Fazer compras ou pagar contas via celular se tornou uma realidade em 2015, com quase metade dos brasileiros usando aplicações móveis para isso. Ainda assim, a inovação avança em um ritmo mais lento em alguns setores e adequação virou uma prioridade.
Conforme levantamento feito pelo MercadoPago, 45% dos consumidores no País já realizaram uma operação dessas, ante 21% em 2014. A pesquisa do braço de pagamentos do MercadoLivre, que verificou a aderência dessas ferramentas móveis em seis países latino-americanos, constatou que, no Brasil, 59% dos consumidores compraram roupas e acessórios e outros 56%, celulares. Mas, apesar da rápida mudança de hábitos, algumas barreiras seguem resistindo.
"Muitos restaurantes e cafés ainda não têm aceitação de pagamento on-line disponibilizada, e nem todos os supermercados oferecem e-commerces", observa a líder de marketing do MercadoPago no Brasil, Celina Ma.
A adoção relativamente pequena do setor de varejo alimentício fica evidente no levantamento: ainda que 23% dos brasileiros citem o desejo de comprar comida e bebidas pelo celular, apenas 23% o fazem atualmente.
"A relação do consumidor com o varejo alimentício é difícil e não permite tamanho engajamento", avalia o CEO da Zenvia, Cassio Bobsin, empresa especializada em serviços móveis. "Por isso ainda não há um número tão grande de canais digitais implementados", completa.
A adoção em ritmo mais lento, contudo, não parece diminuir o interesse das empresas de tecnologia no setor. "Temos cases de clientes [do ramo alimentício] que utilizam canais móveis para identificar seus clientes e interagir com eles ao longo do tempo", explicou Bobsin ao DCI.
"As ferramentas estão disponíveis", retoma Celina, destacando que o próprio MercadoPago possui soluções compatíveis com qualquer tipo de aplicativo e que permitiriam o processamento de pedidos e pagamentos sem o intermédio de apps de delivery de refeições.
Tendência
"Uma das barreiras é o tíquete médio baixo. Na América Latina, mais de 60% dos usuários preferem pagar compras pequenas na loja física", relembra Celina, citando um fenômeno que atinge não apenas o varejo alimentício, mas também outros setores que comercializam produtos sem tanto valor agregado. No Brasil, este percentual é um pouco menor - 47% -, mas ainda significativo.
A tendência, porém, é que tais "estranhamentos" se dissipem com o tempo, na medida em que o m-commerce se popularizar. De acordo com estudo recente da consultoria PwC, o número de consumidores brasileiros que nunca compraram um produto via celular ou smartphone equivale à 46% do total - número já menor que a média mundial (52%).
Ainda segundo o mesmo levantamento, cerca de 5% dos brasileiros pagam contas ou compram produtos no mobile diariamente e 12% semanalmente, contra 3% e 9% em nível global, respectivamente.
Em 2016, a expectativa das empresas que trabalham com pagamentos móveis é que o aumento no leque de opções incentive a adoção entre empresários. "Existem inúmeras tecnologias disponíveis para transformar o pagamento móvel: pagamentos in-app [dentro do aplicativo], compra em um clique, pagamentos diretamente em canais de mídias sociais, tudo no dispositivo móvel", lista o vice-presidente da Adyen para a América Latina, Jean Mies - que também destaca a importância disruptiva da análise dos dados amealhados - o big data - como fonte para o tomada de decisões.
Entre aqueles que já efetuaram a adequação, a palavra de ordem nos próximos meses será integrar todos os canais disponíveis. "Há essa tendência multitela", pontua Celina. "O desafio é estar tanto no mundo on-line quanto no off-line, estar em um restaurante e não precisar tirar o cartão, só pagar pelo smartphone".
SMS
De acordo com levantamento recente da Nielsen Ibope, 39% dos brasileiros que utilizam celulares possuem aparelhos que não são smartphones. Tal parcela da população também fica na mira das empresas. "O uso do SMS pessoal diminuiu, mas na área corporativa ele atinge 100% dos celulares", explica Cássio Bobsin, da Zenvia.
É justamente através do canal que a empresa - que relatou faturamento de R$ 270 milhões em 2015 - tem contribuído para engordar o m-commerce nacional. "Pela plataforma viabilizamos seguros, antivírus, conteúdos e serviços, como recuperação de crédito, que tem sido um grande mercado. Qualquer usuário de telefonia pode ter acesso", completa o CEO.
Veículo: Jornal DCI