empresa multimarcas. Acho que isso poderia agregar na gestão da J&F.

O desempenho da Alpargatas, aliás, vinha surpreendendo os analistas. Neste ano, até setembro, a empresa registrou receita de R$ 3,09 bilhões, uma alta de 16,7%, com forte ajuda da Havaianas. Alan Cardoso, analista da J.Safra, lembra que a divisão de sandálias do grupo tem conseguido reajustar seus preços no mercado interno, apesar da crise, e manter fortes vendas no exterior.

 



Veículo: Jornal O Globo - RJ


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