Famílias da classe média alta se unem para economizar, comprando em grande quantidade.
A crise marcada pelo aumento da inflação, especialmente dos alimentos, mudou também a rotina de compras das famílias de classe média alta. A administradora de empresas Camila Alvim, de 39 anos, casada e com três filhos, está organizando um grupo de compras conjuntas, formado por mães do colégio Porto Seguro, onde os filhos estudam, e amigas que moram no mesmo condomínio, localizado no bairro paulistano do Morumbi. “Quem diria que a gente iria sentar para pensar sobre isso?”
Camila prepara a lista para fazer a primeira compra conjunta este mês em uma loja de atacarejo, que mistura o atacado com varejo, vendendo em grandes quantidades, mas com preços mais em conta. Camila disse que todas as participantes do grupo têm situação financeira confortável e seus maridos têm emprego estável. A decisão de reorganizar os gastos tem como principal objetivo manter o padrão de consumo. “Tudo aumenta, mas o salário não. Além disso, ninguém sabe o que vem pela frente.”
Desde setembro do ano passado, a produtora cultural Luli Hunt, de 51 anos, duas primas e uma vizinha do bairro paulistano de Sumaré mudaram seus hábito de compra: formaram um grupo e trocaram o supermercado pelo atacarejo. “Comprando grandes quantidades, consegui uma economia de 35% a 50%, dependendo do produto”, disse Luli.
Fazer compras em conjunto foi a saída encontrada pela produtora cultural para amenizar os impactos da crise. “A classe média está arrochada”, disse Luli, que já fechou seu escritório, reduziu o número de empregados e voltou a trabalhar em sua casa.
Ceagesp. A alternativa de formar grupos de compra para driblar a inflação está se disseminando também na Ceagesp, o maior entreposto de alimentos in natura do País. Desde dezembro, a empresária Raquel Luccat, de 51 anos, que mora no bairro paulistano de Higienópolis, tem comprado frutas no atacado da Ceagesp para um grupo de oito pessoas, que reúne amigas e vizinhas. “Fiz a primeira compra por causa da crise, tive a iniciativa e avisei as pessoas”, contou. Ela disse que se inspirou em sua mãe – trinta anos atrás, quando a inflação era galopante, sua mãe costumava fazer compras conjuntas de frutas e verduras.
Raquel explicou que, ao contrário das compras em conjunto de itens industrializados no atacarejo, ela não tem uma lista fixa de produtos. “Compro o que tem”, disse ela. Da última vez, ela levou para casa uma caixa de maçãs argentinas de 20 quilos. Cada fruta saiu por cerca de R$ 1, bem mais em conta do que no varejo, cujo preço da unidade estava em torno de R$ 4. Nas suas contas, a economia varia entre 50% e 70%.
José Roberto Graziano, diretor do sindicato dos permissionários da Ceagesp, o Sincaesp, notou, nos últimos tempos, um aumento no número de consumidores que compram no atacado para uso próprio. De certa forma, esses ‘novos’ compradores estão atenuando a queda de 20% nas vendas dos últimos 12 meses no atacado.
Para se adaptar aos novos tempos da economia, na semana passada, a administração da Ceagesp autorizou que cada consumidor use o seu próprio carrinho para carregar as mercadorias. Antes, o comprador só podia remover a mercadoria carregando nos braços ou contratando um carregador autônomo que chegava a cobrar pelo serviço quase o valor das compras.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo