Depois de recuar de mais de 10% no ano passado, atividade continuará enfraquecida e confecção deve cair 1,8%. Exportação e substituição de importados serão insuficientes para recompor perda.
A alta das exportações e a substituição dos importados, apostas da indústria têxtil e de vestuário para o ano, não serão suficientes para compensar a fraca demanda interna. Se o cenário não mudar, o setor tende a repetir o desempenho visto no último ano.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), a produção de vestuário deve encerrar 2016 com queda de 1,8%, totalizando 5,4 bilhões de peças. O recuo é menos intenso que o observado no ano passado, quando a produção caiu 10%, mas ainda está aquém do nível registrado em 2014, quando as confecções produziram 6,15 bilhões de peças de roupa.
"Essa imobilidade na política está se alastrando para a economia e, sem mudança, não há chance de melhora", disse o presidente da Abit, Rafael Cervone, em evento com jornalistas ontem (4).
Para ele, o desempenho do segmento no primeiro trimestre de 2016 ainda será ruim, mesmo com a substituição de importados, um dos fatores que pode ajudar a incrementar os pedidos para a indústria neste ano.
"Estamos prevendo uma alta nos pedidos com base na substituição do que era importado, mas pra isso precisa haver demanda na ponta da cadeia", lembra o dirigente.
O varejo de vestuário encerrou o último ano com queda de 8% no volume de vendas, atingindo 6,45 bilhões de peças. Para 2016, a expectativa é de perda de mais 4,8%. Com a retração, o varejo deve chegar a 6,15 bilhões de peças no ano.
A Comask, umas das principais fabricantes de jeans do País, vem perdendo margem e buscando alternativas para reduzir seus custos nos últimos anos para tentar compensar a forte queda na demanda.
"Os pedidos estão menores, principalmente na produção terceirizada para marcas com preço médio maior", revela o diretor comercial da empresa, Fábio Américo dos Santos.
Já as encomendas para lojas de departamento estão mais estáveis, mas o executivo destaca que a negociação de preço com o varejo de fast fashion é mais agressiva. Esse mercado tem no preço baixo para o consumidor final sua principal vantagem competitiva.
Com margens menores, o faturamento da Comask, que em 2014 avançou cerca de 12% frente ao ano anterior, ficou estável em 2015. Para este ano, a empresa espera faturar 10% menos, perdendo parte do avanço visto dois anos antes. Santos também conta que começou a retomar contato com compradores estrangeiros no final de 2015, sem sucesso.
"Os compradores estão inseguros quanto ao futuro do Brasil e esse componente de incerteza prejudica negociações de longo prazo", explica. Ele diz que a alternativa será negociar contratos de curto prazo.
Têxtil
O aumento de 9% previsto para a produção da indústria têxtil neste ano foi um dos poucos números positivos divulgados pela Abit ontem. No entanto, a alta não sinaliza melhora para as indústrias do segmento.
"A alta se dá sobre uma base muito ruim, porque no ano passado a indústria têxtil teve um tombo", pondera o economista da Abit, Haroldo Silva. No ano passado, a produção têxtil despencou 14,5% para 1,9 milhão de toneladas.
O presidente da Vicunha Têxtil, Ricardo Steinbruch, espera crescer em 2016 por meio dos negócios da empresa no mercado externo. Com fábricas no Equador e na Argentina, o volume de vendas da Vicunha no mercado externo cresceu cerca de 15% no ano passado. "Em 2015, nosso volume no mercado interno ficou entre 10% e 15% menor e, neste ano, não esperamos melhora."
Balança comercial
O mercado interno ainda retraído neste ano deve contribuir para melhorar o saldo da balança comercial do setor. De acordo com as projeções da Abit, as importações devem chegar a US$ 4,5 bilhões neste ano, valor 22,4% menor ante 2015. Em volume, a queda é de 21,1%, para 890 mil toneladas.
Já as exportações podem registrar avanço de 1,5% em valor, para US$ 1,1 bilhão neste ano e 5% em volume com 217 mil toneladas embarcadas.
O saldo da balança comercial do setor, que no último ano apresentou déficit de US$ 4,8 bilhões, deve chegar ao final de 2016 com US$ 3,4 bilhões negativos.
Veículo: Jornal DCI